“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

A Queda da Babilônia (539 a.C.)

domingo, 29 de setembro de 2024

LIVRO I

CLXXXIX. Ciro, marchando contra Babilônia, chegou às margens do Gindo. Este rio nasce nos montes Macianos, e depois de atravessar o país dos dardaneus deságua no Tigre, que passa ao longo da cidade de Ópis e desemboca, por sua vez, no mar de Eritréia. Enquanto Ciro procurava atravessar o Gindo (não pôde fazê-lo em barcas), um dos seus cavalos brancos, considerados sagrados, impelido pelo ardor, saltou na água e esforçou-se por ganhara margem oposto; mas a forte correnteza arrastou-o, afogando-o. Ciro, indignado com a afronta do rio, ameaçou-o de torná-lo tão fraco que, dali em diante, até as mulheres poderiam atravessá-lo sem molhar os joelhos. Assim dizendo, suspendeu a expedição contra Babilônia, dividiu o exército em dois corpos, traçou com uma corda, ao longo do rio, cento e oitenta canais em diversos sentidos, fazendo, em seguida, cavá-los pelas tropas. Conseguiu realizar tão vultosa empresa por haver empregado um número imenso de soldados, mas isso lhe ocupou as tropas durante todo o verão.

CXC. Tendo-se vingado do Gindo cortando-o em trezentos e sessenta canais, continuou a marcha para Babilônia ao anunciar-se a segunda primavera. Os babilônios, pondo suas tropas em campo, esperaram de pé firme. Mal o inimigo apareceu nas vizinhanças da cidade, deram-lhe batalha, mas, batidos, encerraram-se atrás das muralhas.

Como sabiam, de longa data, que Ciro não ficaria sossegado e que atacaria igualmente todas as nações, os babilônios haviam reunido de antemão provisões para muitos anos. Por conseguinte, o cerco não os inquietava de maneira alguma. Ciro encontrava-se em grande embaraço: cercava a praça há muito tempo e não tinha conseguido outra vantagem que a do primeiro dia.

CXCI. Finalmente, ou porque concluísse por si mesmo sobre o que devia fazer, ou porque alguém, vendo-o em dificuldades, o aconselhasse, o príncipe tomou a seguinte resolução: colocou o exército, parte no ponto onde o Eufrates penetra na Babilônia, parte no local onde o rio deixa o país, com ordem de invadir a cidade pelo leito do mesmo, logo que se tornasse vadeável. Com o exército assim distribuído, dirigiu-se para o lago, com algumas tropas menos aguerridas. Ali chegando, a exemplo do que fizera a rainha Nitócris, desviou as águas do rio para o lago pelo canal de comunicação. As águas se escoaram, e o leito do rio facilitou a passagem. Sem perda de tempo, os persas postados nas margens entraram na cidade, com as águas do rio dando apenas pelas coxas. Se os babilônios tivessem sido instruídos com antecedência sobre o propósito de Ciro, ou se o percebessem no momento da execução, poderiam ter feito perecer todo o exército, evitando a invasão da cidade; bastaria fechar as portas que conduzem ao rio e atacá-lo do muro marginal; os soldados seriam apanhados como peixes na rede. A verdade é que os persas surgiram quando eram menos esperados, e, a acreditar no depoimento dos babilônios, quando os pontos extremos da cidade já se achavam em poder do inimigo, os defensores que se encontravam na parte central ainda não tinham conhecimento disso, tão grande era ela. No momento em que se deu a invasão, os babilônios estravam realizando um festim, e, longe de imaginar que um perigo iminente os ameaçava, entregavam-se aos prazeres e às danças. Quando se inteiraram da situação, era demasiado tarde. Assim Babilônia foi tomada pela primeira vez.

HERÓDOTO. História. Estudo crítico de Vítor de Azevedo e tradução de J. Brito Broca. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d, p. 81-82. 

