“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

O Antissemitismo Nazista

quinta-feira, 31 de maio de 2018


Foto de um dos 7500 estabelecimentos de judeus saqueados e destruídos durante a Noite dos Cristais (Kristallnacht), um progrom ocorrido na Alemanha e na Áustria entre 9 e 10 de novembro de 1938. Além dos saques, mais de mil sinagogas foram queimadas ou danificadas, cerca de 30 mil judeus foram presos e pelo menos outros 91 foram mortos. Em alguns lugares, a violência perdurou por vários outros dias. 

"(...) Uma dessas apressadas explicações identifica o antissemitismo com desenfreado nacionalismo e suas explosões de xenofobia. Mas, na verdade, o antissemitismo moderno crescia enquanto declinava o nacionalismo tradicional, tendo atingido seu clímax no momento em que o sistema europeu de Estados-nações, com seu precário equilíbrio de poder, entrara em colapso. Os nazistas não eram meros nacionalistas. Sua propaganda nacionalista era dirigida aos simpatizantes e não aos membros convictos do partido. Ao contrário, este jamais se permitiu perder de vista o alvo político supranacional. O 'nacionalismo' nazista assemelhava-se à propaganda nacionalista da União Soviética, que também é usada apenas como repasto aos preconceitos das massas. Os nazistas sentiam genuíno desprezo, jamais abolido, pela estreiteza do nacionalismo e pelo provincianismo do Estado-nação. Repetiram muitas vezes que seu movimento, de âmbito internacional (como, aliás, é o movimento bolchevista), era mais importante para eles do que o Estado, o qual necessariamente estaria limitado a um território específico. E não só o período nazista, mas os cinquenta anos anteriores da história antissemita dão prova contrária à identificação do antissemitismo com o nacionalismo. Os primeiros partidos antissemitas das últimas décadas do século XIX foram os primeiros a coligar-se em nível internacional. Desde o início, convocam congressos internacionais, e preocupavam-se com a coordenação de atividades em escala internacional ou, pelo menos, intereuropeia." 

ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo: antissemitismo, imperialismo e totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p. 25-26. 

A Revolta da Vacina (1904)

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Guerra Vaccino-Obrigateza!..., O Malho, nº 111, 29 de outubro de 1904. Charge de Leônidas Freire (1882-1943).

"A revolta não visava o poder, não pretendia vencer, não podia ganhar nada. Era somente um grito, uma convulsão de dor, uma vertigem de horror e de indignação. Até que ponto um homem suporta ser espezinhado, desprezado e assustado? Quanto sofrimento é preciso para que um homem se atreva a encarar a morte sem medo? E quando a ousadia chega nesse ponto, ele é capaz de pressentir a presença do poder que o aflige nos seus menores sinais: na luz elétrica, nos jardins elegantes, nas estátuas, nas vitrines de cristal, nos bancos decorados dos parques, nos relógios públicos, nos bondes, nos carros, nas fachadas de mármore, nas delegacias, agências de correio e postos de vacinação, nos uniformes, nos ministérios e nas placas de sinalização. Tudo o que o constrange, o humilha, o subordina e lhe reduz a humanidade. Eis os seus alvos. Eis a fonte da sua revolta, e o seu objetivo é sentir e expor, ainda que por um gesto radical, ainda que por uma só e última vez, a sua própria dignidade." 

SEVCENKO, Nicolau. A Revolta da Vacina. São Paulo: Cosac Naify, 2010, p. 68. 

O Sincretismo na Antiga Religião Egípcia

terça-feira, 29 de maio de 2018

O sincretismo resultava da necessidade de robustecer uma divindade com os predicados de outra, conciliando assim a unidade do divino com a pluralidade das suas formas, sem que ocorresse verdadeiramente uma fusão. Assim, a divindade sincrética chamada Amon-Rá, numa clara tentativa de solarizar o deus tebano (Amon), não fez desaparecer outra divindade chamada Amon, que continuou a ter o seu papel autônomo de "rei dos deuses". De forma semelhante, Rá prosseguiu o seu curso celestial (ainda que ele possa ser visto como Khepri na alvorada e como Atum no crepúsculo). O sincretismo ainda podia unir três deuses, como Ptah-Sokar-Osíris, reunindo um deus ligado à criação (Ptah), outro ligado à morte (Sokar) e, finalmente, um ligado à ressurreição (Osíris), formando o ciclo completo.    

Bibliografia consultada: ARAÚJO, Luís Manuel de. O Egito Faraônico - uma civilização com três mil anos. Revisão de Raul Henriques. Lisboa: Arranha-céus, 2015, p. 136.

A Monolatria no Egito Antigo

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Akhenaton em forma de esfinge adorando a Aton. 
Localização: Kestner Museum, Hanover, Alemanha. 

