A Civilização Chinesa
domingo, 17 de maio de 2015
I. A sociedade do Vale do Rio Amarelo
A intensificação do processo de sedentarização chinês ocorreu na região do vale do rio Hoang-Ho (Amarelo). Em torno do séc. XX a.C. a estrutura social das vilas neolíticas da região se desenvolveu, e surgiram cidades.
As cidades-palácio teriam indicado um líder que deu origem à primeira dinastia da China antiga, os Hia (séculos XX-XV a.C.). Contudo, para muitos historiadores, os Shang é que fundaram a primeira dinastia na China.
Embora a produção de tecidos de seda pelos chineses tenha iniciado pouco depois da formação da sociedade do rio Amarelo (por volta de 3 mil a.C.), a rota da seda só se formou no séc. I a.C.
As cidades-palácio teriam indicado um líder que deu origem à primeira dinastia da China antiga, os Hia (séculos XX-XV a.C.). Contudo, para muitos historiadores, os Shang é que fundaram a primeira dinastia na China.
Embora a produção de tecidos de seda pelos chineses tenha iniciado pouco depois da formação da sociedade do rio Amarelo (por volta de 3 mil a.C.), a rota da seda só se formou no séc. I a.C.
A maior parte das informações deste período devem-se a um elaborado sistema de escrita surgido nesse período. As inscrições estão disponíveis em documentos conhecidos como "ossos de oráculo", e cerca de metade já foram decifradas.
Os soberanos Shang reivindicavam a origem divina para a origem do seu poder. A organização do Estado baseava-se em funcionários. Já a defesa estava a cargo da nobreza, que em troca recebia terras dos imperadores. O Reino Shang estava constantemente em guerra, e a agricultura de subsistência era a base da economia.
No séc. XI a.C. o domínio Shang passou a ser pressionado por um povo oriundo do noroeste da China, frente o qual acabou por sucumbir.
Os soberanos Shang reivindicavam a origem divina para a origem do seu poder. A organização do Estado baseava-se em funcionários. Já a defesa estava a cargo da nobreza, que em troca recebia terras dos imperadores. O Reino Shang estava constantemente em guerra, e a agricultura de subsistência era a base da economia.
No séc. XI a.C. o domínio Shang passou a ser pressionado por um povo oriundo do noroeste da China, frente o qual acabou por sucumbir.
III. A China dos Chou (1050-250 a.C.)
Os Chou expandiram as fronteiras da China em direção ao sul. A China acabou subdividida em reinos menores, que se submetiam aos monarcas da dinastia Chou.
A expansão Chou só foi interrompida no séc. VII a.C., quando tribos da Mongólia se rebelaram e mataram o soberano Chou. Ocorreu uma fragmentação política, e por mais de 200 anos os reinos guerrearam entre si.
Entre os séculos VI e IV a.C. a produção agrícola aumentou. As terras passaram a ser muito disputadas e a nobreza perdeu poder econômico. O Estado se renovou e Confúcio (551-479 a.C.) influenciou profundamente a cultura chinesa.
IV. O primeiro Império Chinês (séc. III a.C. - séc. III d.C.)
Aproveitando-se da desordem que caracterizou o fim do período Chou, Qin Shihuan (221-207 a.C.) tomou o poder e estabeleceu a dinastia Qin, que só durou até um ano após a sua morte. Shihuan se impôs pela força, fixando um único tipo de escrita para o território que governava e proibindo o confucionismo. Iniciou a construção da Muralha da China (que só foi concluída no séc. XV) e no seu mausoléu foram encontradas oito mil estátuas de terracota (ver abaixo).
Em 206 a.C., Liu Pang fundou a dinastia Han, que durou até 220 d.C. O auge dessa dinastia se deu com o 5º imperador, Wu-ti (156-87 a.C.). No seu reinado foi criada uma espécie de rede pública de ensino. Conquistando o apoio dos confucionistas, Wu-ti expandiu ainda mais as fronteiras da China.
Durante o período da dinastia Han, alcançaram destaque, além do confucionismo, o taoísmo e o budismo. Essas três propostas filosóficas-místicas têm em comum a busca da ética, da virtude, do caminho correto, dentre outros objetivos.
