“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Herbert Hoover, o Humanitário

quinta-feira, 28 de março de 2024

Herbert Hoover, à direita, em 1919, posa para uma foto publicitária com o objetivo de mobilizar ajuda para a Europa do pós-guerra.
Créditos do National Archives & Records Admnistration.

O azar de Hoover foi ter sido presidente dos Estados Unidos durante a quebra da Bolsa de 1929, o que foi seguido pelo início da Grande Depressão da década de 1930. Se nunca tivesse se tornado presidente, Herbert Hoover poderia ter sido lembrado pela história como um dos homens mais humanitários do século. Não foi somente a incrível quantidade de dinheiro que ele doou para causas filantrópicas antes de se tornar presidente, mas a maneira como ele arriscou sua própria fortuna pessoal para resgatar pessoas que passavam fome na Europa, durante a Primeira Grande Guerra, que o tornou um homem único.

Por causa das barreiras, da destruição e dos distúrbios, a Grande Guerra deixara milhões de famintos espalhados pela Europa. Hoover decidiu então formar uma organização filantrópica a fim de distribuir, em larga escala, alimentos para os famintos da Europa. Todavia, percebeu que se limitasse a operação às vias comuns, ou seja, primeiro captando dinheiro com doações para então comprar os alimentos, não haveria tempo e as pessoas morreriam, enquanto ele ainda recebia as doações. Hoover decidiu comprar os alimentos antes de recebê-los, colocando sua própria fortuna pessoal em risco caso não conseguisse, posteriormente, arrecadar o dinheiro para saldar sua operação. Finalmente, vieram doações suficientes para cobrir o custo com alimentação, mas não havia, num primeiro momento, garantia alguma de que isso aconteceria quando resolveu arriscar a operação.     

SOWELL, Thomas. Os Intelectuais e a Sociedade. Tradução de Maurício G. Righi. São Paulo: É Realizações, 2011, p. 207-208.

Edmund Burke e Adam Smith

terça-feira, 26 de março de 2024

Edmund Burke (1729-1797) e Adam Smith (1723-1790): intelectuais à frente de seu tempo na defesa da liberdade.

Na Inglaterra do século XVIII, tanto Edmund Burke quanto Adam Smith foram defensores de medidas drásticas. Eles chegaram a defender a libertação das colônias da América do Norte, em vez de apoiar a guerra para mantê-las no Império Britânico. Isso contrariava a posição do governo de seu próprio país. Além disso, ambos se opuseram à escravidão. Isso, numa época em que poucos eram abolicionistas no Ocidente, e praticamente ninguém o era fora dele. Burke elaborou um plano que preparava os escravos para viver em liberdade, fornecendo-lhes propriedade para que iniciassem a vida como livres. Adam Smith apenas se opunha à escravatura como descartava, com imenso desprezo, a teoria que afirmava que os escravos negros eram inferiores aos brancos que os escravizavam.     

Bibliografia consultada: SOWELL, Thomas. Os Intelectuais e a Sociedade. Tradução de Maurício G. Righi. São Paulo: É Realizações, 2011, p. 163.

Socialistas que flertaram com o nazismo

segunda-feira, 25 de março de 2024

 

W. E. B. Du Bois (1868-1963), intelectual socialista afro-americano que flertou com o nazismo. 

Em 1932, o famoso romancista e socialista fabiano H. G. Wells conclamou os alunos de Oxford para que se tornassem "fascistas liberais" e "nazistas esclarecidos". O historiador Charles Beard estava entre os apologistas de Mussolini que viviam nas democracias ocidentais, o mesmo acontecia com a revista New Republic. O poeta Wallace Stevens chegou a justificar a invasão da Etiópia por Mussolini.

W. E. B. Du Bois ficou, durante a década de 1920, tão intrigado pelo movimento nazista que decorou com suásticas as capas de uma revista que editou, apesar dos protestos da comunidade judaica. Embora Du Bois tivesse que lidar com o problema do antissemitismo, que o nazismo implicava, ele dizia, na década de 1930, que a criação da ditadura nazista "foi absolutamente necessária para a reorganização do Estado" na Alemanha, e durante um discurso no Harlem, em 1937, declarou: "De certa forma, hoje existe mais democracia na Alemanha do que existia nos anos anteriores". O fato mais revelador é que ele via os nazistas como integrantes da esquerda. Em 1936, ele disse: "A Alemanha é hoje, ao lado da Rússia, o maior exemplo de sociedade marxista".     

SOWELL, Thomas. Os Intelectuais e a Sociedade. Tradução de Maurício G. Righi. São Paulo: É Realizações, 2011, p. 160.

