“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

#HJ16 O Shnorrer Comendo Caviar

sábado, 30 de novembro de 2019

Um shnorrer (mendigo arrogante) queixa-se amargamente a Rotschild de sua miséria e ganha um generoso donativo. Pouco depois o milionário o encontra num elegante restaurante, comendo caviar. Indignado, interpela-o:

- Mas como? Há pouco você me dizia que estava morrendo de fome e agora come caviar?

- Senhor Rotschild - responde o shnorrer. - Quando eu não tinha dinheiro, não podia comer caviar. Agora que tenho dinheiro não devo comer caviar. Deste jeito, quando é que vou comer caviar?

FINZI, Patricia et al. (edição, seleção e textos). Do Éden ao divã - Humor Judaico. São Paulo: Shalom, 1990, p. 48.

O Comunismo nos Estados Unidos

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

O Partido Comunista dos Estados Unidos (CPUSA) está comemorando seu aniversário de 100 anos.

Por ocasião da Revolução Bolchevique na Rússia, em 1917, americanos da ala esquerda do Partido Socialista demonstraram interesse pelo acontecimento. Por anos, os socialistas tentaram fazer com que o governo se apropriasse de todas as principais indústrias e socializasse o país, mas essa tentativa de reforma legislativa havia falhado. Foi então que, inesperadamente, em novembro de 1917, soube-se que os bolcheviques haviam tomado o poder pela via revolucionária, promovendo o socialismo imediatamente na Rússia.

Os socialistas americanos entenderam então que essa seria a fórmula para impor o socialismo nos Estados Unidos. Criaram um Partido Comunista e passaram a praticar atividades revolucionárias para sovietizar o país o quanto antes. Eles foram apoiados por John Reed, um jornalista que havia acabado de retornar da Rússia com um entusiasmo contagiante pelo comunismo mundial. 

O grupo entrou em contato com Moscou e foi convidado a enviar delegados à Rússia em março de 1919. Eles foram com o objetivo de apoiar a Terceira Internacional (uma réplica da Primeira Internacional de Marx; ambas foram criadas para fomentar a revolução mundial). Quando voltaram, começaram a sua campanha. John Reed agitou os trabalhadores através do New York Communist. Logo as fileiras comunistas incharam com os membros da antiga International Workers of the World, I. W. W., que havia empregado técnicas de sabotagem e violência durante a Primeira Guerra Mundial.

O Partido Comunista Russo enviou aos comunistas americanos C. A. Martens e uma substancial quantia de dinheiro. O plano era estabelecer células revolucionárias dentro dos sindicatos e das Forças Armadas dos Estados Unidos. À medida que o movimento progredia, representantes foram enviados à Rússia a fim de solicitar permissão para criarem o "Partido Comunista dos Trabalhadores dos Estados Unidos" como ramificação da Internacional Comunista. Posteriormente, o termo "dos Trabalhadores" foi retirado do nome do partido.

Os diretores do novo Partido Comunista assinaram "Vinte e Uma Condições para Admissão", documento que lhes causou embaraço quando o partido foi obrigado a registrar-se, em 1952, como órgão sob o controle da União Soviética. Além de passarem a se subordinarem à Internacional Comunista, uma das condições, por exemplo, obrigavam os filiados a disseminarem "vigorosa e sistemática propaganda [comunista] no exército". Se tal propagando fosse proibida, ela deveria ser efetuada por meios ilegais.

Foram compromissos básicos como esses que levaram o U.S. Subversive Activities Control Board (Comitê de Controle de Atividades Subversivas dos Estados Unidos) a declarar em 1953, após amplas audiências, que os integrantes do Partido Comunista dos Estados Unidos consideravam a lealdade devida ao seu país subordinada à sua lealdade e obrigações perante a União Soviética.   

Adaptado de SKOUSEN, W. Cleon. O Comunista Exposto - desvendando o comunismo e restaurando a liberdade. Tradução de Danilo Nogueira. Campinas, SP: Vide Editorial, 2018, p. 176-183.

Reinauguração da Capela de Santa Luzia

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Para mais informações, acesse o Portal do Centro de Vitória.

A Abundância Norte-Americana

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

A China produz mais batatas do que qualquer outro país no mundo. Apesar disso, durante a Guerra Fria, os chineses precisavam trabalhar o dobro do tempo que um americano precisava para comprar o mesmo peso em batatas. Pior que isso, os chineses precisavam trabalhar nove vezes mais do que um americano para comprar leite fresco e seis vezes mais para comprar queijo.

Os economistas têm apontado que muitas nações estrangeiras têm igual acesso a recursos e poderiam ser tão ricas quanto os Estados Unidos se estivessem dispostas a aceitar os princípios do governo e da economia que possibilitam o desenvolvimento dessa riqueza. Agentes de propaganda têm insistido que, como os Estados Unidos se tornaram extremamente ricos, deveriam dividir essa riqueza com os países pobres. Os economistas responderam apontando que aquilo de que os Estados Unidos dispõem para compartilhar com o mundo não é tanto sua riqueza, mas sim seu sistema econômico e de governo já muito verificado.