Com o fim da dinastia Han, a China foi dividida em Três Reinos (220-265). Iniciava-se um longo processo de instabilidade política e disputas internas. A centralização política só se restabeleceu na China no séc. X, marcando o início da segunda fase do Império Chinês.
A Revolução Francesa (1789-1799)
sábado, 16 de maio de 2015
A Revolução Francesa representou o mais duro golpe ao Antigo Regime e forjou os rumos da política contemporânea.
Indico o documentário acima especialmente para os alunos do 8º ano do Ensino Fundamental e 2º ano do Ensino Médio.
As Raízes da Reforma Protestante
quinta-feira, 14 de maio de 2015
O Navio dos Loucos, de Hieronymus Bosh (1450-1516). Óleo sobre madeira, 58 cm X 33 cm, Museu do Louvre, Paris. A obra é uma crítica alegórica aos costumes da época, em especial a devassidão e profanidade do clero católico.
Para o grande público, a Reforma Protestante é imediatamente associada a Martinho Lutero (1483-1546) e às suas 95 teses sobre a justificação pela fé. Contudo, antes de 1517 as deficiências da Igreja já eram evidentes e vários pensadores se delineavam como precursores da Reforma. O papel histórico de Lutero foi o de ampliar essas ideias e afirmar radicalmente uma tendência que já existia.
Neste post, explicarei as origens tardo-medievais da Reforma Protestante. Eu me baseei nas notas que tomei das explicações do Dr. Josemar Machado, professor de História Moderna da Ufes (aula de 30 de agosto de 2006).
Neste post, explicarei as origens tardo-medievais da Reforma Protestante. Eu me baseei nas notas que tomei das explicações do Dr. Josemar Machado, professor de História Moderna da Ufes (aula de 30 de agosto de 2006).
I. Condições anteriores que facilitaram a Reforma
I.1 A Crise espiritual tardo-medieval
O mundo ocidental do século XIV esteve mergulhado numa crise demográfica, econômica e de valores. De modo particular, a Peste Negra e os cismas no seio da Igreja abalaram profundamente a espiritualidade do homem europeu.
Neste contexto, Gerard Groote (1340-1382) fundou uma comunidade católica denominada "Irmãos e Irmãs da Vida Comum". Eles foram responsáveis por difundir a devotio moderna, que buscava uma nova forma de espiritualismo e ascetismo. A razão era considerada insuficiente para a salvação. Existiam também duas correntes antagônicas no catolicismo: a via antiqua, promovida pelos tomistas, e a via moderna, sustentada pelos seguidores de Guilherme de Ockham (1285-1347). Enquanto a primeira era a representante da ortodoxia, e possuía um padrão estabelecido de compreender a religião, os ockhamistas eram heterodoxos, e pregavam que a razão não teria papel na salvação.
I.2 Críticas aos poderes da Igreja
No período em questão, Guilherme de Ockham e Marsílio de Pádua (c. 1275 - c. 1342) foram os principais nomes da oposição teológica à Igreja Católica. Ambos eram defensores do conciliarismo, a ideia de que a Igreja é maior do que o papa.
O conciliarismo foi ratificado pelo Concílio de Constança, em 1415. Naquele momento, a Igreja reunida escolheria um novo papa para substituir os anti-papas e sanar a crise que abalava a Cristandade ocidental. Contudo, a partir da segunda metade do século seguinte, os papas recobrariam o seu poder.
Dentre os principais representantes da oposição herética, destacam-se John Wycliffe (c. 1328-1384) e Jan Huss (1369-1415).
Wycliffe criticou o papel exercido pela Igreja na sociedade inglesa do século XIV. Opunha-se à sua ingerência nas questões políticas. Os lolardos, padres sem consagração formal que seguiam as ideias de Wycliffe, chegaram a envolver-se numa insurreição, em 1381. Coube a Wycliffe traduzir o Novo Testamento para o inglês.
