“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

O Massacre dos Morioris

sexta-feira, 8 de setembro de 2023

 

           Alguns dos últimos representantes do povo moriori. Foto de 1910.

Nas Ilhas Chatam, 800 quilômetros a leste da Nova Zelândia, séculos de independência resultaram num fim brutal para o povo moriori, em dezembro de 1835. Em 19 de dezembro desse ano, um navio que levava 500 maoris carregados de armas, porretes e machados chegou, seguido por outro, em 5 de dezembro, com mais 400 maoris. Grupos de maoris começaram a percorrer as colônias morioris, anunciando que estes passavam a ser seus escravos e que matariam os que se opusessem. Uma resistência organizada dos morioris poderia então ter derrotado os maoris, pois tinham pelo menos o dobro do número de homens. Entretanto, os morioris tradicionalmente resolviam suas brigas de forma pacífica e decidiram, reunidos em conselho, que não lutariam, preferindo propor paz, amizade e divisão de recursos.  

Antes que os morioris pudessem apresentar essa proposta, os maoris atacaram em massa. Ao longo dos dias seguintes, mataram centenas de morioris, cozinharam e comeram muitos de seus corpos, escravizando os demais, matando a maioria deles nos anos seguintes, de acordo com seu capricho. Um sobrevivente moriori recorda: "[Os maoris] começaram a nos matar como ovelhas... [Nós] ficamos em qualquer outro lugar para escapar do inimigo. Pouco adiantou; fomos descobertos e mortos - homens, mulheres e crianças, indiscriminadamente." Um conquistador maori explicou: "Tomamos posse... de acordo com nosso costume e pegamos todo o mundo. Ninguém escapou. Alguns fugiram e foram mortos, outros foram mortos - mas o que tem isso? Foi tudo de acordo com nossos costumes."

O resultado brutal desse choque entre moriori e maori poderia ser facilmente previsto. Os morioris constituíam um grupo pequeno de caçadores-coletores que viviam isolados, dispondo apenas das mais rudimentares tecnologias e armas, totalmente inexperientes em matéria de guerra e sem qualquer tipo de liderança ou organização. Os invasores maoris (procedentes do norte da ilha de Nova Zelândia) faziam parte de uma população de numerosos agricultores cronicamente envolvidos em guerras ferozes, equipados com tecnologia e armas mais avançadas, e que agiam sob o comando de uma liderança forte. É claro que, quando os dois grupos finalmente entraram em contato, foram os maoris que chacinaram os morioris, e não o contrário.  

DIAMOND, Jared. Armas, Germes e Aço - os destinos das sociedades humanas. Tradução de Cynthia Cortes [et. al.]. Rio de Janeiro: Record, 2005, p. 53-54.

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