“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Introdução ao Livro de Daniel

quarta-feira, 28 de março de 2018

Considerando a importância do livro do profeta Daniel para a formulação da filosofia da história judaico-cristã, apresentarei aqui algumas notas introdutórias sobre esse sucinto documento de apenas 12 capítulos. 

Em primeiro lugar, é preciso ter em mente que o livro de Daniel é sobretudo um livro religioso. Sua estrutura apresenta uma íntima ligação entre o sobrenatural e o ritmo diário da oração. O livro menciona sete orações, e algumas outras ficam implícitas. A mais longa de todas encontra-se no capítulo 9, precisamente entre a profecia dos 70 anos de Jeremias, que anuncia o retorno de Israel do exílio, e outra, sobre as 70 semanas, que fala da restauração de Jerusalém e a salvação do mundo.

O livro também se apresenta na forma de poesia, empregando artifícios literários como paralelismos, ecos, jogos de palavras e ritmos. Nesse livro, beleza é sinônimo de verdade. Daniel apela ao nosso raciocínio e inteligência. Como livro sapiencial, ele traz as reflexões mais profundas sobre história, Deus, ética e existência. O próprio profeta é apresentado como um sábio (Dn 1:20, 2:13) e o livro apresenta a verdade como algo a ser compreendido. 

Algo raro nas Escrituras, a profecia de Daniel é permeada por cifras matemáticas. A predição de um evento segue o rigor do pensamento científico. O livro de Daniel nos ensina que inteligência e raciocínio são pré-requisitos essenciais, mas ele também permanece desafiador, uma vez que suas palavras permanecem "seladas" (Dn 12: 4, 9). 

Além da língua hebraica, Daniel usa o aramaico (Dn 2:4 - 7:28), o idioma internacional da época, assim como palavras derivadas do acadiano, do persa e até do grego. Essa diversidade de idiomas no livro de Daniel é um exemplo singular de uma mensagem que transpõe as fronteiras de Israel e se apresenta à inteligência das nações. 

O caráter universal do livro também fica patente no próprio conteúdo. Ele é uma obra religiosa que fala em nome de Deus e revela a visão celestial; ao mesmo tempo, é uma obra histórica que faz referências ao passado, presente e futuro. 

Adaptado de DOUKHAN, Jacques. Segredos de Daniel - Sabedoria e sonhos de um príncipe no exílio. Tradução de Matheus Cardoso. Tatuí, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 2017, p. 6-9.

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