“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Os Idiomas e os Nacionalismos

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

      Theodor Herzl (1860-1904), fundador do sionismo moderno

Estamos, hoje em dia, tão habituados à definição étnico-linguística das nações que olvidamos que essencialmente ela foi inventada em fins do século XIX. Sem examinar longamente o assunto, é suficiente recordar que os ideólogos do movimento irlandês só começaram a ligar a causa da nação irlandesa à defesa da língua gaélica algum tempo após a fundação da Liga Gaélica, em 1893; que os bascos não fundamentaram suas reivindicações nacionais em sua língua (de modo distinto de seus fueros históricos, isto é, privilégios constitucionais), até essa mesma época; que os acalorados debates sobre se a língua macedônia é mais semelhante à búlgara que à servo-croata estavam entre os últimos argumentos utilizados para decidir a qual desses dois povos os macedônios deveriam se unir. Com respeito aos judeus sionistas, eles superaram os demais, identificando a nação judaica com o hebraico, língua que judeu nenhum jamais utilizara para fins comuns desde o cativeiro da Babilônia — se é que então o fizeram. Havia acabado de ser inventada (1880) como língua de uso cotidiano diferente de uma língua sagrada e ritual ou de uma erudita língua franca — por um homem que iniciara o processo de provê-la com um vocabulário apropriado, inventando um termo hebraico para "nacionalismo"; o idioma era aprendido mais como um distintivo do compromisso com o sionismo do que como um meio de comunicação.

(...)

As linguagens escritas ligam-se íntima, mas não necessariamente, aos territórios e instituições. O nacionalismo que estabeleceu a si próprio como versão padronizada da ideologia e do programa nacional era essencialmente territorial, uma vez que seu modelo básico era o Estado territorial da Revolução Francesa, ou, de qualquer modo, aquele que mais se aproximasse de efetivar o controle político sobre um território claramente definido e seus habitantes, e que estivesse, na prática, disponível. Mais uma vez, o sionismo oferece o exemplo extremo, precisamente por ser tão claramente um programa emprestado, sem precedentes e sem conexão orgânica com a verdadeira tradição que oferecera permanência, coesão e uma indestrutível identidade ao povo judeu durante milhares de anos. Pedia a eles que adquirissem território (habitado por outro povo) — para Herzl não era sequer necessário que esse território tivesse quaisquer conexões históricas com os judeus — bem como uma linguagem que não falavam há milhares de anos. 

Eric J. Hobsbawm, Era dos Impérios (Cap. 6). 

A Outra Versão do Golpe de 1964

terça-feira, 29 de setembro de 2015


Tarefas de Casa (28/09 a 02/10)

segunda-feira, 28 de setembro de 2015


Tarefas do 6º ano A / 6º ano B:
- Alunos de recuperação: revisar os conteúdos da prova mensal e bimestral.
- Ler o Cap. 10 ("Os romanos") e fazer as tarefas das pp. 186-188, 192 e 199.

Tarefas do 7º ano:
- Questões das pp. 216-219 e ler o cap. 14.

Tarefas do 8º ano:
Atividades das pp. 213-217 (exceto o "Seja Criativo").

Tarefas do 9º ano A / 9º ano B:
Atividades das pp. 232-239. Assista: Os 50 anos do golpe de 64.

Tarefas do 1º ano (Ensino Médio):
Atividades do Mód. 16 (pp. 6-11).

Tarefas do 2º ano (Ensino Médio):
Atividades do Mód. 36 (pp. 10-16). Ler o Mód. 37.

Tarefas do 3º ano (Ensino Médio):
- Atividades do Mód. 46 (pp. 9-19). Assista: A outra versão do Golpe de 1964.

IMPORTANTE:

> As tarefas e trabalhos valem pontos de participação e devem ser apresentados, completos, na aula indicada pelo professor; 

> Além das atividades, o capítulo ou módulo em questão deve ser lido integralmente; 

> Caso o aluno tenha faltado por algum motivo justificado no dia da correção, deverá procurar o professor assim que retornar ao colégio, tendo em mãos a autorização do SOE para que seja avaliado e receba a respectiva nota. No entanto, caso tenha faltado sem justificativa no dia da correção ou da entrega dos trabalhos, será mantida a nota ZERO.