Se a riqueza dos Estados Unidos fosse espalhada pelo mundo, seria rapidamente dissipada. Por outro lado, se seu sistema de governo livre e de livre iniciativa fosse adotada por todo o mundo, as nações logo se tornariam permanentes produtoras de riqueza. Aquilo que as nações estrangeiras invejam nos Estados Unidos é a fruição de 175 anos de verdadeiro liberalismo. 

Adaptado de SKOUSEN, W. Cleon. O Comunista Exposto - desvendando o comunismo e restaurando a liberdade. Tradução de Danilo Nogueira. Campinas, SP: Vide Editorial, 2018, p. 408-409.

#HJ15 Um Rotschild em Minsk

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Mayer Amschel Rotschild (1744-1812), fundador do império bancário da família judia Rotschild.

A pobreza dos judeus da Europa Oriental os levou a idealizar a figura do milionário - em especial seu arquétipo, o barão de Rotschild - em contraste (e conflito) com os shlepers (vagabundos), shlimazels (desastrados), e, sobretudo com os shnorrers (mendigos arrogantes) de língua afiada que, baseados no princípio da ética judaica, segundo a qual a ajuda aos necessitados é um direito dos pobres e um dever dos ricos, criavam situações inusitadas que serviam de base a muitas historietas.

Rotschild está viajando por Minsk. Dá-lhe fome, e na falta de melhor lugar vai a um café judaico, onde faz uma pequena refeição. O garçom traz a conta:

- Vinte rublos por dois ovos? - indigna-se Rotschild. - É impossível! São tão raros os ovos aqui neste lugar? 

- Ovos não - replica o garçom -, mas os Rotschild são.

FINZI, Patricia et al. (edição, seleção e textos). Do Éden ao divã - Humor Judaico. São Paulo: Shalom, 1990, p. 44.

#HJ14 A Modéstia do Rabi

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Rabino Chaim Kanievsky (1928-  ) e alguns seguidores.

O milagroso rabi parecia dormir. Ao seu redor, estavam seus discípulos, reverentes, conversando em voz baixa sobre suas incomparáveis virtudes de homem santo: 

- Que piedade! Não há outro igual em toda a Polônia.

- Quem pode comparar-se a ele na caridade?

- E que serenidade de caráter! Alguém já o viu irritado? 

- Ah, e como é sábio!

E aí se calaram. O rabi então abriu um olho:

- E da minha modéstia, ninguém vai falar?

FINZI, Patricia et al. (edição, seleção e textos). Do Éden ao divã - Humor Judaico. São Paulo: Shalom, 1990, p. 39.

#15Fatos A Verdade no Nacionalismo

domingo, 24 de novembro de 2019

1. Quando os revolucionários franceses adentraram no cenário político mundial, foi com a declaração de que dali em diante a nação comandaria a lealdade do cidadão. Vinte anos mais tarde, com a expansão napoleônica e a disseminação da vontade francesa pela Europa, dois milhões jaziam mortos e uma concepção de vida política completamente nova adentrou a consciência dos europeus. Em todo o continente, movimentos nacionalistas levantaram-se contra as monarquias locais e as comunidades imperiais. 

2. Depois da desordem provocada por Napoleão, a paz. Desse momento até 1945, quando a Alemanha encontrava-se em ruínas e os países do Leste Europeu caíram sob o jugo soviético, surgiu o consenso de que a Europa havia sido dilacerada pelo nacionalismo e que, por isso, as lealdades nacionais deveriam dar lugar a outra coisa, ainda por ser definida no processo de integração europeia. 

3. O nacionalismo, como uma ideologia, é perigoso apenas à medida que as ideologias são perigosas. Preenche o espaço deixado vago pela religião e, ao fazê-lo, impele o verdadeiro crente a exaltar a ideia nacionalista e a buscar nesta concepção aquilo que ela não pode oferecer - o propósito último da vida, o caminho da redenção e o consolo para todas as aflições. Essa é a ideia nacional de Sieyès e da Alemanha nazista, mas não é a ideia de nação tal como se apresenta na vida comum do cotidiano dos europeus. 

4. Para as pessoas comuns, que vivem em livre associação com seus semelhantes, "nação" significa apenas a identidade histórica e a lealdade que as une no corpo político. Tal sentimento pode ser inflamado pela guerra, comoção civil e ideologia, e essa excitação comporta vários graus. Em condições normais, no entanto, esses sentimentos são apenas pacíficos e uma espécie de paz entre vizinhos. 

5. É porque somos capazes de definir a nossa condição de membro de uma sociedade em termos territoriais que, no Ocidente, gozamos das liberdades elementares que são, para nós, o fundamento da ordem política. Isso se remonta ao século XVIII, quando a influência do Iluminismo se espalhou amplamente pelo mundo cristão e as leis, além de seculares, se possível passaram a ser neutras em relação às diversas religiões dentro do país. 

6. Nossa herança de lei secular é preciosa e deve ser protegida contra as muitas ameaças que pesam contra ela. Por exemplo, há que se ter cuidado em relação à opinião majoritária, que pode estar errada; o desejo da maioria pode ser malévolo. O indivíduo é mais importante do que a maioria da qual discorda, e por isso ele precisa ser protegido. Oposição, discordância, livre manifestação e a solução conciliatória como regra pressupõem uma identidade comum. Tem de haver uma primeira pessoa do plural, um "nós".