Se Wycliffe foi o precursor da Reforma na Grã-Bretanha, na Europa continental (na Boêmia, mais especificamente) esse papel coube a Huss. Notável teólogo da Universidade de Praga, ele foi o porta-voz dos camponeses boêmios contra a concentração de terras por parte da Igreja. Embora portasse um salvo-conduto para participar do Concílio de Constança (1415), foi traído e queimado na fogueira. Após sua morte, os hussitas ganharam força, ainda mais que os lolardos da Inglaterra. Por décadas estiveram em conflito com o clero católico, e acabaram arrancando-lhes concessões em matéria sacramental: obtiveram a comunhão dupla (passaram a comungar tanto do pão quanto do vinho; na tradição católica, os leigos participam apenas da hóstia).
O conciliarismo foi ratificado pelo Concílio de Constança, em 1415. Naquele momento, a Igreja reunida escolheria um novo papa para substituir os anti-papas e sanar a crise que abalava a Cristandade ocidental. Contudo, a partir da segunda metade do século seguinte, os papas recobrariam o seu poder.
Dentre os principais representantes da oposição herética, destacam-se John Wycliffe (c. 1328-1384) e Jan Huss (1369-1415).
Wycliffe criticou o papel exercido pela Igreja na sociedade inglesa do século XIV. Opunha-se à sua ingerência nas questões políticas. Os lolardos, padres sem consagração formal que seguiam as ideias de Wycliffe, chegaram a envolver-se numa insurreição, em 1381. Coube a Wycliffe traduzir o Novo Testamento para o inglês.
Se Wycliffe foi o precursor da Reforma na Grã-Bretanha, na Europa continental (na Boêmia, mais especificamente) esse papel coube a Huss. Notável teólogo da Universidade de Praga, ele foi o porta-voz dos camponeses boêmios contra a concentração de terras por parte da Igreja. Embora portasse um salvo-conduto para participar do Concílio de Constança (1415), foi traído e queimado na fogueira. Após sua morte, os hussitas ganharam força, ainda mais que os lolardos da Inglaterra. Por décadas estiveram em conflito com o clero católico, e acabaram arrancando-lhes concessões em matéria sacramental: obtiveram a comunhão dupla (passaram a comungar tanto do pão quanto do vinho; na tradição católica, os leigos participam apenas da hóstia).
Leia também: A Condição da Igreja no Séc. XV
«Divisões perigosas», de Peter Fry et. al.
quarta-feira, 13 de maio de 2015
Apesar de ter sido publicado em 2007, pela editora carioca Civilização Brasileira, só na semana passada conheci este livro (que, na verdade, é uma coletânea de artigos). Eminentes estudiosos do assunto juntaram-se para criticar a racialização em curso na sociedade brasileira, assumindo a mais radical posição anti-racista - "solapar os pressupostos que embasam a ideia de raça" (p. 18).
A propósito de divulgar esta obra, lembro que hoje é o Dia da Abolição da Escravatura. Como bem lembrou um dos autores, Demétrio Magnoli ("A Abolição da Abolição", pp. 65-66):
O 13 de maio devia ser comemorado nas ruas, como uma festa popular em homenagem aos personagens públicos e aos milhares de heróis anônimos que conduziram a primeira grande luta social de âmbito nacional no Brasil e derrotaram a dinastia e a elite escravistas. (...) A Abolição foi uma luta popular moderna, compartilhada por brasileiros de todos os tons de pele. (...)
Zumbi não viveu no Brasil, mas na formação social de um enclave colonial-mercantil português. Na luta gloriosa e desesperada que liderou não existia a alternativa de mudar o mundo, mas apenas a de segregar os seus num outro mundo, que foi Palmares. Os revisionistas que fingem celebrar a memória de Zumbi praticam um sequestro intelectual, despindo a narrativa do seu programa atual de separação política e jurídica das 'raças'. Esse é o motivo pelo qual decidiram abolir a Abolição.
Dentre os vários abolicionistas brasileiros de diferentes "tons de pele", vale a pena destacar Joaquim Nabuco, José do Patrocínio (filho de pai branco e mãe negra escrava), Antônio Bento, Silva Jardim, o ex-escravo Luís Gama, dentre outros. Todos esquecidos pelo atual movimento negro, que elegeu Zumbi e Palmares como os seus ícones.