A Verdade sobre a Crise Migratória

domingo, 27 de setembro de 2015



Existem Justificativas para a Guerra?

sexta-feira, 25 de setembro de 2015


Os Hititas

quarta-feira, 23 de setembro de 2015


Embora sejam mencionados no Antigo Testamento (AT), nada se sabia dos hititas a partir dos registros seculares até o fim do século XIX. A revelação de sua história, cultura, religião e língua é uma das sagas da arqueologia moderna. 

Em 1884, Archibald Henry Sayce e William Wright afirmaram que determinados hieróglifos não decifrados que haviam sido esculpidos na rocha e inscrições em muitas partes da Ásia Menor e no norte da Síria haviam pertencido a esses povos, os heteus bíblicos (descendentes de Hete [do heb. Cheth]). Descobertas posteriores provaram que a teoria estava correta. Em 1906/7 e em 1911/12, o assiriologista Hugo Winckler conduziu escavações em Boghazköy, no centro da Ásia Menor e descobriu que a antiga capital dos heteus - Khattushash - havia sido situada ali. Ele ainda descobriu 10 mil tabletes de argila escritos em cuneiforme babilônico que pertenciam aos arquivos reais dos heteus. Até 1915, todos os textos haviam sido decifrados. 

Tempos atrás, o Dr. Rodrigo Silva dedicou um programa Evidências aos hititas: 



A origem étnica dos heteus ainda é um problema não solucionado. Como comprovou-se que eles falavam o idioma indo-europeu, alguns eruditos têm concluído que eles devem ter pertencido à mesma etnia que os gregos, medos e outros povos que falavam o idioma indo-europeu, e que estão listados na Bíblia como descendentes de Jafé. Entretanto, Gênesis 10:15 lista Hete entre os descendentes de Cam, por meio de Canaã. Os heteus chamavam a si mesmos de Neshumli, e utilizavam o termo Hattili para indicar o povo que eles haviam substituído quando foram para a Anatólia, em algum momento no início do 2º milênio. 

O povo substituído provavelmente foi o verdadeiro descendente de Hete, filho de Canaã. Esses proto-heteus foram absorvidos e deixaram o seu idioma, adotando o indo-europeu Neshumli ou hitita jafetita. 

O primeiro rei heteu de quem temos algum conhecimento é Labarnas, que reinou no fim do século XVII a.C. Naquela época, os heteus estavam firmemente estabelecidos no centro da Ásia Menor, a atual Boghazköy. O bisneto de Labarnas, Mursilis I, foi o primeiro rei heteu a invadir a Mesopotâmia. Ele conquistou a Babilônia por volta de 1550 a.C. No século seguinte, os heteus lutaram contra tribos hostis na Anatólia ao passo que, ao mesmo tempo, uma feroz luta interna era travada na família real. 

O construtor do império heteu foi Suppiluliumas, que viveu na primeira metade do século XIV a.C. Ele foi coetâneo de Amenhotep III e IV do Egito. Durante seu reinado, todo o leste da Ásia Menor se transformou em território hitita. Dois filhos de Suppiluliumas se tornaram reis, um deles sobre Carquêmis e o outro sobre Alepo. Durante esse período, o império hitita alcançou o auge do seu poder e se transformou em forte rival do Egito. O conflito entre essas duas potências mostrou-se inevitável, e finalmente estourou por volta de 1300 a.C, no reinado de Muwatallis, que lutou contra Ramsés II na famosa batalha de Cades, no Orontes. 

Essa batalha terminou empatada, embora os heteus tenham ficado com a Síria e mais alguns ganhos territoriais. Por volta de 1283 a.C., Ramsés II e Hattusilis III concluíram um tratado de amizade. Dali em diante, heteus e egípcios viveram em paz. 

