“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

A Queda de Constantinopla

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

No dia 29 de maio de 1453, os turcos otomanos conquistaram Constantinopla, capital do Império Bizantino. O último imperador da Roma do Oriente, Constantino XI Dragases (1449-1453), provavelmente morreu lutando na resistência contra os invasores otomanos. O domínio da pólvora e de armas de fogo (inclusive canhões), foi fundamental para a vitória otomana. 

A história de Bizâncio é a de uma resistência de um milênio à invasão persa e depois islâmica. Os persas, por muito tempo foram perigosos, até que o imperador Heráclio triunfou da monarquia dos sassânidas (que, aliás, pouco depois foi invadida pelos árabes). Durante muito tempo Bizâncio teve que guerrear continuamente contra os muçulmanos. Primeiramente, de meados do século VII ao início do século IX, a luta teve o objetivo de resistir à invasão muçulmana. Depois, de meados do século IX ao início do XI, a luta assumiu contornos de uma ofensiva vitoriosa a fim de levar as armas imperiais para além do Eufrates, até à Síria. Na época dos imperadores Paleólogos, no entanto, a questão passou a ser como salvar o que restava do império.  

A queda da capital imperial foi sentida como um acontecimento devastador, mas durante séculos a engenhosidade e a disciplina bizantinas haviam destruído sucessivos exércitos islâmicos notavelmente superiores numericamente. A "Nova Roma" caiu mil anos após o colapso da Roma propriamente dita - e só depois de ter sido em grande parte isolada e abandonada pelo Ocidente.        

Bibliografia consultada: 
DIEHL, Charles. Os Grandes Problemas da História Bizantina. Tradução de Frederico O. P. de Barros. São Paulo: Ed. das Américas, 1961, p. 169-170.
HANSON, Victor Davis. Por que o Ocidente Venceu - Massacre e cultura, da Grécia antiga ao Vietnã. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, p. 243.

Hitler e Stálin: Um Pacto Sinistro

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Cartum de 1939 ironia o Pacto Molotov-Ribentrop: "Até quando vai durar essa lua de mel?"

I. O Pacto de Não Agressão Germano Soviético  

"Enquanto Arther Owens levava a cabo sua missão na Holanda, o ministro das Relações Estrangeiras alemão, Joachim von Ribentrop, seguia para Moscou, onde, em dois dias de negociações, aceitou, em nome da Alemanha, a zona polonesa a leste do rio Vístula - área que compreendia as regiões mais povoadas e industrializadas do país - ao mesmo tempo em que reconheceu a soberania da União Soviética no leste da Polônia (no que era uma exigência inesperada dos soviéticos) e sobre a Lituânia. O tratado que determinava essa nova divisão da Polônia foi assinado às cinco horas da manhã de 29 de setembro [de 1939] e denominado, sem referência aos estados lituano e polonês que assim desapareciam, 'Pacto de Não Agressão Germano Soviético'. O próprio Stálin desenhou a nova fronteira no mapa, que, em seguida, assinou. Em contrapartida por Lvov, com seus poços de petróleo, estar no lado soviético, Stálin comprometeu-se a fornecer à Alemanha trezentas mil toneladas de petróleo por ano." (1) 

II. Os comunistas dos Estados Unidos ficam chocados 

"Whittaker Chambers disse que a capitulação de Stálin para seu maior inimigo era absolutamente incompreensível aos comunistas americanos. Foi só quando Chambers conversou com o ex-diretor de espionagem de Stálin na Europa Ocidental que soube a explicação oficial. O General W. G. Krivitsky disse que esse pacto demonstrava o gênio de Stálin como estrategista. Explicou que Stálin sabia que o pacto deixaria Hitler à solta na Europa, mas também sabia que, com o avanço da guerra, era provável que os países ocidentais se exaurissem de tanto lutar. Nesse momento, as tropas soviéticas podiam entrar em ação. Quase que sem dar um tiro sequer, as tropas soviéticas conseguiriam tomar a Europa toda em nome da ditadura do proletariado!" (2)

Referências: 
(1) GILBERT, Martin. A Segunda Guerra Mundial - os 2174 dias que mudaram o mundo. Tradução de Ana Luísa Faria e Miguel Serras Pereira. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014, p. 26. 
(2) SKOUSEN, W. Cleon. O Comunista Exposto - desvendando o comunismo e restaurando a liberdade. Tradução de Danilo Nogueira. Campinas, SP: Vide Editorial, 2018, p. 201.