Contudo, como frisa José de Souza Martins no artigo "O branco da consciência negra" (p. 99):
Como o branco, o negro nunca foi, no Brasil, um paladino da liberdade [Conheça a História dos Escravos que prosperavam comprando negros]. Nem podia. Havia escravidão em Palmares. Escravos que se recusavam a fugir das fazendas e a ir para os quilombos eram capturados e convertidos em cativos dos quilombolas. A luta de palmares não era contra a iniquidade desumanizadora da escravidão. Era apenas recusa da escravidão própria, mas não da escravidão alheia. As etnias de que procederam os escravos negros do Brasil praticavam e praticam a escravidão ainda hoje, na África. Não raro capturavam seus iguais para vendê-los aos traficantes. Ainda o fazem.
Para finalizar, Ronaldo Vainfas, no artigo "Racismo à moda americana" (pp. 85-87) estabelece um contraste entre a escravidão norte-americana e a escravidão brasileira, destacando que esta última
... não passava rigorosamente pela linha de cor. Joaquim Nabuco, ainda no século XIX, apontou com olho clínico este fato. No Brasil escravista, negros chegaram a ser senhores de escravos ou mesmo traficantes, em geral libertos (...), chegando alguns a enriquecer com o tráfico atlântico. O mesmo em relação a mulheres, como indicou Sheila de Castro Faria (...). Este é fenômeno de sociologia histórica que dificilmente se encontraria no caso dos Estados Unidos.
A chave para entender o preconceito mais velado contra o negro no Brasil em contraste com a violência da discriminação nos Estados Unidos encontra-se no processo de abolição. Muitos historiadores tratam disso, mas vale a pena repetir. Entre nós, uma abolição lenta, negociada, tecida na esfera das elites políticas. Nos Estados Unidos, uma abolição traumática, resultado de uma guerra civil, no fim da qual foram suspensos, no tempo da Reconstrução Radical, os direitos políticos dos brancos sulistas.
Foi nesse tempo, ainda em 1865, que surgiu a Ku Klux Klan, dedicada a matar negros, depois a impedi-los de obter direitos políticos e civis. A Klan surgiu no sul, mas não tardou a se espalhar pelo país inteiro, no início do século XX. A Klan se tornou organização poderosíssima, tolerada ou apadrinhada por diversos governos estaduais (...) Com a crise de 1929, sua popularidade cresceu (...). Nutria forte simpatia pelo nazismo, tornou-se antissemita com devoção. Só não avançou mais nessa época pela entrada dos Estados Unidos na guerra.
(...)
Poder-se-ia dizer que as mazelas da Ku Klux Klan nada tem que ver com a História do Brasil. É verdade em parte, porque ao menos não tivemos experiência histórica familiar similar, felizmente.
A Civilização Hindu
sábado, 9 de maio de 2015
1.
As origens das civilizações chinesa e indiana (hindu)
Assim como nas demais sociedades antigas, na China e na
Índia os rios também foram importantes para a formação dos primeiros núcleos
urbanos.
A ocupação humana organizada na Ásia ocorreu, na China,
nas grandes planícies do Norte, onde a terra é amarela, chamada de loess, propícia à agricultura. A
sedentarização na China foi propiciada pelos rios Yang-Tsé-Kiang (Azul) e
Hoang-Ho (Amarelo). As preocupações relacionadas às dificuldades práticas da
vida marcaram a cultura chinesa antiga (por exemplo, a organização das
estruturas de poder e a preocupação com a segurança diante de ameaças externas).
A Índia foi povoada quando surgiram cidades com
estruturas básicas. A grande pluviosidade foi, sem dúvida, o motivo que atraiu
sucessivas levas de novos habitantes. Além disso, os rios
Indo e Ganges foram fundamentais para o desenvolvimento da civilização hindu. A
civilização indiana formou um "Império do Espírito", o que provocou
um desligamento com relação à memória. Isso traz dificuldades para o estudo da
sua história.
2.
A sociedade do Vale do Indo
Foi
no Vale do Rio Indo que surgiu o mais antigo agrupamento humano na Índia, há
mais de cinco mil anos. O desenvolvimento da agricultura e a consequente
sedentarização possibilitou o surgimento de cidades. O auge dessa civilização
se deu entre 2800 a.C. e 1900 a.C.