No entanto, surgiu outra ameaça: os "povos do mar" (dentre eles, os filisteus), atacaram violentamente Khattushash e muitas outras cidades hititas. O império se desintegrou rapidamente, e desapareceu por volta de 1200 a.C. Na alta Mesopotâmia, todavia, alguns heteus resistiram por mais 300 anos, na forma de cidades-estado (cf. 2 Reis 7:6, que menciona que um exército de sírios que cercava Samaria fugiu ao pensar que um exército de reis dessas cidades-estado se aproximavam para libertar os israelitas). A mais conhecida é Carquêmis. Esses estados gradualmente foram aniquilados pela cruel máquina de guerra assíria nos séculos IX e VIII a.C. Embora certa influência de sua civilização tenha se feito sentir na Anatólia por muito tempo, como, por exemplo, na religião dessa região, a lembrança dos hititas foi esquecida, exceto pela Bíblia.

Bibliografia consultada: Dicionário Bíblico Adventista do Sétimo Dia. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2016, p. 619-623. 

Por que Cuba é pobre

terça-feira, 22 de setembro de 2015

A favela totalitária dos irmãos Castro

Uma dica: não é por causa do bloqueio americano.

Como escreve João Pereira Coutinho:


O embargo americano existe, sem dúvida, e deve ser condenado pelo seu óbvio anacronismo [...]. Mas é preciso acrescentar a segunda parte da frase: só existe o embargo americano. Que o mesmo é dizer: todo mundo que é mundo mantém relações com Cuba e nem assim a ilha se converteu numa espécie de Suécia do Caribe.

Antes de 1959, o problema de Cuba era a presença de relações econômicas com os Estados Unidos. Depois o problema se tornou a ausência de relações econômicas com os Estados Unidos.

O embargo americano é obsceno, mas não é a raiz da pobreza cubana. De fato, como indica Coutinho, os cubanos podem comprar produtos americanos pelo México. Podem comprar carros do Japão, eletrodomésticos da Alemanha, brinquedos da China ou até cosméticos do Brasil.

Por que não compram? Porque não têm com o que comprar. Não é um problema contábil ou monetário — o governo cubano emite moeda sem lastro nem vergonha. O que falta é oferta. Cuba oferece poucas coisas de valor para o resto do mundo. Cuba é pobre porque o trabalho dos cubanos não é produtivo.

A má notícia para os comunistas é que produtividade é coisa de empresário capitalista. Literalmente. É o capital que deixa o trabalho mais produtivo. E é pelo empreendedorismo que uma sociedade descobre e realiza o melhor emprego para o capital e o trabalho.

Mesmo quando o governo cubano permite um pouco de empreendedorismo, ele restringe a entrada de capital. Desde que assumiu o poder em 2007, Raúl Castro já fez a concessão de quase 170.000 lotes de terra não cultivada para agricultores privados. Só que faltam ferramentas e máquinas para trabalhar a terra. A importação de bens de capital é restrita pelo governo. Faltam caminhões para transportar alimentos. Os poucos que existem estão velhos e passam grande parte do tempo sendo consertados. Em 2009, centenas de toneladas de tomate apodreceram por falta de transporte.

Campanhas internacionais contra a pobreza global se esquecem dos cubanos. Parece que o uniforme dos irmãos Castro tem o poder de camuflar a pobreza em meio a discursos de conquista social. Dizem que Cuba tem medicina e educação de ponta. Ainda que fosse verdade, isso seria bom apenas para o pesquisador de ponta. E triste para o resto da população que vive longe da ponta, sem acesso a informação aberta ou aos medicamentos mais básicos, como analgésicos e antitérmicos. É como na saudosa União Soviética. A engenharia era de ponta. Colocava gente no espaço e tanques na avenida. Só não era capaz de colocar carro nas garagens nem máquina de lavar nas casas.

Cuba vai enriquecer quando a sua população se tornar mais produtiva para trabalhar e mais livre para empreender. Ou seja, quando houver capitalismo para os cubanos.


Diogo Costa 
In: Mises

Gandhi, o ocidentalizado

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Gandhi com um tear manual. Final dos anos 1920.