Execuções em Massa na Polônia, 1940

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Menina polonesa chora sobre o corpo da irmã, executada a tiros pelos alemães enquanto colhia batatas, em 1939. 

A invasão da Polônia pelos alemães e pelos soviéticos, em setembro de 1939, espalhou o horror por todas as partes. Para se ter uma ideia da dimensão do pânico provocado pela barbárie desses dois exércitos, basta ver o desespero do deslocamento de civis. Os judeus que viviam em Chelu, Pultusk e Ostrów, decidiram fugir da Polônia ocupada pelos alemães para a zona soviética, atravessando o rio Bug. Ali, para seu grande espanto, encontraram judeus poloneses em fuga para o Ocidente, ansiosos por escaparem aos perigos do jugo comunista na esperança de que, como ocorrera na Primeira Guerra Mundial, o jugo alemão fosse menos pesado.  

As execuções em massa tornaram-se, em 1940, o método para dominar a população polonesa e, ao mesmo tempo, exterminar os alemães considerados indignos para sobreviver. Em 9 de janeiro, o Dr. Hildebrandt, comandante das SS e da Polícia de Danzingue e Prússia Ocidental, informou Himmler de que as unidades de choque sob seu comando haviam eliminado "cerca de quatro mil doentes incuráveis dos hospitais psiquiátricos poloneses", assim como mais de dois mil doentes mentais alemães de um hospital da Pomerânia. 

No dia 18 de janeiro, a Gestapo prendeu 255 judeus ao acaso em Varsóvia e os fuzilou nos arredores da cidade. Quatro dias depois, quando se estimava que 15 mil civis poloneses haviam sido mortos desde o início da guerra, o papa condenou "o horror e os excessos imperdoáveis cometidos contra um povo indefeso". 

No mesmo dia do discurso do papa, o general Friedrich Mieth, comandante do 1º exército alemão, disse aos seus oficiais reunidos: "A SS realizou execuções em massa sem os devidos julgamentos" - execuções que "manchavam", acrescentou, a honra do exército alemão. 

Assim que soube do discurso de Mieth, Hitler demitiu-o.

Extraído de: GILBERT, Martin. A Segunda Guerra Mundial - os 2174 dias que mudaram o mundo. Tradução de Ana Luísa Faria e Miguel Serras Pereira. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014, p. 35 e 57-58.

As Abolições da Escravidão na América

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018


Clique no mapa para visualizar mais facilmente as datas em que cada país aboliu a escravatura. Com a assinatura da Lei imperial nº 3.353 em 13 de maio de 1888 (a Lei Áurea) pela princesa Isabel, o Brasil tornou-se o último país americano a extinguir oficialmente a prática

Leia o meu artigo Heróis do Movimento Abolicionista

A Invasão da Polônia pela Alemanha

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Bombardeio de Varsóvia, em 1939.

A ofensiva alemã na Polônia em 1º de setembro de 1939 baseou-se na Blitzkrieg - guerra-relâmpago. O objetivo de Hitler ao invadir o país vizinho não era apenas recuperar os territórios perdidos em 1918, mas sujeitar o país ao jugo alemão. Assim, logo no início da invasão, aldeias polonesas inteiras foram incendiadas e reduzidas a pó. 

Em 3 de setembro, a Grã-Bretanha e a França declararam guerra à Alemanha. No dia seguinte, aviões britânicos lançaram o primeiro bombardeamento contra a Alemanha. Os pilotos britânicos foram ordenados a não pôr em risco a vida das populações civis alemãs. Os comandantes alemães, por sua vez, não deram ordens semelhantes. 

Além disso, outra guerra começara no mar, cujo desdobramento seria tumultuoso e não respeitaria quaisquer limites. No dia 5 de setembro, os submarinos alemães afundaram quatro navios mercantes desarmados da Grã-Bretanha e um da França. A resposta britânica foi rápida: o HMS Ajax, em ação nesse mesmo dia, afundou dois navios mercantes alemães que não tinham parado quando intimados pelos britânicos a fazê-lo. 

Para os judeus, os horrores mais extremos os aguardavam. Seis dias de guerra haviam mostrado que o massacre dessa minoria seria parte integrante da conquista alemã. 

A Grã-Bretanha e a França não encontraram grandes oportunidades para levar a cabo ações militares que se traduzissem em auxílio significativo à Polônia. O esforço de guerra britânico teria um cunho essencialmente defensivo. Em 7 de setembro, várias unidades militares francesas atravessaram a fronteira alemã em três pontos, mas não houve confrontos sérios. Assim, na Polônia a ofensiva alemã seguia livre e velozmente, encurralando militares e civis. No setor de Poznan, dezenove divisões polonesas foram cercadas; na batalha que se seguiu, junto ao rio Bzura, 170 mil soldados poloneses foram aprisionados. Em 9 de setembro, o coronel Eduard Wagner escreveu em seu diário que a intenção do Führer era "destruir e exterminar a nação polonesas." 

O foco dos combates deslocava-se para Varsóvia. Em 14 de setembro, os bombardeios foram particularmente intensos. Nesse dia, as forças alemãs entravam em Przemysl, no sul da Polônia, onde um terço dos habitantes eram judeus. Imediatamente, seguiram atrocidades contra essa população. 

O exército polonês, em fuga, esperava reagrupar-se na região oriental do país, nas imediações de Lvov. Contudo, uma cláusula secreta do Pacto de Não Agressão Germano-Soviético (assinado a 23 de agosto de 1939) traçava uma linha, no território polonês, a partir da qual o controle estava a cargo dos soviéticos. Assim, as tropas soviéticas receberam a ordem de ocupar o leste da Polônia, para desespero dos militares poloneses em fuga. 

Em Varsóvia, os defensores poloneses não esmoreciam, mesmo após mais de dez dias sob fogo cerrado da artilharia alemã. No dia 25 de setembro, embora o bombardeamento seguisse implacável, os poloneses ainda se recusavam a aceitar a derrota. Entretanto, dois dias depois, a resistência chegou ao fim. Às 14h de 27 de setembro, Varsóvia rendeu-se. 

O saldo da invasão alemã à Polônia foi de mais de 60 mil soldados poloneses mortos em combate; 694 mil soldados poloneses capturados pelos alemães e 217 mil presos pelos russos e 25 mil civis poloneses mortos. Do lado alemão, 14 mil soldados morreram. 

Adaptado de: GILBERT, Martin. A Segunda Guerra Mundial - os 2174 dias que mudaram o mundo. Tradução de Ana Luísa Faria e Miguel Serras Pereira. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014, p. 8-24 e 28.  

Perfil do Papa Júlio II

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Retrato do Papa Júlio II (1511), por Rafael Sanzio (1483-1520). 

"Júlio II, o criador da Santa Liga [formada por Veneza, pelo imperador Maximiliano e pelos reis Fernando e Henrique VIII, da Espanha e da Inglaterra, respectivamente], foi provavelmente o mais hábil dos papas mundanos do Renascimento. Tivesse ele aplicado os seus talentos a matérias puramente espirituais e poderia ter sido um segundo Hildebrando. Mas, adoptando as palavras de Dante, foi ele 'che fece il gran rifiuto', tomando como principal objectivo a expansão do seu poder temporal. Alguns têm querido ver nele um elementar patriotismo italiano, mas a sua aversão às intervenções estrangeiras era puramente egoísta. Foi, de diversas maneiras, esplendidamente bem sucedido, pois expulsou os Franceses de Milão, convenceu o imperador a aceitar os seus projectos para Milão e Florença, consolidou o domínio papal sobre a Romagna, submeteu os Venezianos e manteve boas relações com os Espanhóis. Ajudou a glorificar Roma, patrocinou a cultura, mas desprezou os ensinamentos de Cristo. O rosto que nos olha do magnífico retrato que dele pintou Rafael carece de fogo interior; é um rosto calculista, astuto e decidido."

GREEN, V. H. H. Renascimento e Reforma - a Europa entre 1450 e 1660. Tradução de Cardigos dos Reis. Lisboa: Dom Quixote, 1991, p. 109.

Prêmio Clio 2018

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Ao centro, Germano Esteves, um dos campeões da edição do Prêmio Clio de 2017.

I. Justificativa
"[Os estudos] podem ser dirigidos de tal maneira que propenderão ao fortalecimento e à formação do caráter. Quanto a nenhum outro estudo isto é mais verdade do que em relação ao de História." Educação, p. 238.

"A ciência dos homens no tempo", como Marc Bloch definiu a História, é fundamental para a formação cívica e humanística, bem como para a compreensão das profecias bíblicas e do mundo em que vivemos. Assim, incentivar o seu estudo, em total integração fé e ensino, fortalecerá a identidade do Colégio Adventista de Vitória e ampliará o senso crítico, a capacidade reflexiva e o respeito ao patrimônio histórico e cultural por parte de nossos alunos.

II. Definição
Prêmio Clio, já em sua quarta edição no Colégio Adventista de Vitória, premiará os alunos que mais se destacam no aprendizado da disciplina de História.

III. As fases do concurso
A seleção do Prêmio Clio se dará em duas fases.

A primeira fase ocorrerá ao longo do primeiro semestre. Salvo em casos de desistência, todos os alunos dos nonos anos do Ensino Fundamental e das turmas do Ensino Médio estão automaticamente inscritos. Ao final do segundo bimestre, os dois alunos com maior média parcial em História de cada uma dessas turmas estarão classificados para a fase seguinte.

A divulgação da lista dos classificados será feita no blog do professor, logo após o encerramento do segundo bimestre. No blog, todas as informações relativas ao certame deverão ser buscadas na categoria "Prêmio Clio", na lateral direita da página.

A segunda fase consistirá na aplicação de uma prova discursiva, baseada em bibliografia previamente indicada. A aplicação da prova se dará no início do terceiro bimestre, logo após o retorno do recesso de julho, em data ainda a ser divulgada no blog. O aluno com maior nota no exame será declarado o campeão.

Em caso de empate, em qualquer uma das fases, a nota alcançada no primeiro bimestre na disciplina de História será utilizada como critério de desempate. Persistindo o empate, a nota do segundo bimestre definirá o classificado. Em ambos os casos, as notas obtidas na recuperação não serão consideradas.

IV. Eliminação
Serão eliminados do Prêmio Clio os candidatos
- que faltem ou se atrasem para a realização da prova de seleção (a mesma não terá 2ª chamada);
- que tenham perturbado seus concorrentes, buscado informações ou consultado materiais, ou ainda utilizado qualquer aparelho eletrônico durante a aplicação da prova de seleção;
- cujos exames não forem devidamente identificados ou que não tenham sido respondidos a caneta esferográfica azul ou preta. 

Serão eliminados também os candidatos que não tenham respondido de forma minimamente satisfatória a, pelo menos, 50% das questões do exame. 

IV. Recursos
Todas as provas serão arquivadas após a correção. Poderão consultá-las apenas os candidatos que solicitarem a vista. Caso queira, o candidato poderá interpor recurso, no mesmo dia da vista da prova. A contestação, devidamente fundamentada, deverá ser enviada para o e-mail do professor (<rleiteixeira@gmail.com>). A resposta será encaminhada ao candidato em até 48 horas.

Os casos omissos deste edital serão decididos pelo professor, em conjunto com a coordenação pedagógica da instituição de ensino.

V. Premiação
Uma cesta de livros, para o vencedor, e um prêmio simbólico para o segundo e terceiro colocados. A premiação poderá ser alterada, de acordo com a decisão da administração do colégio.

Os três primeiros colocados também receberão medalhas de honra ao mérito, a serem entregues, juntamente com a premiação, numa cerimônia especial da capela.

VI.  Bibliografia indicada para a prova da segunda fase[1]

Ensino Fundamental
9º ano:
MUNDY, Susi H. & SCHURCH, Maylan. Mil cairão ao teu lado. Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2004.

Ensino Médio
1º ano:
SILVA, Rodrigo. Escavando a verdade. Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2014.

2º ano:
ROTH, Ariel A. "Quando a ciência rejeitou a Deus".
SCHWARCZ, Lilia M. & SPACCA. As barbas do imperador. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. 
SCHWARCZ, Lilia M. & SPACCA. D. João Carioca. São Paulo: Companhia das Letras, 2007. Disponível AQUI.

3º ano:
GARSCHAGEN, Bruno. Pare de Acreditar no Governo - Por que os brasileiros não confiam nos políticos e amam o Estado. Rio de Janeiro / São Paulo: Record, 2015.
KULAKOV, Mikhail P. & SCHURCH, Maylan. Ainda que caiam os céus. Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2010.



[1] Os livros que constam nesta bibliografia poderão ser tomados emprestados na biblioteca, adquiridos em livrarias como a Saraiva ou no site da Casa Publicadora Brasileira. O livro D. João Carioca e os artigos indicados estão disponíveis na internet. Em todo caso, é de inteira responsabilidade dos concorrentes reunir e estudar a bibliografia exigida para os seus respectivos exames.

O Império Marítimo de Portugal

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

O Império Marítimo de Portugal. Amplie o mapa com um clique.

"Vasco da Gama, cuja viagem foi patrocinada pelo industrioso e melómano rei D. Manuel, o Venturoso, foi um arauto do domínio imperialista. Mas os Portugueses não estavam ainda interessados em anexar novos territórios. O que eles queriam era dominar o lucrativo comércio das especiarias, da pimenta, canela, noz-moscada e cravinho, que tornavam os alimentos mais apetecíveis ao paladar do século XVI. Cerca de 1500, esse comércio estava quase inteiramente entregue aos mercadores árabes que transportavam as especiarias nos seus pangaios até aos portos do Mar Vermelho e do Golfo Pérsico; daí seguiam por terra até ao Mediterrâneo, onde passavam para as mãos dos Venezianos, que as vendiam com lucros enormes a uma Europa ávida. Os Portugueses só podiam assenhorear-se desse comércio arrebatando-o aos Árabes pela força. A estratégia magistral de Afonso de Albuquerque mostrou-se à altura dessa gigantesca tarefa. Tornou-se governador da pequena colónia estabelecida pelos Portugueses na Índia em 1509, sucedendo D. Francisco de Almeida, que já nesse mesmo ano demonstrava o valor dos galeões portugueses ao derrotar uma frota conjunta de egípcios e guzarates ao largo de Diu e ajudara assim a assegurar a supremacia portuguesa no oceano Índico. No ano seguinte Albuquerque começou a pôr em prática o seu plano de consolidação do domínio português apoderando-se da ilha de Goa, a qual poderia servir ao mesmo tempo como centro de comércio e como base naval. A conquista das ilhas de Socotorá e de Ormuz permitiu aos Portugueses dominarem os dois principais pontos extremos das estradas comerciais dos Árabes e isolarem os muçulmanos do Egipto e do Guzarate, cujas frotas ameaçavam o poderio português. Em 1511, com algum risco para Goa, dirigiu-se para oriente e foi capturar Malaca, o que ajudou os Portugueses a estabelecerem o seu domínios sobre as vias comerciais dos Árabes que cruzavam o golfo de Bengala. Dois anos depois, um navio português entrava no porto chinês de cantão, iniciando-se desse modo o lucrativo comércio com a China, o qual passaria a ter em breve a sua base na colónia portuguesa de Macau, e abrindo também assim o caminho ao ulterior comércio com o Japão (até 1590 o novo porto de Nagasáqui foi praticamente controlado por soldados e jesuítas portugueses). Finalmente, os Portugueses acabaram por ir até às ilhas das Especiarias, as Molucas, obtendo assim o controlo das fontes do mais lucrativo de todos os comércios. Esta história notável, ao longo da qual o juízo seguro, a capacidade de acção e a perspicácia de Albuquerque brilharam sempre até sua morte, em 1515, deu praticamente aos Portugueses durante décadas, o monopólio dum comércio excepcionalmente rico e as bases dum império colonial. Eles não buscavam a posse de territórios, mas pretendiam dominar todo o comércio e as rotas marítimas que o possibilitavam."      

GREEN, V. H. H. Renascimento e Reforma - a Europa entre 1450 e 1660. Tradução de Cardigos dos Reis. Lisboa: Dom Quixote, 1991, p. 81-82.

A Invasão dos Germanos

domingo, 11 de fevereiro de 2018

Clique no mapa para ampliá-lo.

Para escaparem ao domínio dos hunos, os godos pediram, em 376, asilo ao imperador Valente. No entanto, dois anos depois eles devastaram a Mésia e a Trácia, obrigando as forças do império a enfrentá-los nas proximidades de Adrianópolis. No confronto, a cavalaria gótica levou a melhor. Dois terços do exército romano incumbido de deter os godos foi destruído, e o corpo de Valente nunca foi encontrado. A partir daí, expulsar os invasores do território romano tornou-se impossível. O imperador Teodósio decidiu então torná-los foederati (federados). 

Embora tenham sido uma oportuna alternativa para Teodósio e seus sucessores em suas guerras civis e lutas contra outros germanos, os godos, liderados por Alarico, atravessaram os Bálcãs e depois penetraram na Itália. Em 408, marcharam contra Roma. 

O momento não poderia ser mais propício para um ataque ao coração do império. Em 406, o Império do Ocidente havia sofrido outra invasão, desta vez no Reno, a dos vândalos, dos suevos e dos alanos, as populações iranianas que haviam fugido diante dos hunos. Depois de terem atravessado o Reno, destruído Mainz e Trèves, os bárbaros ganharam Reims, Amiens, dirigindo-se na sequência para o sul, atravessando o Loire e expandindo-se na Gália Meridional, até aos Pireneus. Atrás deles, outros germanos aproveitaram-se da brecha para também invadir o Império Romano: os burgúndios instalaram-se perto de Spire, ao passo que os alamanos penetraram na Alsácia. Finalmente, os Pireneus não detiveram os bárbaros: em 409, vândalos, suevos e alanos espalharam-se por toda a Hispânia (Península Ibérica). Em 411, o imperador Honório foi obrigado a admitir como federados todos esses povos. 

No ano anterior (24 de agosto de 410), após um cerco de vários meses, Roma havia se rendido aos visigodos. Durante três dias, eles queimaram, pilharam e profanaram a Cidade Eterna. Depois, abandonaram a cidade, levando consigo reféns, entre os quais a irmã de Honório, Gala Placídia. Esperavam passar à África, mas o plano foi frustrado por causa da repentina morte de Alarico. 

O saque de Roma, evento inédito desde a invasão gaulesa ocorrida no século IV a.C., teve grande repercussão em todo o império, representando um grande abalo psicológico. Em Belém, São Jerônimo acolheu refugiados e Agostinho, bispo de Hipona, escreveu a célebre A Cidade de Deus. No entanto, o evento não teve um grande impacto estratégico. 

Desistindo de atravessar o estreito de Messina, os visigodos retomaram o caminho da Itália e instalaram-se, em 413, na Gália meridional. Ataúlfo, sucessor de Alarico, procurou-se apresentar-se como sucessor dos césares, desposando a cativa Gala Placídia. Pouco depois, no entanto, foi assassinado e Honório concedeu aos visigodos o status de federados, com a obrigação de combater os vândalos na Espanha. 

Entre 417 e 423, a situação estabilizava-se. O sucessor de Honório, Valentiniano III, herdou um império enfraquecido, mas não despedaçado. A crença no fim do mundo, revigorada após o saque de Roma em 410, era afastada. 

Na Gália, o lugar-tenente do imperador, Écio, conseguiu alojar os visigodos ao sul e os francos sálios ao norte. Ele também fixou os alanos no Orléanais e os burgúndios na Spaudia, entre Genebra e Lyon. Por outro lado, não se pôde intervir nem na Hispânia e nem na África, onde Genserico desembarcou em 429. De Tânger a Hipona, os vândalos semearam o terror. A tomada de Cartago, em 439, teve muito mais consequências do que o saque de Roma. Além de perder seu "celeiro", os romanos também viram desaparecer a sua frota e, consequentemente, seu controle do Mediterrâneo. O Império do Ocidente ficou então isolado do Oriente. Na sequência, os vândalos conquistaram as ilhas do Mediterrâneo ocidental e, em 455, saquearam a própria Roma. Mais uma vez, por três dias a Cidade Eterna conheceu os horrores da pilhagem, mas desta vez por bárbaros que para sempre ficariam associados à destruição do patrimônio público e privado. 

Bibliografia consultada: RICHÉ, Pierre. Grandes Invasões e Impérios - Séculos V a X. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1980, p. 71-76.