“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

A Invasão dos Germanos

domingo, 11 de fevereiro de 2018

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Para escaparem ao domínio dos hunos, os godos pediram, em 376, asilo ao imperador Valente. No entanto, dois anos depois eles devastaram a Mésia e a Trácia, obrigando as forças do império a enfrentá-los nas proximidades de Adrianópolis. No confronto, a cavalaria gótica levou a melhor. Dois terços do exército romano incumbido de deter os godos foi destruído, e o corpo de Valente nunca foi encontrado. A partir daí, expulsar os invasores do território romano tornou-se impossível. O imperador Teodósio decidiu então torná-los foederati (federados). 

Embora tenham sido uma oportuna alternativa para Teodósio e seus sucessores em suas guerras civis e lutas contra outros germanos, os godos, liderados por Alarico, atravessaram os Bálcãs e depois penetraram na Itália. Em 408, marcharam contra Roma. 

O momento não poderia ser mais propício para um ataque ao coração do império. Em 406, o Império do Ocidente havia sofrido outra invasão, desta vez no Reno, a dos vândalos, dos suevos e dos alanos, as populações iranianas que haviam fugido diante dos hunos. Depois de terem atravessado o Reno, destruído Mainz e Trèves, os bárbaros ganharam Reims, Amiens, dirigindo-se na sequência para o sul, atravessando o Loire e expandindo-se na Gália Meridional, até aos Pireneus. Atrás deles, outros germanos aproveitaram-se da brecha para também invadir o Império Romano: os burgúndios instalaram-se perto de Spire, ao passo que os alamanos penetraram na Alsácia. Finalmente, os Pireneus não detiveram os bárbaros: em 409, vândalos, suevos e alanos espalharam-se por toda a Hispânia (Península Ibérica). Em 411, o imperador Honório foi obrigado a admitir como federados todos esses povos. 

No ano anterior (24 de agosto de 410), após um cerco de vários meses, Roma havia se rendido aos visigodos. Durante três dias, eles queimaram, pilharam e profanaram a Cidade Eterna. Depois, abandonaram a cidade, levando consigo reféns, entre os quais a irmã de Honório, Gala Placídia. Esperavam passar à África, mas o plano foi frustrado por causa da repentina morte de Alarico. 

O saque de Roma, evento inédito desde a invasão gaulesa ocorrida no século IV a.C., teve grande repercussão em todo o império, representando um grande abalo psicológico. Em Belém, São Jerônimo acolheu refugiados e Agostinho, bispo de Hipona, escreveu a célebre A Cidade de Deus. No entanto, o evento não teve um grande impacto estratégico. 

Desistindo de atravessar o estreito de Messina, os visigodos retomaram o caminho da Itália e instalaram-se, em 413, na Gália meridional. Ataúlfo, sucessor de Alarico, procurou-se apresentar-se como sucessor dos césares, desposando a cativa Gala Placídia. Pouco depois, no entanto, foi assassinado e Honório concedeu aos visigodos o status de federados, com a obrigação de combater os vândalos na Espanha. 

Entre 417 e 423, a situação estabilizava-se. O sucessor de Honório, Valentiniano III, herdou um império enfraquecido, mas não despedaçado. A crença no fim do mundo, revigorada após o saque de Roma em 410, era afastada. 

Na Gália, o lugar-tenente do imperador, Écio, conseguiu alojar os visigodos ao sul e os francos sálios ao norte. Ele também fixou os alanos no Orléanais e os burgúndios na Spaudia, entre Genebra e Lyon. Por outro lado, não se pôde intervir nem na Hispânia e nem na África, onde Genserico desembarcou em 429. De Tânger a Hipona, os vândalos semearam o terror. A tomada de Cartago, em 439, teve muito mais consequências do que o saque de Roma. Além de perder seu "celeiro", os romanos também viram desaparecer a sua frota e, consequentemente, seu controle do Mediterrâneo. O Império do Ocidente ficou então isolado do Oriente. Na sequência, os vândalos conquistaram as ilhas do Mediterrâneo ocidental e, em 455, saquearam a própria Roma. Mais uma vez, por três dias a Cidade Eterna conheceu os horrores da pilhagem, mas desta vez por bárbaros que para sempre ficariam associados à destruição do patrimônio público e privado. 

Bibliografia consultada: RICHÉ, Pierre. Grandes Invasões e Impérios - Séculos V a X. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1980, p. 71-76.

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