"A figura com a aura de santidade do Mahatma Gandhi, vestindo tanga e usando uma roca (para desencorajar a industrialização), não apenas era apoiada e financiada pelos proprietários de cotonifícios mecanizados em Ahmedabad, como ele mesmo era um advogado formado no Ocidente e visivelmente influenciado pelas ideologias dele derivadas. É totalmente impossível compreendê-lo vendo nele apenas um hindu tradicionalista. Na verdade, Gandhi ilustra bastante bem o impacto específico da era do imperialismo. Nascido numa casta relativamente modesta de comerciantes e prestamistas, anteriormente não muito associada à elite ocidentalizada que administrava a Índia sob a direção de superiores britânicos, ele adquiriu, contudo, uma educação profissional e política na Inglaterra. Por volta do final dos anos 1880, esta era uma opção tão aceita para jovens ambiciosos de seu país, que o próprio Gandhi começou a redigir um guia da vida inglesa para futuros estudantes de posses modestas como ele. Escrito em excelente inglês, aconselhava-os sobre todos os pontos, da viagem para Londres no vapor da companhia P&O e como encontrar moradia, a maneira de satisfazer às exigências da dieta dos piedosos hindus e como se acostumar com o surpreendente hábito ocidental de se barbear, em vez de recorrer a um barbeiro. Gandhi claramente não se via nem como um assimilador nem como um opositor incondicional das coisas britânicas. Como muitos pioneiros da libertação colonial fizeram desde então, durante sua estadia temporária na metrópole ele escolheu frequentar círculos ocidentais ideologicamente compatíveis — neste caso, os de vegetarianos britânicos, que certamente podiam ser considerados favoráveis também a outras causas 'progressistas'. Gandhi aprendeu sua técnica característica de mobilizar massas tradicionais para fins não tradicionais por meio da resistência passiva num ambiente criado pelo 'novo imperialismo'. Era, como se podia esperar, uma fusão de elementos ocidentais e orientais, pois ele não fez segredo de sua dívida intelectual para com John Ruskin e Tolstoi."

Eric J. Hobsbam, Era dos Impérios (Cap. 3). 

Duas denúncias do terror comunista

domingo, 20 de setembro de 2015


Vladimir Zhirinovsky denuncia o Terror soviético


Jornalista cubana confronta Benicio del Toro a propósito do filme 'Che'

«História na sala de aula», de Leandro Karnal (org.)

sábado, 19 de setembro de 2015


Publicado pela Contexto neste ano (2015), este livro reúne as reflexões de catorze historiadores brasileiros sobre o ofício de ensinar História. Leitura agradável, conta com inúmeras sugestões bibliográficas, de filmes e práticas que tornarão o ensino da "mestra da vida" mais interessante e produtivo. Foi, sem sombra de dúvidas, um dos livros mais importantes que li sobre o ensino de História.

O livro também é uma defesa das aulas de História, cuja carga horária na educação básica tem sido reduzida nos últimos anos. Isso exige do professor cada vez mais erudição e capacidade de apresentar aos jovens da era digital o patrimônio cultural da humanidade.

A Supremacia Papal - I

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Papa Francisco preside ao encerramento da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos. Basílica de São Paulo fora dos Muros, Roma (25 de janeiro de 2014). (*)
  

I. As origens da supremacia papal

      Os bispos católicos possuíam praticamente a mesma autoridade até o início do século IV. O bispo de Roma era apenas mais um ao lado dos influentes bispos de Jerusalém, Alexandria e Antioquia. Contudo, em 330, Constantino fundou Constantinopla, a futura capital do Império oriental. A partir dessa data, o bispo de Roma acabou por exercer a sua liderança naturalmente sozinho, e os romanos passaram a encará-lo naturalmente como o seu legítimo líder "temporal e espiritual" em situações de crise (Timm, 2005: p. 8). Sua liderança secular e religiosa foi reforçada a partir do ano 476, quando o último imperador do Ocidente, Rômulo Augusto, foi deposto pelos hérulos. Desde então, a lembrança e a reverência pelo Império Romano passaram a ser conservadas pela Igreja, ao qual, em certo sentido, deu continuidade. 
      É verdade que o império subsistiu no Oriente, onde a Igreja manteve-se sob a jurisdição do imperador, mas o bispo de Roma estava longe de ser submetido ao seu controle. "Os imperadores eram quase papas no Oriente, e no Ocidente os papas eram quase imperadores" (Cairns, 2008: p. 179). 
      Em 440, Leão I ascendeu ao trono episcopal, e passou a reivindicar mais explicitamente sua supremacia sobre os demais bispos. A tendência foi reforçada sobre o pontificado do papa Símaco (498-514). Alguns anos depois, o Império Romano do Oriente, a porção que sobreviveu do antigo Império Romano, reconheceu o papa como supremo líder da Cristandade. 


