segunda-feira, 21 de setembro de 2015
Gandhi com um tear manual. Final dos anos 1920.
"A figura com a aura de santidade do Mahatma Gandhi, vestindo tanga e usando uma roca (para desencorajar a industrialização), não apenas era apoiada e financiada pelos proprietários de cotonifícios mecanizados em Ahmedabad, como ele mesmo era um advogado formado no Ocidente e visivelmente influenciado pelas ideologias dele derivadas. É totalmente impossível compreendê-lo vendo nele apenas um hindu tradicionalista. Na verdade, Gandhi ilustra bastante bem o impacto específico da era do imperialismo. Nascido numa casta relativamente modesta de comerciantes e prestamistas, anteriormente não muito associada à elite ocidentalizada que administrava a Índia sob a direção de superiores britânicos, ele adquiriu, contudo, uma educação profissional e política na Inglaterra. Por volta do final dos anos 1880, esta era uma opção tão aceita para jovens ambiciosos de seu país, que o próprio Gandhi começou a redigir um guia da vida inglesa para futuros estudantes de posses modestas como ele. Escrito em excelente inglês, aconselhava-os sobre todos os pontos, da viagem para Londres no vapor da companhia P&O e como encontrar moradia, a maneira de satisfazer às exigências da dieta dos piedosos hindus e como se acostumar com o surpreendente hábito ocidental de se barbear, em vez de recorrer a um barbeiro. Gandhi claramente não se via nem como um assimilador nem como um opositor incondicional das coisas britânicas. Como muitos pioneiros da libertação colonial fizeram desde então, durante sua estadia temporária na metrópole ele escolheu frequentar círculos ocidentais ideologicamente compatíveis — neste caso, os de vegetarianos britânicos, que certamente podiam ser considerados favoráveis também a outras causas 'progressistas'. Gandhi aprendeu sua técnica característica de mobilizar massas tradicionais para fins não tradicionais por meio da resistência passiva num ambiente criado pelo 'novo imperialismo'. Era, como se podia esperar, uma fusão de elementos ocidentais e orientais, pois ele não fez segredo de sua dívida intelectual para com John Ruskin e Tolstoi."
Eric J. Hobsbam, Era dos Impérios (Cap. 3).
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