7. A religião providencia essa primeira pessoa do plural, mas esse tipo de "nós" dificilmente se relaciona com a política democrática. Particularmente, não aceita a divergência entre os fiéis e os infiéis, e essa é a razão pela qual as democracias precisam de um "nós" nacional, e não um "nós" religioso ou étnico. O Estado-Nação, como o concebemos, é o subproduto da sociabilidade moldada por incontáveis acordos estabelecidos entre cidadãos que falam o mesmo idioma e vivem próximos. Isso foi absorvido pelas minorias étnicas e religiosas dentro de seu território. 

8. Ao se analisar a história mundial, notamos que onde quer que as pessoas se identifiquem em termos que não são compartilhados por seus vizinhos, o Estado, então, fracassa diante do primeiro golpe sério. Recentemente, isso ocorreu na antiga Iugoslávia, na Síria, na Somália e na Nigéria. Vemos esse fracasso na tentativa vã dos modernos Estados islâmicos de viver de acordo com a rígida sharia - todos devem aprender a lição de que, enquanto a lei secular se adapta, a lei religiosa perdura. As leis que nós criamos, ao contrário das leis divinas, são elaboradas para os nossos propósitos, e assim estamos certos daquilo que significam.  

9. A União Europeia nasceu da crença de que as guerras na Europa foram causadas pelo sentimento nacionalista e que era necessária uma nova forma de governo transnacional que unisse os povos em torno de um projeto comum em uma coexistência pacífica. Infelizmente, não é assim que as pessoas se identificam. O bloco europeu foi ampliado, permitindo aos cidadãos dos países recém-admitidos a fixarem residência em qualquer território dentro da União Europeia, aumentando o ônus dos nacionais e gerando reações extremas como o Brexit, em 2016. 

10. Ao contrário da experiência europeia, nos Estados Unidos o federalismo criou um Estado-nação. Isso aconteceu a despeito da Guerra de Secessão. A comunidade estadunidense instituiu um estado de direito secular, uma jurisdição territorial e um idioma comum em um lugar em que as pessoas reivindicavam como sendo sua pátria. Nessa comunidade, as pessoas tratavam-se como semelhantes, e não como companheiros de uma mesma classe, religião ou grupo étnico. A lei deveria funcionar dentro de fronteiras territoriais definidas por vínculos anteriores entre as pessoas, e não por qualquer burocracia transnacional. 

11. A democracia exige fronteiras, e elas precisam ser as do Estado-nação. Quaisquer modos pelos quais as pessoas venham a definir a própria identidade em termos do lugar a que pertencem têm um papel a desempenhar na consolidação do sentido de nacionalidade. Um idioma e um currículo comuns têm um efeito semelhante ao da transformação da familiaridade, da proximidade, do hábito cotidiano em fontes de um vínculo comum. 

12. O aspecto essencial sobre as nações é que crescem de baixo para cima por hábitos desenvolvidos a partir da livre associação entre vizinhos e que resultam em lealdades que são anexadas ao lugar e à sua história, e não à religião, à dinastia ou, como na Europa, a uma classe política que se autoperpetua. Nações podem mesclar-se (caso do País de Gales, Escócia e Inglaterra) ou podem dividir-se como os tchecos e eslovacos. As fronteiras nacionais podem ser vulneráveis ou seguras, mas, em todo caso, oferecem aos povos uma identidade com a qual sintetizam os seus direitos e deveres como cidadãos, e a fidelidade aos mais próximos aos quais confiam a paz cívica. 

13. Aqui reside a verdade no nacionalismo. Nossas lealdades e compromissos baseiam-se, em primeiro lugar, num território. Ele é nosso, o lugar onde estamos e onde nossos filhos viverão. Quase da mesma importância estão a história e os costumes pelos quais o território foi instituído. A história e os costumes são cada vez mais seculares, e os mitos nacionais são celebrados através de narrativas de glória, narrativas de sacrifício e narrativas de libertação. 

14. Além do exterior, a oposição à ideia de nação parte de instituições como as universidades, onde a autopercepção das sociedades europeias é externada e desenvolvida. Por quase toda a parte encontramos uma cultura de repúdio. Tomemos qualquer característica positiva de nossa herança cultural e política e encontraremos esforços combinados na mídia e na academia para colocá-la entre aspas e fazê-la parecer uma impostura ou um engodo. Um importante setor da opinião pública de esquerda tenta endossar essas críticas e convertê-las em diretrizes políticas. 

15. No campo oposto, está o conservadorismo, uma cultura de afirmação. Diz respeito às coisas que valorizamos e que queremos defender. Qualquer um que entenda o que está em jogo no conflito global atual verá que a nação é uma das coisas que devemos manter.

Adaptado de SCRUTON, Roger. Como ser um conservador. Tradução de Bruno Garschagen. 3 ed. Rio de Janeiro: Record, 2015, p. 55-68.

O Movimento Comunista é Legítimo?

sábado, 23 de novembro de 2019

Esta questão surge da outra ilusão que os comunistas criaram em nossas mentes. Fomos induzidos a aceitar a ideia de que o comunismo é uma expressão legítima de ação política. A verdade é que o comunismo é uma quadrilha criminosa. É um erro tratar o comunismo como partido político.