Sob Amen-hotep IV (depois transformado em Akhenaton) surgiu o culto de tipo exclusivista de Aton, nome do disco solar. A rápida popularização de Aton, que já se notava nos reinados anteriores de Tutmés IV e Amen-hotep III, foi sobretudo motivada por causas políticas. A intenção era reduzir a proeminência do clero de Amon, então numa fase de grande poderio, depois de generosas doações concedidas por Hatchepsut e Tutmés III no século anterior (o XV a.C.). 

O disco solar atoniano, visto essencialmente como uma fonte de luz, de calor e de vida, foi a dura resposta encontrada por Akhenaton, ao mesmo tempo que encerrava o grande templo de Karnak e o privava dos rendimentos que até então recebia. Integrado na sua política contra o clero de Amon, promoveu alterações na arte e mesmo na forma de utilização da escrita hieroglífica, passando a registrar-se por escrito o neoegípcio que então se falava. E foi nesta forma de linguagem que o próprio monarca "herético" redigiu o Hino a Aton. Nele se pode ler: 

"Tu, deus único, fora do qual não há nenhum!" 

Akhenaton mudou a capital egípcia de Tebas-Uaset para Akhetaton, edificada em pouco tempo num território virgem na margem direita do Nilo (atual Amarna). Assim que procedeu a essa mudança, ele logo pensou os espaços de culto para a sua divindade "única" Aton, a começar pelo grande templo dedicado ao deus solar - o Per-Aton-em-Akhetaton (a "casa de Aton em Akhetaton"). O templo mantêm a axialidade clássica no essencial, mas contou com inovações como a ausência de tetos devido ao culto do disco solar (Aton), e nele foi instalado um grande altar com escadaria de acesso. 

É importante destacar, no entanto, que o mesmo tipo de inovações "monoteístas" se aplicava a outras divindades, a começar por Amon, pelo que Aton era tão "único" como "único" era Amon, Rá, e todos os outros deuses "únicos" que também era criadores. A criação prodigalizada por Aton era cotidiana, marcada pelo ciclo do "nascer" e do pôr do sol. No entanto, com o desaparecimento do rei e da sua esposa Nefertiti, o culto de Amon regressou em força e o seu clero readquiriu a sua pujança anterior.    

Bibliografia consultada: ARAÚJO, Luís Manuel de. O Egito Faraônico - uma civilização com três mil anos. Revisão de Raul Henriques. Lisboa: Arranha-céus, 2015, p. 132-133 e 149.

«Cleópatra»

domingo, 27 de maio de 2018


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«A Mentalidade Anticapialista»

sexta-feira, 25 de maio de 2018

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"O preconceito e o fanatismo da opinião pública se manifestam com mais clareza pelo fato de ela vincular o adjetivo 'capitalista' exclusivamente às coisas abomináveis, e nunca àquelas que todos aprovam. Como poderia o capitalismo gerar coisas boas? udo o que tem valor foi produzido apesar do capitalismo, mas as coisas ruins são excrescências do capitalismo. 

O objetivo dese ensaio é analisar essa tendência anticapitalista e revelar suas causas e consequências." (Introdução)     

Famílias das Divindades Egípcias

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Estatueta de ouro e lápis-lazúli de Hórus, Osíris e Ísis. Artefato produzido entre 874 e 850 a.C. (período da 22ª dinastia) e atualmente disponível no Museu do Louvre.

Como em outras civilizações politeístas pré-clássicas, no antigo Egito os sacerdotes procuraram organizar de forma compreensível a perturbante multidão de divindades que se iam acumulando. Assim, eles sincretizaram e fundiram, e foram organizando famílias divinas com pai, mãe e filho (por vezes uma filha), num esforço de sistematização simples espontânea. A própria Enéade, saída do sêmen de Atum, teve uma organização familiar e geracional: o casal Chu e Tefnut (irmãos e esposos) gerou um novo casal (Geb e Nut), do qual nasceram quatro filhos: Osíris, Ísis, Set e Néftis. Destes rebentos surgiu o mais famoso casal divino, Osíris e Ísis. Seu filho Hórus, era o protetor da realeza, ou melhor, a própria realeza, uma vez que o faraó no trono era um Hórus vivo reinando sobre a terra (e quando morria se tornava Osíris no outro mundo). 

A propensão para originar famílias era tal que, com exceção do caso excepcional de Aton, até os deuses demiurgos, que estavam sozinhos por ocasião da criação, receberam paredras e filhos.  

Bibliografia consultada: ARAÚJO, Luís Manuel de. O Egito Faraônico - uma civilização com três mil anos. Revisão de Raul Henriques. Lisboa: Arranha-céus, 2015, p. 135.