sexta-feira, 7 de novembro de 2025
Para entender o contexto abaixo, leia: Um Duelo Medieval
Nada mais natural que essa indignação do emir, pois para os árabes do século XII a justiça é uma coisa séria. Os juízes, os cádis [acima], eram personagens altamente respeitados, que, antes de pronunciar sua sentença, têm a obrigação de seguir um procedimento definido, estabelecido pelo Alcorão: acusação, defesa, testemunhos. O "juízo de Deus", ao qual os ocidentais frequentemente recorrem, lhes parece uma farsa macabra. O duelo descrito pelo cronista é apenas uma forma de ordálio. A prova do fogo é outra. E também o suplício da água, que Osama descobre com horror:
Um grande tonel cheio de água tinha sido instalado. O jovem que era objeto de suspeita foi amarrado, suspenso pelas omoplatas a uma corda e colocado no tonel. Se ele fosse inocente, eles diziam, ele afundaria na água e seria retirado por meio da corda. Se ele fosse culpado, não conseguiria mergulhar na água. O infeliz, quando atirado no tonel, se esforçou para ir ao fundo, mas não conseguiu e precisou se submeter aos rigores da lei, que Deus os amaldiçoe! Então enfiaram em seus olhos um buril de prata incandescente e o cegaram.
MAALOUF, Amin. As Cruzadas vistas pelos árabes. Tradução de Julia da Rosa Simões. São Paulo: Vestígio, 2024, p. 149-150.



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