Dentre
as cidades mais antigas do Vale do Indo, destacam-se Mohenjo-Daro (abaixo) e Harappa,
algumas das primeiras cidades planejadas da história. Essas cidades
impressionaram seus descobridores devido a sofisticação, o tamanho e,
principalmente, a organização.
A civilização do Vale do Indo possuía cerca
de 5 milhões de habitantes, sendo a mais populosa do mundo à sua época. Seu desaparecimento se deu por volta do séc. XV a.C. As principais teorias são que o declínio foi provocado por problemas ambientais
e/ou um desastre natural, mas as causas ainda são obscuras.
A. Período Veda
Esse
período estendeu-se de 1500 a 500 a.C., na área correspondente à planície do
Rio Ganges. Nesse período, foram produzidos e organizados uma grande quantidade
de textos conhecidos como literatura védica.
De
modo geral, os escritos védicos refletem um intenso politeísmo, a
característica mais marcante do hinduísmo.
Os
primeiros líderes religiosos dessa fase foram chamados de brâmanes. Já os
líderes políticos vieram a ser conhecidos como rajas.
Os
vedas estavam socialmente divididos em castas - o que significa que os
indivíduos herdavam seu ofício e status e
só podiam se casar com membros do seu estrato social. Além disso, as interações
sociais baseavam-se na exclusão fundamentada em noções culturais de pureza e
poluição, reforçando o preconceito contra os menos favorecidos (sudras e dalits [ou párias]).
B. O nascimento do budismo na Índia
Segundo
a tradição, Sidarta Gautama (nascido na década de 560 a.C., no atual Nepal)
teria atingido a "iluminação" e, após isso, teria difundido uma
mensagem que, por sua simplicidade, se distinguia dos complexos rituais vedas.
Assim, o budismo passou a ter um apelo popular muito forte.
O
cerne do budismo é o Caminho Óctuplo, que tem a ver com vida, pensamento,
expressão, ação, observância e meditação corretos. O objetivo é se libertar do
ciclo de reencarnações e atingir o nirvana.
C. O Império Mauria
Entre
os séculos III e I a.C., o Império Mauria desenvolveu-se e tornou-se o maior da história do subcontinente indiano (veja o mapa abaixo). O fundador desse império foi Chandragupta Mauria
(340-298 a.C.).
Outro
imperador que se destacou nesse período foi Ashoka (269-232 a.C.). Conta-se
que, após uma batalha sangrenta, ele voltou-se para o budismo. Produziu os
Éditos de Ashoka, uma das principais fontes documentais do seu reinado.
Aproximadamente 55 anos após a morte de Ashoka, o Império Mauria desintegrou-se.
Entre
os séculos I a.C. e III d.C. a Índia atravessou uma fase de descentralização
política. Os vários reinos que surgiram nessa época mantiveram contatos
econômicos e culturais entre si e com outros povos. Romanos, no Ocidente, e
malaios e indonésios, no Oriente, estiveram entre os povos que mantiveram
contatos constantes com a Índia.
Entre
os séculos II e V a cultura indiana se desenvolveu, com o fortalecimento da
matemática, da medicina e da veterinária. Os algarismos indo-arábicos foram
levados para o Ocidente.
Séculos
depois, a Índia passou a travar contatos com as civilizações islâmica (séc.
VII) e europeia (séc. XV). O islamismo se estabeleceu como uma força poderosa,
especialmente no norte indiano.
«Gulag», de Anne Applebaum
quarta-feira, 6 de maio de 2015
Baixe essa obra gratuitamente aqui.
Aos 15 anos eu buscava os escritos de Marx (conheça essa história AQUI). Mas, aos 18, iniciei a graduação em História e conheci o "outro lado da moeda" - os autores que denunciam os erros do marxismo e as monstruosidades do regimes comunistas.
Dentre os livros recomendados pelos meus professores, jamais me esqueci de Gulag - uma história dos campos de prisioneiros soviéticos (Ediouro, 2004), vencedor do Pulitzer de não-ficção de 2004. Como não era leitura obrigatória, não foi disponibilizado para fotocópia. Também nunca esteve na biblioteca da Ufes (novidade!), impedindo-me, por anos, de lê-lo. Entretanto, quase dez anos depois de ter ouvido falar nele pela primeira vez, comprei-o (via Estante Virtual) e o li.
Assim que o recebi, descobri porque é difícil encontrá-lo nas bibliotecas: apenas três mil exemplares foram impressos pela Ediouro. Hoje, quem quiser adquirir um dos poucos exemplares disponíveis no EV, terá que se dispor a fazer um pequeno investimento.
O Gulag compreendia uma série de campos de concentração da antiga União Soviética. Neles, milhões de criminosos e, principalmente, prisioneiros políticos, trabalhavam como escravos. Suas condições de vida eram condições abomináveis, e tanta exploração visava sustentar a débil economia soviética. A história desses campos é quase tão extensa quanto a existência da União Soviética. Juntamente com os exílios forçados, o Gulag era um dos principais instrumentos do terrorismo de Estado do totalitarismo comunista.
Dentre os vários aspetos que poderia destacar do livro, mencionarei dois. O primeiro é a grande semelhança entre o totalitarismo comunista e o totalitarismo nazifascista. Sobre isso, o trecho abaixo é emblemático (p. 221):
Se não estava escuro, se não se encontravam doentes e se demonstravam interesse em olhar, a primeira coisa que os presos viam na chegada era o portão do campo. No mais das vezes, o portão exibia um slogan. Da entrada de um dos lagpunkts, "pendia um arco-íris de compensado com uma faixa por cima, na qual se lia que 'Na URSS, o trabalho é questão de honestidade, honra, bravura e heroísmo!'". Numa colônia de trabalho nos subúrbios de Irkutsk, Barbara Armonas foi acolhida com esta faixa: "Com trabalho honesto, saldarei meu débito para com a pátria." Chegando em 1933 a Slovetsky (...), outro preso viu um aviso que dizia: "Com mão de ferro, conduziremos a humanidade à felicidade!" Yurii Chirkov, detido aos catorze anos, também deparou com um aviso em Slovetsky: "Por meio do trabalho, a liberdade!", slogan que é tão constrangedoramente parecido quanto possível com o Arbeit macht frei ("O trabalho liberta") que se via sobre os portões de Auschwitz.
Assim, fica evidente que o nazismo e o comunismo são siameses. Quem ainda duvidar, que leia O passado de uma ilusão, de François Furet, uma obra fundamental para a compreensão desses regimes.
Criança trabalhando num campo. Fonte: Gulag Memories
Anne Applebaum lembra ainda que, se o Gulag era opressivo e desumano, a União Soviética também o era. Mas, obviamente, como um sistema de trabalhos forçados (e, sob Stalin, também de extermínio) o Gulag era um inferno sobre a Terra. Talvez por isso existiram casos de duplas de prisioneiros que, ao planejarem uma fuga, convidavam um terceiro prisioneiro para se unir a eles; a ideia era devorá-lo quando os víveres acabassem. As pessoas enlouqueciam, quebravam qualquer tabu ou princípio moral, simplesmente para se livrarem daquele sistema abjeto. Os que nele permaneciam corriam o risco de cometer atos de loucura inimagináveis, como fica claro no testemunho de Edward Kuznetsov (citado na p. 600):
Eu vi condenados engolindo enormes quantidades de pregos e arame farpado; vi-os engolindo termômetros de mercúrio, sopeiras de peltre (...), peças de xadrez, dominós, agulhas, vidro moído, colheres, facas e muitos outros objetos semelhantes. Vi condenados costurando a boca e os olhos com linha ou arame, pregando botões no próprio corpo; ou pregando testículos na cama [...] Vi condenados cortando a pele dos braços e das pernas e puxando-a como se fosse uma meia (...); vi condenados cobrindo-se de papel e ateando-se fogo, vi condenados cortando os dedos, o nariz, as orelhas, o pênis [...].
Kuznetsov lembra que tais atos (dos quais alguns tive que omitir) NÃO eram feitos em protesto. Às vezes a automutilação ocorria sem qualquer motivo aparente. Isso ilustra o nível de insanidade provocado pelo aparelho repressor do totalitarismo comunista. Assim, é de se estranhar que, em pleno século XXI, tantos ainda se considerem socialistas...