Grupos políticos resolvem seus problemas entrando em negociações, participando de conferências e trabalhando suas diferenças com compromissos de boa-fé que todos os partidos devem cumprir. Esse procedimento nunca funcionou com os comunistas, pois eles usam de engano, desprezo pelas leis, violação de tratados, intimidação, subversão e revoltas desveladas como ferramentas básicas de conquista. É isso que torna o comunismo uma quadrilha criminosa.

Quando percebemos que o comunismo é uma operação criminosa, muitas novas vias de ação ficam abertas diante de nós. Por exemplo, um problema criminal não é tratado por negociação e consenso, mas seguindo quatro passos:

1. Imobilizar o criminoso. 

2. Tornar o criminoso inofensivo. 

3. Ganhar sua confiança. 

4. Cuidar de sua reabilitação.

Recorde-se que essas foram as quatro etapas utilizadas para lidar com a Alemanha e o Japão quando seus líderes trilharam o caminho criminoso que precipitou a Segunda Guerra Mundial. Os Aliados ocidentais seguiram essas etapas, e a Alemanha e o Japão não só foram imobilizados e tornados inofensivos, mas também reabilitados. Depois da guerra, a Alemanha Ocidental e o Japão tornaram-se dois dos apoiadores mais próximos dos Estados Unidos.

SKOUSEN, W. Cleon. O Comunista Exposto - desvendando o comunismo e restaurando a liberdade. Tradução de Danilo Nogueira. Campinas, SP: Vide Editorial, 2018, p. 316-317.

O Professor das Sete Lições

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Ensinar significa coisas diferentes em lugares diferentes, mas há sete lições que são universais. Elas compõem um currículo nacional pelo qual os cidadãos pagam de mais maneiras do que podem imaginar, então talvez seja bom que o conheçam. As "Sete Lições" abaixo foram elaboradas por John Taylor Gatto (1935-2018), professor por mais de 30 anos e "professor do ano" da cidade de Nova York em 1989, 1990 e 1991, e de todo o estado de Nova York em 1991. 

1. A primeira lição que ensino é a confusão. Tudo que ensino está fora de contexto. Eu ensino a não-relação de tudo. Ensino desconexões, e ensino excessivamente. Mesmo nas melhores escolas, uma avaliação minuciosa do currículo e suas sequências mostrará uma falta de coerência, um conjunto de contradições internas. A lógica do pensamento escolar é de que é melhor sair da escola com um kit de jargões superficiais derivados de economia, sociologia, ciências naturais (e assim por diante) do que com entusiasmo genuíno por um assunto.

O que seres humanos buscam é sentido, não fatos desconexos, e a educação é um conjunto de códigos para extrair sentido a partir de dados brutos. Apesar disso, eu ensino a não-relação de tudo, uma infinita fragmentação, o oposto da coesão. O que eu faço tem mais relação com um programa de televisão do que com a criação de um sistema ordenado. Em um mundo em que os pais trabalham, ou se mudaram muitas vezes de emprego ou a família se mudou muitas vezes de casa, o lar é meramente um fantasma. Assim, os alunos estão muito confusos para manter uma relação familiar, e eu lhes ensino como aceitar a confusão como seu destino.  

2. Posição de classe. Ensino que as crianças são numeradas, e cada uma deve permanecer na classe correta. Numerar crianças é um empreendimento grande e lucrativo, ainda que a finalidade dessa estratégia não seja óbvia.

Em todo caso, isso não é problema meu. Meu trabalho é fazer com que gostem de ficar trancadas com outras crianças com números iguais aos seus. Ou ao menos que suportem tudo isso, que saibam levar na esportiva.

3. Indiferença. Essa é a terceira lição que ensino. Ensino que as crianças a não se importarem muito com nada, embora seja desejável parecer que se importam. Faço isso sutilmente, exigindo que se envolvam nas minhas aulas, pulando de empolgação em suas carteiras. Mas quando o sinal toca, insisto para que parem o que estamos fazendo e prossigam rapidamente para a próxima estação de trabalho. Elas devem ligar e desligar como um interruptor. Assim, os alunos nunca passam por uma experiência completa, tudo é dividido em prestações. 

4. A quarta lição que ensino é a dependência emocional. Através de riscos de caneta vermelha, sorrisos, testas franzidas, prêmios, honras e desgraças, ensino as crianças a cederem sua vontade à cadeia hierárquica adequada. A individualidade está sempre tentando se auto-afirmar entre crianças e jovens, então faço meus julgamentos grosseira e abruptamente. A individualidade é uma contradição da teoria de classes, uma maldição a todos os sistemas de classificação. 

5. Dependência intelectual. Bons alunos esperam os professores dizerem o que devem fazer. Esta é a lição mais importante de todas: devemos esperar outras pessoas, mais qualificadas do que nós, dar sentido às nossas vidas. O especialista faz todas as escolhas importantes. Somente eu, o professor, posso determinar o que meus alunos devem estudar. Ou melhor, somente as pessoas que me pagam podem tomar tais decisões, que eu então executo. Esse poder de controlar o que as crianças pensarão me permite separar alunos bem-sucedidos dos malsucedidos muito facilmente.