 II. Entre o reconhecimento e o rompimento: os imperadores bizantinos e os papas

    Foi em 533, sob o pontificado de João II (533-535), que o líder do Império Romano do Oriente, Justiniano (527-565), reconheceu oficialmente a primazia eclesiástica do papa. Contudo, somente em 538 a "Cidade Eterna" foi libertada dos ostrogodos (cristãos heréticos), pavimentando o caminho para a supremacia papal. Portanto, para um grupo de estudiosos, a data inicial da supremacia papal é 538. 
      Seguindo os passos de seu predecessor, o imperador bizantino Flávio Focas (602-610) reconheceu o papa como "a cabeça de todas as Igrejas" (Pirenne, 2010: p. 199). Entretanto, nem todos os imperadores bizantinos estavam dispostos a se sujeitarem a todos os ditames do bispo de Roma. Assim, Heraclius (610-641) e Constante II (641-668) lançaram, respectivamente, o Ecthesis (638) e o Type (648), por meio dos quais procuravam reconciliar monofisistas e ortodoxos em uma única doutrina, o monotelismo. No Sínodo de Latrão, em 649, o papa Martinho I (649-655) condenou tanto Ecthesis quanto o Type.
      Ser rotulado de herege era demais para Constante II. Por suas ordens, o exarca de Ravena deteu o papa e o enviou a Constantinopla. Lá ele foi acusado de tentar provocar uma sublevação contra o imperador nas províncias ocidentais. Aprisionado após terríveis humilhações, foi finalmente enviado para o exílio na Crimeia, onde morreu em setembro de 655. A vitória da "Nova Roma" sobre a antiga, contudo, não durou muito. Em 680, o VI Concílio ecumênico em Constantinopla, convocado por Constantino IV (668-685), condenou o monotelismo e reconheceu o papa como "chefe da principal sede da Igreja universal" (Pirenne, 2010: p. 204).
      Mais tarde, os imperadores bizantinos Leão III, o Isauriano (717-741) e seu filho reergueram a Roma do Oriente. Uma das grandes proezas de Leão III foi forçar os árabes a sustarem o cerco a Constantinopla em 718, após mais de um ano de assédio. Segundo o Henri Pirenne, esse foi "um fato histórico muito mais importante que a batalha de Poitiers" (2010: p. 207).  
      Leão III quis rematar a sua obra com uma reforma religiosa: a iconoclastia. Talvez ela pretendesse diminuir a oposição entre o cristianismo e o Islã, além de se reconciliar com as províncias orientais da Ásia Menor, onde os paulicianos eram numerosos. Após seu primeiro édito contra as imagens, em 725-726, Leão foi excomungado pelo papa Gregório II (715-731). A seguir, toda a Itália bizantina mergulhou em plena revolta.
      O sucessor do papa Gregório II, Gregório III (731-741), foi o último a solicitar a confirmação do imperador (Pirenne, 2010: p. 208 e ss.). Doravante, os papas sentiam-se suficientemente seguros para se legitimarem sem o aval do poder imperial.

III. Dificuldades no século XI: momento crítico para o papado

           Em meados do século XI, contudo, o caos pareceu se instalar na Santa Sé. O papa Bento IX terminou seu primeiro pontificado (1032-1044) ao ser expulso de Roma. Silvestre III o substituiu, mas seu pontificado durou apenas 21 dias, entre 20 de janeiro e 10 de fevereiro de 1045.  De volta a Roma, Bento IX reassumiu a cadeira de São Pedro entre abril e maio de 1045, quando vendeu o cargo por uma quantia vultosa a um homem que se tornou Gregório VI (1045-1046). Entretanto, o resistente Bento IX ainda retornaria ao cargo (1047-1048). 
          Como três papas alegavam legitimidade, o imperador do Sacro Império, Henrique III (1046-1056) convocou o Sínodo de Sutri (1046). Bento e Silvestre foram depostos. Gregório foi forçado a renunciar em favor de Clemente II (1046-1047). Este e seu sucessor, no entanto, tiveram vida curta. Mais tarde, o imperador fez outra indicação ao bispado de Roma: Bruno, o papa Leão IX (1049-1054). De toda essa confusão, o que nos interessa é que o Sínodo de Sutri assinalou "o momento mais baixo do poder do papado na Idade Média" (Cairns, 2008: p. 178).


