“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Bomba Atômica, Espionagem e o FBI

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Ethel e Julius Rosenberg foram executados na prisão de Sing Sing, Nova York, no dia 19 de junho de 1953. 

John Edgar Hoover (1895-1972), diretor do FBI e personalidade número um na aplicação da lei nos Estados Unidos, lutou desde 1919 para iluminar as mentes dos governantes, bem como do público em geral sobre a natureza conspiratória do comunismo. Nesse sentido, ele foi uma grande decepção para os comunistas, que fracassaram ao tentar rotular o FBI como uma Gestapo ianque. Na maioria dos países, os líderes vermelhos foram capazes de desacreditar as agências encarregadas pelos poderes de polícia através de enxurradas de acusações de corrupção e violação das liberdades civis. No entanto, o diretor do FBI passou sua vida adulta construindo o órgão de modo que o público soubesse que tais acusações eram simplesmente falsas.

Ao longo dos anos, os americanos compreenderam que os agentes do FBI passam tanto tempo verificando suspeitos inocentes quanto caçando os culpados. O FBI havia treinado seu pessoal para ser exatamente o que os funcionários públicos devem ser: atentos, inteligentes, científicos e dedicados. De modo especial, os comunistas se assustaram como o modo silencioso e metódico utilizado pelos agentes para ir atrás dos subversivos. Com investigação cuidadosa e tratamento digno aos culpados, o FBI obteve confissões em 85% dos casos. 

Em 20 de julho de 1948, todos os principais líderes do Partido Comunista Americano foram indiciados. Foram a julgamento e os onze foram condenados. Seis de seus advogados também foram multados ou presos por desacato durante o julgamento. 

Pouco depois, o governo americano convenceu-se de que agentes de espionagem soviéticos haviam roubado informações sobre energia atômica, e o FBI recebeu jurisdição sobre o caso. Dentro de semanas, os agentes federais haviam examinado toneladas de arquivos e entrevistado centenas de funcionários com acesso "restrito" em diversas usinas atômicas. Finalmente, puderam apontar a culpa de um físico de nacionalidade britânica, Klaus Fuchs, que passara um período considerável em Los Alamos. 

A inteligência britânica entrou então em ação. Dentro de um mês, reuniram evidências de que o FBI poderia estar certo. Depois de mais um mês, já não tinham dúvidas. Em 3 de fevereiro de 1949, os britânicos anunciaram que Fuchs havia sido preso e que fizera uma confissão completa. Segundo o culpado, ele teria passado informações sobre a bomba atômica a um tal "Raymond", que o FBI descobriu ser Harry Gold. Gold fez uma confissão que esclareceu ao FBI como os soviéticos haviam se apossado de informações sobre o engenhoso mecanismo disparador da bomba atômica. Os espiões haviam roubado a informação, e deviam isso ao casal Julius e Ethel Rosenberg. 

Julius Rosenberg havia pressionado seu jovem cunhado David Greenglass, um funcionário do laboratório de energia atômica em Los Alamos, a entregar a Harry Gold e a ele próprio todas as informações básicas sobre o dispositivo de disparo sem o qual a bomba não poderia ser detonada. Greenglass preparou esboços da bomba lançada sobre Hiroshima e forneceu desenhos detalhados do detonador ótico. Os Rosenberg canalizaram então essas informações através do aparato regular de espionagem soviético. 

Quando os cientistas soviéticos receberam os dados, logo conseguiram tirar a diferença na corrida atômica e detonar a bomba russa. Isso representou um tremendo choque para o Ocidente. Os líderes comunistas tiraram proveito dessa vantagem temporária para fazer ostentar sua potência nuclear e encorajar aos governos aliados da China e da Coreia do Norte que buscassem conquistas militares. Assim, norte-coreanos e chineses passaram a se preparar para a Guerra da Coreia. 

David Greenglass foi condenado a 15 anos de prisão. O casal Rosenberg, por sua vez, foi acusado de traição e condenado à cadeira elétrica, no dia 5 de abril de 1951. O julgamento dos Rosenberg não teve nada em comum com os julgamentos antissemitas que ocorriam na mesma época, na URSS e na Tchecoslováquia. Além dos réus, o juiz e o promotor também eram judeus. Os julgamentos da era macartista não fizeram parte de uma campanha antissemita e organizações tais como o Comitê Judaico Norte-Americano defenderam a execução dos Rosenberg e procuraram distanciar-se de qualquer tipo de vínculo com os réus.

Por ocasião da condenação de Greenglass e dos Rosenberg, os Estados Unidos já estavam no meio do conflito coreano, que custaria à nação 20 bilhões de dólares e mais de 135 mil baixas. Foi um terrível capítulo da história americana que confirmou a afirmação de Hoover de que os líderes comunistas "avançam em seu programa sinistro e cruel, com a intenção de burlar e roubar aos americanos sua herança de liberdade."  

Bibliografia consultada:
BRENNER, Michael. Breve História dos Judeus. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013, p. 334-335.
SKOUSEN, W. Cleon. O Comunista Exposto - desvendando o comunismo e restaurando a liberdade. Tradução de Danilo Nogueira. Campinas, SP: Vide Editorial, 2018, p. 240-244.

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