6. Autoestima provisória. Nosso mundo não sobreviveria a uma grande quantidade de pessoas confiantes por muito tempo, então eu ensino que o respeito próprio de uma criança deve depender da opinião de um especialista. Meus alunos são constantemente avaliados e julgados. Algumas pessoas, contudo, se surpreenderiam com quão pouco tempo e reflexão são dedicados à composição desses registros. A lição dos boletins, notas e provas é a de que as crianças não devem confiar em si mesmas ou em seus pais, mas, em vez disso, deveriam confiar na avaliação de autoridades credenciadas. É necessário que se diga às pessoas o valor que têm.

7. Não é possível esconder-se. Ensino aos alunos que estão sempre sendo observados, que todos estão sob cerrada vigilância da minha parte e dos meus colegas. Não há espaços privados para as crianças. Não há nenhum momento de privacidade. Os alunos são incentivados a delatar uns aos outros e inclusive a delatar seus próprios pais.

Essa vigilância constante e essa negação da privacidade significam que não se pode confiar em ninguém, que a privacidade não é algo legítimo. A vigilância já era respaldada em obras como República, Cidade de Deus, nas Institutas da Religião Cristã, na Nova Atlântida, no Leviatã, etc. Todos os autores desses livros, que nunca tiveram filhos, descobriram a mesma coisa: deve-se vigiar as crianças atentamente caso se queira manter uma sociedade sob um rigoroso controle central.          

Adaptado de GATTO, John Taylor. Emburrecimento programado - o currículo oculto da escolarização obrigatória. Tradução de Leonardo Araujo. Campinas, SP: Kírion, 2019, p. 41-50.

O Sucesso da Escolarização Obrigatória

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Cena do clipe da música Another Brick In The Wall (1979), da banda de rock Pink Floyd. 

As escolas não têm maus resultados. Surpreso? Não leu errado. As escolas têm resultados espetacularmente bons naquilo que têm por objetivo, e que sempre tiveram desde sua concepção. 

O sistema educacional, aperfeiçoado na Universidade de Chicago e nas faculdades de pedagogia de Columbia, Carnegie-Mellon e Havard, e financiado pelos capitães da indústria, foi projetado para garantir uma mão de obra dócil e maleável, capaz de satisfazer as demandas crescentes e dinâmicas do capitalismo corporativo. Tais "peões" precisam ser física, intelectual e emocionalmente dependentes de instituições corporativas para obter sua renda, autoestima e estímulo. Além disso, tais trabalhadores devem aprender a encontrar sentido social em suas vidas somente pela produção e consumo de bens materiais.

Segundo estatísticas do Ministério do Trabalho dos Estados Unidos, o cargo ocupado pelo maior número de indivíduos, e também o que apresentou o maior crescimento nas últimas três décadas, é o de atendente do Walmart. O segundo e o terceiro lugares é o cargo de montador de lanches no McDonald´s e no Burger King, respectivamente. A seguir está o cargo de professor do Ensino Fundamental. No início do século XX, Henry Ford queria que o salário de seus funcionários lhes garantisse atendimento médico, comida, moradia e a aquisição de carros novos. Atualmente, os capitães da indústria não se importam com isso.

Eles se importam apenas que a educação pública mantenha-se pública. Ou seja, que nós - e não eles - paguemos por ela. A pergunta que fica é: se as escolas são tão claramente bem-sucedidas para o propósito para o qual foram concebidas, por que é tão recorrente o discurso do seu suposto mau desempenho? 

A resposta é simples. O publicitário sabe que, para vender um produto ou serviço, deve-se criar uma sensação de necessidade e uma clara ideia de que essa necessidade é satisfeita exclusivamente pela compra do produto ou serviço em oferta. A impressão simplista de que o sistema educacional tem maus resultados gera uma demanda ilimitada por mais recursos para a instituição e aqueles que a sustentam: livros, professores, computadores, imóveis (e, consequentemente, editoras de livros, faculdades, produtores de computadores e construtoras) - e também por mais tempo: ampliação da pré-escola, mais tarefas de casa, anos letivos mais extensos e cursos de férias parcialmente (e logo totalmente) compulsórios.       

Referência bibliográfica: GATTO, John Taylor. Emburrecimento programado - o currículo oculto da escolarização obrigatória. Tradução de Leonardo Araujo. Campinas, SP: Kírion, 2019, p. 23-25.

Bomba Atômica, Espionagem e o FBI

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Ethel e Julius Rosenberg foram executados na prisão de Sing Sing, Nova York, no dia 19 de junho de 1953. 

John Edgar Hoover (1895-1972), diretor do FBI e personalidade número um na aplicação da lei nos Estados Unidos, lutou desde 1919 para iluminar as mentes dos governantes, bem como do público em geral sobre a natureza conspiratória do comunismo. Nesse sentido, ele foi uma grande decepção para os comunistas, que fracassaram ao tentar rotular o FBI como uma Gestapo ianque. Na maioria dos países, os líderes vermelhos foram capazes de desacreditar as agências encarregadas pelos poderes de polícia através de enxurradas de acusações de corrupção e violação das liberdades civis. No entanto, o diretor do FBI passou sua vida adulta construindo o órgão de modo que o público soubesse que tais acusações eram simplesmente falsas.