IV. Do Grande Cisma à Contrarreforma: o papado na Baixa Idade Média
        No embate entre os papas e os imperadores bizantinos, os papas parecem ter se saído melhor. Contudo, as feridas abertas acabaram por provocar o Grande Cisma do Oriente, em 1054, quando os líderes da Igreja em Roma e em Constantinopla excomungaram-se mutuamente. A partir de então, a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa passaram a predominar, respectivamente, no Ocidente e no Oriente. A unidade da Cristandade estava definitivamente rompida.
          É importante lembrar que, do ponto de vista da supremacia espiritual, a Igreja latina nunca teve rival. Nem de longe a Igreja Ortodoxa alcançou a influência e o poder da sua equivalente romana. Mais uma vez, citamos Earle E. Cairns, para quem "no Oriente, a Igreja foi praticamente um departamento do Estado; no Ocidente, entretanto, o papa conseguira se libertar do controle temporal e até mesmo, mais tarde, assumir o controle do poder temporal" (2008: p. 166). 
           Pouco após o Grande Cisma do Oriente, o papa Nicolau II (1058-1061) convocou o Concílio de Latrão (1059), no qual mudou o método de eleição de papas, de modo que fosse eliminada a influência aristocrática romana ou imperial germânica. Para resumirmos a questão, o processo de eleição do papa passou ao controle do Colégio dos Cardeais, o que contribuiu sobremaneira para o fortalecimento do poder papal.
           O documento que melhor expressa as ambições do papado é o Dictatus Papae, escrito à época do papa Gregório VII (1073-1085). Segundo ele, a Igreja Romana deveria seus fundamentos somente a Deus; seu pontífice, o único a ser chamado de "universal", teria plena autoridade sobre todos os bispos; poderia "depor imperadores" e livrar pessoas de se sujeitarem a governantes temporais ruins. Segundo o 22º artigo do documento, jamais houve erro na Igreja Romana e, de acordo com as Escrituras, ela nunca erraria. Portanto, fica claro que Dictatus Papae "fez as reivindicações mais radicais de supremacia papal de que se tem notícia" (Cairns, 2008: p. 187).
          A pretensão de Gregório VII de sujeitar o poder temporal se deu na prática entre 1075 e 1122, na Querela das Investiduras. Essa acesa disputa entre o papado e o Sacro Império Romano Germânico num primeiro momento ameaçou a estabilidade de ambos os poderes. A Questão foi resolvida com a Concordata de Worms (1122), que estabeleceu que o papa faria a investidura espiritual dos bispos, enquanto que o imperador faria a investidura temporal. Embora essa pareça uma decisão de meio-termo, na verdade o poder papal saiu fortalecido, e a Igreja conseguiu reduzir a interferência da nobreza nas suas questões administrativas.
        No século XIV, um outro embate entre a Igreja e o Estado marcaria o Ocidente. O papa Bonifácio VIII (1294-1303), seguindo na linha da Reforma Gregoriana, procurou reafirmar a supremacia papal sobre os reis e nobres. Suas pretensões foram enunciadas na bula Unam Sanctam, de 1302. Nesse documento, Bonifácio sustentou "que é absolutamente necessário para a salvação que toda criatura humana esteja sujeita ao pontífice romano." A retomada das disputas com o poder temporal atingiu o clímax no famoso Papado de Avinhão, ou Grande Cisma do Ocidente, que estendeu-se entre 1309 e 1337. Nesse período, destacou-se o rei francês Filipe IV, o Belo (1285-1314). 
        Mal havia se recuperado desse novo cisma, o papado foi novamente golpeado pelos movimentos de John Wycliffe (1320-1384), na Inglaterra, e Jan Huss (1369-1415), na Boêmia. Apesar disso, o papado assegurou sua supremacia espiritual. No alvorecer do mundo moderno, contudo, a difusão do individualismo e do espírito crítico pelo Renascimento e pelo Humanismo dificultaram sobremaneira a posição de um clero notoriamente corrupto. Assim, a Reforma Protestante encontrou as condições necessárias para se desenvolver a representar o mais duro golpe até então enfrentado pelo papado. 
       Ainda que destituído do seu monopólio espiritual sobre a Cristandade ocidental, mais uma vez o bispo de Roma recobrou o fôlego. A Contrarreforma, organizada no Concílio de Trento (1545-1563), reafirmou os dogmas católicos e a poderosa Companhia de Jesus, responsável por converter os nativos do Novo Mundo à fé católica, jurou fidelidade absoluta ao papa. Ainda se passariam mais de dois séculos para que o poder papal fosse ferido mortalmente.

