“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Atenas de Péricles, a Escola da Grécia

domingo, 10 de novembro de 2019

Reconstituição da Acrópole de Atenas, século V a.C. 

O sábio Anaxágoras de Clazômenas (c. 500-428 a.C.) foi o verdadeiro mestre de Péricles (c. 495-429 a.C.). O estadista ateniense também seguiu as lições de Zenão de Eléia (c. 490-430 a.C.). Zenão teria inventado a dialética, uma forma de raciocínio que, partindo de ideias aceitas, procurava examinar a coerência das consequências que delas derivavam. 

Anáxagoras de Clazômenas teria ensinado a Péricles se elevar acima da superstição. O sábio era influente nos meios cultos de Atenas, onde se podiam comprar seus livros por uma quantia relativamente modesta. 

Segundo Plutarco, Péricles também se comprazia em discutir com Protágoras de Abedera. A segunda visita desse sofista a Atenas despertou grande interesse. A reunião, ocorrida na casa de Cálias, contou com a presença de outras duas figuras célebres, Hípias de Élis (443-399 a.C.) e Pródico de Ceos (465-395 a.C.). Platão faz de Protágoras um teórico da democracia. 

Os sofistas, e, em primeiro lugar, Protágoras, se pretendiam antes de mais nada educadores. Ensinar a virtude e a politiké techné, como reivindicava Protágoras, era louvável. Porém, havia também o perigo de formar políticos capazes de defender qualquer coisa, e seu contrário também. De qualquer forma, alguns sofistas contribuíram para o desenvolvimento de um pensamento racional, se não racionalista.

Em sua maioria, os sofistas eram estrangeiros atraídos a Atenas pelo ambiente criado pelo círculo de relações de Péricles. Dois sofistas atenienses famosos foram Crítias (460-403 a.C.), tio de Platão, e Antifonte (c. 480 - c. 410 a.C.), que também foi um orador. 

A História também teria nascido na Atenas de Péricles, com Heródoto (485-465 a.C.) e Tucídides (460-400 a.C.), sendo que o primeiro não era ateniense. Se Heródoto buscava "o motivo que levou gregos e bárbaros a entrarem em guerra uns contra os outros", a ambição de Tucídides era maior, uma vez que desejava extrair do relato dos acontecimentos "um saber para sempre". Ao mesmo tempo, ambos buscavam compreender os acontecimentos, submetendo-os a um esquema de interpretação que se valia antes da razão humana que das contingências do acaso. 

Nas Guerras Médicas (499-449 a.C.), é a Heródoto que se deve a valorização das duas figuras representativas do combate pela libertação da Grécia, Milcíades (550-489 a.C.) e Temístocles (524-460 a.C.). Heródoto não se fecha numa visão dogmática. Ele defendeu o patriotismo dos Alcmeônidas contra a acusação de terem tomado partido dos persas em Maratona. Mas, nem por isso deixa de colocar o leitor como árbitro de certos conflitos internos e de certas fraquezas de uns e de outros protagonistas. 

O procedimento de Tucídides, por outro lado, é totalmente diferente. Ele construiu o seu relato de forma rigorosa, sendo admirado por gerações pela acuidade de seu pensamento e pela riqueza de sua reflexão. Mais do que contar a Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.), ele, direta ou indiretamente, intervém no relato para julgar, explicitar, criticar. 

As palavras atribuídas a Péricles por Tucídides ajustam-se perfeitamente à imagem que ele iria dar do homem que esteve à frente de Atenas, no momento em que ele desapareceria da vida política. Exprimem, portanto, sua própria visão da situação da pólis. 

De resto, Tucídides representa para nós um meio de penetrar no coração do pensamento grego do século V a.C. E por Péricles ter destaque nessa obra, e porque podemos entrever traços de sua personalidade nas palavras que o historiador lhe atribui, Tucídides permanece para o historiador atual uma fonte incomparável.    

Bibliografia consultada: MOSSÉ, Claude. Péricles - o inventor da democracia. Tradução de Luciano Vieira Machado. São Paulo: Estação Liberdade, 2008, p. 172-184.

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