Ao longo dos anos, os americanos compreenderam que os agentes do FBI passam tanto tempo verificando suspeitos inocentes quanto caçando os culpados. O FBI havia treinado seu pessoal para ser exatamente o que os funcionários públicos devem ser: atentos, inteligentes, científicos e dedicados. De modo especial, os comunistas se assustaram como o modo silencioso e metódico utilizado pelos agentes para ir atrás dos subversivos. Com investigação cuidadosa e tratamento digno aos culpados, o FBI obteve confissões em 85% dos casos. 

Em 20 de julho de 1948, todos os principais líderes do Partido Comunista Americano foram indiciados. Foram a julgamento e os onze foram condenados. Seis de seus advogados também foram multados ou presos por desacato durante o julgamento. 

Pouco depois, o governo americano convenceu-se de que agentes de espionagem soviéticos haviam roubado informações sobre energia atômica, e o FBI recebeu jurisdição sobre o caso. Dentro de semanas, os agentes federais haviam examinado toneladas de arquivos e entrevistado centenas de funcionários com acesso "restrito" em diversas usinas atômicas. Finalmente, puderam apontar a culpa de um físico de nacionalidade britânica, Klaus Fuchs, que passara um período considerável em Los Alamos. 

A inteligência britânica entrou então em ação. Dentro de um mês, reuniram evidências de que o FBI poderia estar certo. Depois de mais um mês, já não tinham dúvidas. Em 3 de fevereiro de 1949, os britânicos anunciaram que Fuchs havia sido preso e que fizera uma confissão completa. Segundo o culpado, ele teria passado informações sobre a bomba atômica a um tal "Raymond", que o FBI descobriu ser Harry Gold. Gold fez uma confissão que esclareceu ao FBI como os soviéticos haviam se apossado de informações sobre o engenhoso mecanismo disparador da bomba atômica. Os espiões haviam roubado a informação, e deviam isso ao casal Julius e Ethel Rosenberg. 

Julius Rosenberg havia pressionado seu jovem cunhado David Greenglass, um funcionário do laboratório de energia atômica em Los Alamos, a entregar a Harry Gold e a ele próprio todas as informações básicas sobre o dispositivo de disparo sem o qual a bomba não poderia ser detonada. Greenglass preparou esboços da bomba lançada sobre Hiroshima e forneceu desenhos detalhados do detonador ótico. Os Rosenberg canalizaram então essas informações através do aparato regular de espionagem soviético. 

Quando os cientistas soviéticos receberam os dados, logo conseguiram tirar a diferença na corrida atômica e detonar a bomba russa. Isso representou um tremendo choque para o Ocidente. Os líderes comunistas tiraram proveito dessa vantagem temporária para fazer ostentar sua potência nuclear e encorajar aos governos aliados da China e da Coreia do Norte que buscassem conquistas militares. Assim, norte-coreanos e chineses passaram a se preparar para a Guerra da Coreia. 

David Greenglass foi condenado a 15 anos de prisão. O casal Rosenberg, por sua vez, foi acusado de traição e condenado à cadeira elétrica, no dia 5 de abril de 1951. O julgamento dos Rosenberg não teve nada em comum com os julgamentos antissemitas que ocorriam na mesma época, na URSS e na Tchecoslováquia. Além dos réus, o juiz e o promotor também eram judeus. Os julgamentos da era macartista não fizeram parte de uma campanha antissemita e organizações tais como o Comitê Judaico Norte-Americano defenderam a execução dos Rosenberg e procuraram distanciar-se de qualquer tipo de vínculo com os réus.

Por ocasião da condenação de Greenglass e dos Rosenberg, os Estados Unidos já estavam no meio do conflito coreano, que custaria à nação 20 bilhões de dólares e mais de 135 mil baixas. Foi um terrível capítulo da história americana que confirmou a afirmação de Hoover de que os líderes comunistas "avançam em seu programa sinistro e cruel, com a intenção de burlar e roubar aos americanos sua herança de liberdade."  

Bibliografia consultada:
BRENNER, Michael. Breve História dos Judeus. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013, p. 334-335.
SKOUSEN, W. Cleon. O Comunista Exposto - desvendando o comunismo e restaurando a liberdade. Tradução de Danilo Nogueira. Campinas, SP: Vide Editorial, 2018, p. 240-244.

#HJ13 Onde Está o Paraíso

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Garotos judeus  e seu professor estudam o Talmude em um acampamento de pessoas deslocadas em Heidenheim, Alemanha, logo após a Segunda Guerra Mundial. Créditos: Yad Vashem 

Um rabino sonhou, certa vez, que visitava o Paraíso e encontrava ali todos os justos, sentados e estudando o Talmud

- Então é assim o Paraíso? Porém, é o mesmo o que fazemos na Terra. 

E um anjo respondeu: 

- Se você crê que os justos estão no Paraíso, enganou-se. É o Paraíso que está nos justos.

FINZI, Patricia et al. (edição, seleção e textos). Do Éden ao divã - Humor Judaico. São Paulo: Shalom, 1990, p. 37.

#HJ12 Ricos e Sábios

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Perguntaram, certa vez, a um rabi se a sabedoria era mais importante do que a riqueza: 

- Sem dúvida nenhuma - respondeu o rabino.

- Sendo assim, por que então, os sábios seguem aos ricos, no lugar destes seguirem os sábios? - perguntaram novamente. 