Comunismo & Fascismo

sexta-feira, 22 de março de 2024

 

SOWELL, Thomas. Os Intelectuais e a Sociedade. Tradução de Maurício G. Righi. São Paulo: É Realizações, 2011, p. 150.

«O Espírito das Revoluções»

quinta-feira, 21 de março de 2024

 

Baixe essa obra gratuitamente aqui.

Filme «Crimes Ocultos»

terça-feira, 19 de março de 2024

 

Raíssa:

- Leo, você sabe o que as pessoas obtêm quando buscam a verdade? Sabe? Elas obtêm terror.

Leo:

- Raíssa, nós já estamos mortos.

***

Sinopse: Crimes Ocultos, um filme de 2015, registra a crise consciência do agente secreto da polícia soviética Leo Demidov, que perde status, poder e sua casa ao recusar denunciar sua própria mulher, Raíssa, como traidora. Leo e Raíssa unem forças ao General Mikhail Nesterov para encontrar um assassino serial que captura jovens garotos. Sua busca por justiça ameaça o acobertamento de todo um sistema imposto pelo rival de Leo, o psicopata Vasili, que insiste em dizer: "Não existem crimes no paraíso."

Crimes Ocultos foi dirigido por Daniel Espinosa. É inspirado na história real do assassinato em série de 53 crianças e jovens por Andrei Romanovich Chikatilo, entre 1978 e 1990. O filme foi proibido na Rússia de Putin, mas está disponível na plataforma Brasil Paralelo.   

O "Simplismo" de Ignaz Semmelweis

segunda-feira, 18 de março de 2024

Ignaz Semmelweis (1818-1865)

O uso indiscriminado do termo "simplista" acabou se tornando uma argumentação amplamente usada toda vez que não se dispõe de provas concretas, uma forma de desqualificar visões opostas sem a necessidade de confrontá-las com evidências ou análises. 

Portanto, com o objetivo de caracterizar uma conclusão de simplista, praticamente qualquer resposta pode ser manipulada. Isso é feito ao se expandir indefinidamente a questão, englobando dimensões que fogem ao controle explicativo em questão para, então, insinuar-se inadequação, acusando o argumento de simplista. Por exemplo, na década de 1840, o médico obstetra austríaco Ignaz Semmelweis apresentou estatísticas que mostravam uma diferença substancial, verificada nos índices de mortalidade entre mulheres nas clínicas de maternidade em Viena, quando eram examinadas por médicos que haviam lavado suas mãos antes de examiná-las e por médicos que não o tinham feito. À época, as salas de cirurgia eram tão sujas como os cirurgiões que nelas trabalhavam. Assim, o Dr. Ignaz procurava impor a todos os outros a obrigatoriedade de lavar as mãos antes de examinarem as pacientes. Porém, sua sugestão foi rejeitada essencialmente por ser simplista, fazendo uso de um tipo de argumento que está conosco ainda hoje. Ele foi desafiado a explicar por que lavar a mão de alguém afetaria a mortalidade das mulheres em trabalho de parto e, uma vez que isso aconteceu antes de a teoria bacteriana ser desenvolvida e aceita, ele não tinha como provar. Em poucas palavras, a questão fora expandida a ponto de não poder ser respondida naquele estágio do conhecimento, o que fazia qualquer resposta parecer "simplista". Todavia, a questão real não era se aquele médico, o qual se baseava em dados estatísticos, podia responder à questão mais ampla, mas se a evidência mais pontual que ele indicava sobre a questão era válida e se poderia, portanto, salvar vidas baseando-se apenas em fatos empíricos. O perigo em se cometer a falácia post hoc poderia ter sido facilmente evitado ao se continuar a colher dados a fim de verificar se o procedimento de lavagem das mãos, feito por outros médicos, reduzia os índices de mortalidade das gestantes.

É provável que o Dr. Ignaz tenha sido "cancelado" pelos seus colegas médicos por uma combinação de fatores: seu caráter orgulhoso e agressivo e, sobretudo, sua juventude - ele contava apenas 30 anos, quando pôs em xeque todo o sistema de saúde austríaco. Ignaz Semmelweis foi então internado num manicômio, com base em argumentos fraudulentos. Lá ele morreu em 1865, aos 47 anos, sozinho e deprimido.     

Bibliografia consultada:

LÓPEZ, Alberto. "Ignaz Semmelweis, o médico que descobriu como evitar contágios apenas lavando as mãos". El País, 20 de março de 2020, disponível aqui.

SOWELL, Thomas. Os Intelectuais e a Sociedade. Tradução de Maurício G. Righi. São Paulo: É Realizações, 2011, p. 134-135.