“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Incertezas após a Vitória

quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Desde agosto de 1945, o mundo vive uma era de incertezas.

Pela primeira vez na história, o advento das armas nucleares tornou possível para um único ser humano destruir dezenas - talvez centenas - de milhões de vidas, e os avanços tecnológicos possibilitam que isso seja feito em apenas alguns minutos. Nenhuma das figuras mais assustadoras da história - Gêngis Khan; Alexandre, o Grande; Adolf Hitler - tinha qualquer coisa parecida. Se no século XIII Khan decidisse esmagar um império ou Estado, isso levaria algum tempo. Se esse território fosse enorme - como a China -, essa empreitada, provavelmente, levaria décadas. No entanto, se o presidente Richard Nixon, em 1969, decidisse lançar um ataque nuclear no mesmo local, poderia ter aniquilado 100 milhões de chineses em uma tarde.

Se a humanidade tratasse essa nova arma da maneira que tratou todas as outras armas eficazes já inventadas antes, a próxima guerra mundial veria uma capacidade destrutiva quase divina. Muitas das centenas de pessoas que testemunharam o nascimento da era atômica perceberam isso no minuto em que viram o teste da Trinity no deserto. "Agora eu sou a morte, a destruidora de mundos", disse Oppenheimer.

Assim como com os cientistas, as reações dos norte-americanos foram variadas. Se você está envolvido em uma guerra mundial e seu lado adquire uma superarma, isso sem dúvida será visto de maneira positiva. Em seu livro In the Shadow of War, o historiador Michael S. Sherry descreve as reações variadas dos americanos após o anúncio do presidente Truman na televisão informando ao seu povo, e ao mundo, que a bomba havia sido lançada e explicando o que era essa nova arma e por que havia sido usada. "Alguns enfatizaram o orgulho pelas conquistas e a satisfação em obterem vingança contra os japoneses." Certas pessoas lamentaram que mais bombas não fossem jogadas sobre o Japão. "Outros - em especial, soldados que presumiram que a invasão do Japão era a única alternativa ao uso da arma - saudaram a paz que a bomba havia trazido mais depressa, e a própria bomba como uma ferramenta para manter a paz."

Outros viram a questão de maneira completamente diferente - para eles, a bomba era evidência do flagelo da guerra moderna. Houve quem sentisse que era um augúrio sobre o que o futuro nos reserva. O jornalista da CBS, Edward R. Murrow, disse o seguinte: "É raro, senão inédito, uma guerra terminar deixando os vencedores como um sentimento tão intenso de incerteza e medo - com o conhecimento de que o futuro é incerto e que a sobrevivência não é garantida."

CARLIN, Dan. O fim está sempre próximo: momentos apocalípticos, do colapso da Idade do Bronze até ameaças nucleares. Tradução de Flora Pinheiro. Rio de Janeiro: Happer Collins, 2020, p. 168-169.

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