- Porque os sábios, por serem sábios, compreendem o valor da riqueza, enquanto que os ricos, que são apenas ricos, ignoram o valor da sabedoria. 

FINZI, Patricia et al. (edição, seleção e textos). Do Éden ao divã - Humor Judaico. São Paulo: Shalom, 1990, p. 36.

#HJ11 Lição de Humildade

domingo, 17 de novembro de 2019

Um judeu ordenhando uma vaca.

Um rabino, famoso por sua habilidade em obter dádivas dos ricos, foi consultado, certa vez, se não afetava sua dignidade humilhar-se diante desta gente, mesmo que fosse para obter fundos e socorrer outras pessoas: 

- Meu filho - replicou o rabi -, existe uma ordem na natureza. Entendo que não há criatura superior ao homem e poucas são inferiores à vaca. Porém, não deve o homem inclinar-se diante da vaca para ordenhá-la?  

FINZI, Patricia et al. (edição, seleção e textos). Do Éden ao divã - Humor Judaico. São Paulo: Shalom, 1990, p. 35.

Leonor de Aquitânia (1124-1204)

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

 Leonor de Aquitânia em seu casamento com Luís VII. 
Fonte: Grandes Chroniques de France, MS. Douce 217 (fins do séc. XIV), fol. 192r. 

Ninguém fica indiferente a Leonor de Aquitânia. Ela é a mais conhecida, a mais amada ou a mais detestada das rainhas medievais. Mesmo no século XX, medievalistas sérios a rotularam como "verdadeira piranha, preocupada unicamente com o poder e com o sexo". Como certos homens detestam que mulheres ocupem o poder, esses insultos tardios provam ao menos que Leonor soube dar provas de autoridade e intervir nas lutas de seu tempo. 

Em 1137, aos treze anos de idade, Leonor perdeu seu pai, Guilherme X, duque da Aquitânia (que englobava Poitou, Gasconha, Limousin, Bas-Berry e Auvérnia). Assim, ela se tornou a herdeira mais cobiçada do Ocidente. Graças ao abade Suger, Leonor casou-se imediatamente com o futuro rei Luís VII. Após a sua coroação, Leonor marcou a política de seu marido. Por um lado, ela o engajou num combate contra Toulouse (1141), local de expansão tradicional da Aquitânia. Por outro, ela casou a sua irmã caçula, Petronille, com Raoul de Vermandois, oficial real da França. Isso visava impedi-la de vir a reclamar sua herança da Aquitânia. Contudo, tais núpcias levaram Raoul antes a repudiar sua mulher, parente do conde de Blois e da Champagne. Assim, este nobre imediatamente declarou guerra ao rei Luís VII. Provocado pela tropa real, o incêndio da igreja de Vitry pôs fim a essas operações.

Luís VII buscou expiar seus maus atos integrando, em 1147, a segunda cruzada; ele levou consigo Leonor, por quem os cronistas afirmam ser ele "perdidamente apaixonado, de modo pueril". Para esses clérigos, uma paixão assim nada poderia trazer de bom. Ela de fato azedou na Terra Santa, no decorrer de uma batalha desastrosa. Leonor ficou ao lado de seu tio Raimundo, príncipe de Antioquia, defensor da tomada de Alepo, opondo-se a Luís VII, que queria cercar Damasco, cidade até então amiga dos latinos. Essa disputa traduziu o desejo da rainha de pesar sobre as decisões militares, porém as más línguas da corte recusaram sua intervenção num campo reservado aos homens e lhe atribuíra uma ligação incestuosa com o tio. No retorno à França, foi acusada de adulterar com Godofredo, o Belo, conde de Anjou - mais tarde ela desposaria o filho dele, Henrique II Plantageneta. Sem fundamentos, esses mexericos buscavam de fato vingar-se de uma mulher que se apoderara do campo político. 

De resto, também prejudicou a reputação da rainha o fato de ser originária da longínqua e meridional Aquitânia, cujos modos eram tidos como dissolutos, e ela era neta de Guilherme IX, bígamo notório e primeiro trovador conhecido, cujas canções possuíam tons de erotismo. Leonor, cantada por Bernard de Ventadour, guardará dele o gosto pelas letras. 

Leonor só deu a Luís VII duas filhas, colocando a sucessão em perigo. Assim, o rei obteve o direito de repudiá-la, sob o pretexto de consanguinidade, no Concílio de Beaugency (1152). Quase em seguida, Leonor casou-se novamente, desta vez com Henrique II, conde de Anjou e duque da Aquitânia. Em 1154, ele foi coroado rei da Inglaterra. Leonor então pode desmentir sua pretensa esterilidade, dando à luz seis meninos e três meninas. Tantas concepções limitaram seu papel no governo real. Em 1167, o nascimento de João Sem-Terra, seu último filho, mudou a situação. 

A partir de então, Leonor buscou controlar diretamente a Aquitânia, com Ricardo Coração de Leão, seu filho predileto, em detrimento da administração autoritária de seu marido. Seus dois outros filhos, Henrique, o Jovem, e Godofredo da Bretanha, também reclamaram mais poder e riquezas. 

Em 1173, Leonor atiçou uma revolta contra Henrique II. Ela "alienou" seus filhos do rei, mas a revolta fracassou. Ela foi então presa, mantendo-se cativa até sua viuvez, ocorrida em 1189. Daí para a frente, Leonor passou a desfrutar de um poder sem precedentes. Para Ricardo Coração de Leão, que se tornou rei, ela obteve a mão de Bérengère de Navarra, filha de Sancho VI. Desta forma, as sucessivas revoltas da aristocracia gascã foram domadas. 

Na ausência de Ricardo, que havia partido numa cruzada e se tornado prisioneiro do imperador, Leonor se opôs a João Sem-Terra. Este pactuou com o inimigo Felipe Augusto, rei da França. Ela então pagou o resgate para libertar Ricardo. Com a morte deste, contudo, Leonor lutou contra seu neto Arthur da Bretanha para que João Sem-Terra subisse ao trono. Ela venceu, defendendo pessoalmente, em 1202, a cidade de Mirebeau, no Poitou. 

Em 1204, aos oitenta anos de idade, Leonor faleceu e foi enterrada na abadia de Fontevraud. Seu desaparecimento se deu quando Felipe Augusto conquistava a Normandia e o Anjou, o que coincidiu com o desmoronamento do império Plantageneta que ela havia lutado tanto para erguer.         

Bibliografia consultada: LE GOFF, Jacques (org.) Homens e Mulheres da Idade Média. Tradução de Nícia Adan Bonatti. São Paulo: Estação Liberdade, 2013, p. 179-182.

«Por que o Brasil é um País Atrasado?»

quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Baixe essa obra gratuitamente aqui.

«Péricles - o Inventor da Democracia»

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Mais uma biografia lida. Desta vez, o objeto da pesquisa foi Péricles (c. 495-429 a.C.), o estadista que emprestou o seu nome ao século V a.C., na Grécia. Poucos homens deram o seu nome a um momento da história, ainda que "o século de Péricles", segundo Barthélemy, corresponda apenas ao período entre 444 e 404 a.C. (data do fim da Guerra do Peloponeso). Para outros autores, todavia, os limites cronológicos de tal "século" são outros: 480-404 a.C. ou 462-429 a.C. (sendo esta última a data da morte de Péricles). 

Como lembou Plutarco, Péricles não devia a autoridade que exercia sobre o povo apenas ao poder de sua palavra, a sua maestria na arte de persuadir, em suma, as qualidades de orador. Ele a devia também "à reputação de que gozava e à confiança que seu modo de vida inspirava: todo mundo sabia que ele era desprendido e incorruptível" (XV, 3). Plutarco procurou contrapor o comportamento de Péricles à imagem, difundida pela tradição, do demagogo, do orador popular venal. Como estratego, o estadista ateniense era prudente, nunca se lançando de livre vontade a um combate que implicasse incertezas e muitos perigos (XVIII, 1). 

Em relação à vida privada, a fofoca mais "quente" sobre Péricles era relativa ao seu desejo excessivo por mulheres - diziam que Fídias lhe arranjava mulheres, e proporcionava encontros até mesmo na casa do escultor. Dentre todos os seus casos amorosos, destaca-se Aspásia, oriunda de Mileto. Na obra de Plutarco, ela é apresentada como uma cortesã, uma mulher livre que recebia em sua casa Sócrates e seus discípulos, e homens influentes que para lá levavam suas mulheres "para que ouvissem sua conversa" (XXIV, 5). Péricles a amava profundamente, tanto é que reconheceu seu filho ilegítimo que teve com ela após a morte de seus dois filhos. E, mais: após voltar à chefia da pólis depois de ter sido afastado, não hesitou em violar uma lei que ele próprio instituíra para permitir que seu filho com Aspásia pudesse ser inscrito em sua fratria e receber seu nome. 

Péricles preocupou-se em garantir renda para os cidadãos pobres, em primeiro lugar através dos mistos (a utilização de dinheiro público para remunerar a prestação de um serviço cívico). Por meio da mistoforia, todo cidadão, quando sorteado para exercer as funções de juiz e de conselheiro, estava a serviço da cidade. Além disso, através da atribuição de lotes de terra nas clerúquias, mas também, e talvez principalmente, oferecendo oportunidades de trabalho aos pobres da cidade, graças ao seu programa de construções públicas, Péricles beneficiou os pobres. Pela primeira vez na história, uma soberania era colocada nas mãos da comunidade dos cidadãos. 

Claude Mossé conclui lembrando que "nunca haveremos de saber ao certo quem foi Péricles, ainda mais que só nos é possível ter uma visão de sua personalidade através dos outros" (p. 235). "(...) Pode-se interpretar de várias maneiras a 'monarquia pericliana' de Tucídides: seja como um confisco do poder soberano do démos por uma personalidade hábil e forte por conta de sua capacidade de persuadir, seja como uma homenagem prestada a uma comunidade de cidadãos respeitosos do direito de expressão de cada um e entre os quais se estabelecem distinções somente com base no mérito, cidadãos verdadeiramente detentores do poder de decisão e que não hesitarão em se afastar de Péricles quando a política deste ameaçar seus interesses" (p. 239).

Referência: MOSSÉ, Claude. Péricles - o inventor da democracia. Tradução de Luciano Vieira Machado. São Paulo: Estação Liberdade, 2008.