Aspectos da Sociedade Persa

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

LIVRO I

CXXXVI. Depois das virtudes guerreiras, encaram como grande mérito o ter muitos filhos. O rei gratifica todos os anos os casais prolíficos. A razão dessa tendência para uma prole numerosa está em considerarem os persas que a força viril é demonstrada pelo grande número de filhos. Estes eles começam a instruir aos cinco anos de idade, e daí até os vinte só lhes ensinam três coisas que consideram as mais importantes: montar a cavalo, atirar com o arco e dizer a verdade. Antes de completar cinco anos, um filho não se apresenta ao pai; permanece sempre junto à mãe e sob os cuidados dela. Adotam esse costume para que, no caso do filho morrer criança, a perda não cause desgosto ao pai.

CXXXVII. Tal costume me parece louvável. Aprovo também a lei que não permite a ninguém, nem mesmo ao rei, mandar matar um homem por um só crime, nem a nenhum persa punir rigorosamente um dos seus escravos por uma só falta. Se depois de refletido exame o senhor achar que as faltas do servo são em maior número e mais consideráveis do que os serviços, pode então dar expansão à sua cólera. Asseguram os persas nunca ter alguém, entre eles, matado o pai ou a mãe, pois todas as vezes que se tem notícia de um tal crime, descobre-se, depois de rigorosas pesquisas, que o filho criminosos, ou era suposto ou adulterino. Isso porque os persas não podem admitir a possibilidade de um homem matar o verdadeiro autor dos seus dias.

CXXXVIII. Não lhes é permitido falar das coisas que não podem fazer. Nada lhes parece mais vergonhoso do que a mentira, e depois da mentira, contrair dívidas; isto por várias razões, mas sobretudo porque quem possui dívidas mente por força. Um cidadão contaminado da lepra branca não pode entrar na cidade e nem ter qualquer espécie de contato com o resto dos persas, pois veem nisso uma prova de haver o indivíduo pecado contra o Sol. Todo estrangeiro atacado desse mal é afastado do país; e, pela mesma razão, não podem tolerar os pombos brancos. Não urinam nem escarram nos rios; ali não lavam nem mesmo as mãos e nem permitem que alguém o faça, pois adotam o culto dos rios.

HERÓDOTO. História. Estudo crítico de Vítor de Azevedo e tradução de J. Brito Broca. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d, p. 69. 

«O Fim está Sempre Próximo»

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

 

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A Questão de Olivença

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Na sexta-feira, o ministro da Defesa Nacional de Portugal, Nuno Melo, afirmou que a localidade de Olivença é portuguesa, e "não se abdica" dos "direitos quando são justos". Quando foi eurodeputado, Nuno defendeu esta questão, da qual não abre mão.

Olivença é uma cidade na zona raiana reivindicada por direito por Portugal, desde o Tratado de Alcanizes, em 1297. Porém, a Espanha a anexou e mantém integrada na província de Badajoz, na comunidade autônoma da Estremadura, apesar de ter reconhecido a soberania portuguesa sobre a cidade quando subscreveu o Tratado de Viena, em 1817. 

Praça Cecília Monteiro

terça-feira, 3 de setembro de 2024

No Centro de Vitória, ES, perto do Palácio Anchieta e ao lado da EEEFM Maria Ortiz, encontra-se uma bela praça, porém em estado de abandono. Eis, acima, o único banco da mesma. Pelos algarismos romanos, é possível identificar a data da praça: 1925. Logo, ela fez parte de uma série de medidas voltadas à urbanização da capital, promovidas pelo governador Florentino Avidos (sobre isso, ver o seguinte artigo). No entanto, não consegui obter maiores informações dessa praça.

Acima, está o pedestal da estátua de mármore do deus Hermes. Numa reportagem de 2018, o sr. Raimundo de Oliveira denunciava o sumiço da mesma. Pelas informações que levantei, recorrendo, inclusive, ao Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, sabe-se que a estátua foi retirada da praça em 1979, após ter sido danificada com a queda de um Flamboyant. Em breve, quando puder reunir informações mais consistentes, atualizei este post.