 [Leia a segunda parte do artigo AQUI]   

(*) Sobre a imagem, leia Apocalipse 20:11, Isaías 37:16 e II Tessalonicenses 2:4.

REFERÊNCIAS:

CAIRNS, E. E. O cristianismo através dos séculos. São Paulo: Vida Nova, 2008.
PIRENNE, H. Maomé e Carlos Magno. Rio de Janeiro: Contraponto / Ed. PUC-Rio, 2010.
TIMM, A. R. A importância das datas de 508 e 538 para a supremacia papal. Parousia, 2005, pp. 7-18. Originalmente publicado na Revista Teológica do Salt-Iaene 3 (jan.-jun. de 1999), pp. 40-54.

Muçulmanos radicais são uma minoria?

quinta-feira, 17 de setembro de 2015


Movimentos de Independência na América Espanhola

quarta-feira, 16 de setembro de 2015


«História da Educação no Espírito Santo», de Sebastião P. Franco et. al.

terça-feira, 15 de setembro de 2015




Publicado pela vitoriense Edufes em 2009, esse livro foi organizado por Sebastião P. Franco, professor do PPGHIS-Ufes, Regina H. S. Simões, professora do PPGE-Ufes, e Maria A. A. Salim. 

A Parte I  ("Mapeando a pesquisa histórica da educação no Espírito Santo"), conta com três artigos, sendo o primeiro; a Parte II ("Instituições escolares e formação de professores no Espírito Santo"), conta com quatro artigos; a Parte III ("Políticas públicas para a educação no Espírito Santo"), conta com cinco artigos.  

Esta revista veio preencher uma lacuna de obras mais acessíveis sobre a História da educação no Espírito Santo. Alguns artigos tratam de temas específicos, como educação rural, indígena e confessional. O artigo mais abrangente e esclarecedor é o da Prof.ª Dr.ª Izabel Cristina Novaes, do PPGE-Ufes.

Pérola da Sabedoria Imperial

segunda-feira, 14 de setembro de 2015


SE EU NÃO FOSSE IMPERADOR, DESEJARIA SER PROFESSOR. NÃO CONHEÇO MISSÃO MAIOR E MAIS NOBRE QUE A DE DIRIGIR AS INTELIGÊNCIAS JOVENS E PREPARAR OS HOMENS DO FUTURO.

Pedro de Alcântara (1825-1891), imperador do Brasil

Khamenei, o selo do Aiatolá [BBC]

domingo, 13 de setembro de 2015


Homo naledi: o elo perdido?

sexta-feira, 11 de setembro de 2015



Mais uma vez, os cientistas têm classificado símios como hominídeos. Sobre o "saco de gatos" que virou a árvore genealógica da espécie humana, leia um artigo publicado na Folha (com os comentários de Michelson Borges em colchetes). 

A Independência do Brasil

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Parte 1


Parte 2

Os nazistas eram esquerdistas

quinta-feira, 3 de setembro de 2015


Lado 'errado' da História?

quarta-feira, 2 de setembro de 2015


Oásis de liberdade no Oriente Médio

terça-feira, 1 de setembro de 2015



Israel é a única democracia do Oriente Médio. Como tal, só busca a paz e nunca iniciou uma guerra. Defender seu direito de existir é defender toda a Humanidade. Por isso eu declaro apoio Israel e me oponho ao Hamas, ao Estado Islâmico, à Al-Qaeda, ao Irã e às teocracias islâmicas. Vida longa aos filhos de Abraão!

                                                     O Exército mais íntegro do mundo

                    Discurso do Primeiro-Ministro israelense no Congresso Americano: