“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

O Império Marítimo de Portugal

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

O Império Marítimo de Portugal. Amplie o mapa com um clique.

"Vasco da Gama, cuja viagem foi patrocinada pelo industrioso e melómano rei D. Manuel, o Venturoso, foi um arauto do domínio imperialista. Mas os Portugueses não estavam ainda interessados em anexar novos territórios. O que eles queriam era dominar o lucrativo comércio das especiarias, da pimenta, canela, noz-moscada e cravinho, que tornavam os alimentos mais apetecíveis ao paladar do século XVI. Cerca de 1500, esse comércio estava quase inteiramente entregue aos mercadores árabes que transportavam as especiarias nos seus pangaios até aos portos do Mar Vermelho e do Golfo Pérsico; daí seguiam por terra até ao Mediterrâneo, onde passavam para as mãos dos Venezianos, que as vendiam com lucros enormes a uma Europa ávida. Os Portugueses só podiam assenhorear-se desse comércio arrebatando-o aos Árabes pela força. A estratégia magistral de Afonso de Albuquerque mostrou-se à altura dessa gigantesca tarefa. Tornou-se governador da pequena colónia estabelecida pelos Portugueses na Índia em 1509, sucedendo D. Francisco de Almeida, que já nesse mesmo ano demonstrava o valor dos galeões portugueses ao derrotar uma frota conjunta de egípcios e guzarates ao largo de Diu e ajudara assim a assegurar a supremacia portuguesa no oceano Índico. No ano seguinte Albuquerque começou a pôr em prática o seu plano de consolidação do domínio português apoderando-se da ilha de Goa, a qual poderia servir ao mesmo tempo como centro de comércio e como base naval. A conquista das ilhas de Socotorá e de Ormuz permitiu aos Portugueses dominarem os dois principais pontos extremos das estradas comerciais dos Árabes e isolarem os muçulmanos do Egipto e do Guzarate, cujas frotas ameaçavam o poderio português. Em 1511, com algum risco para Goa, dirigiu-se para oriente e foi capturar Malaca, o que ajudou os Portugueses a estabelecerem o seu domínios sobre as vias comerciais dos Árabes que cruzavam o golfo de Bengala. Dois anos depois, um navio português entrava no porto chinês de cantão, iniciando-se desse modo o lucrativo comércio com a China, o qual passaria a ter em breve a sua base na colónia portuguesa de Macau, e abrindo também assim o caminho ao ulterior comércio com o Japão (até 1590 o novo porto de Nagasáqui foi praticamente controlado por soldados e jesuítas portugueses). Finalmente, os Portugueses acabaram por ir até às ilhas das Especiarias, as Molucas, obtendo assim o controlo das fontes do mais lucrativo de todos os comércios. Esta história notável, ao longo da qual o juízo seguro, a capacidade de acção e a perspicácia de Albuquerque brilharam sempre até sua morte, em 1515, deu praticamente aos Portugueses durante décadas, o monopólio dum comércio excepcionalmente rico e as bases dum império colonial. Eles não buscavam a posse de territórios, mas pretendiam dominar todo o comércio e as rotas marítimas que o possibilitavam."      

GREEN, V. H. H. Renascimento e Reforma - a Europa entre 1450 e 1660. Tradução de Cardigos dos Reis. Lisboa: Dom Quixote, 1991, p. 81-82.

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