domingo, 3 de dezembro de 2023
Quando Ulisses, no canto XVII [da Odisseia], sob a aparência de um ancião, entra em seu palácio, "um cão estendido no chão estica as orelhas". É Argo, o cãozinho que Ulisses alimentara, sem ter podido fazer dele o seu companheiro de caça. Os pretendentes o haviam utilizado para caçar cabras selvagens, lebres e gamos. Agora, o velho cão, cheio de carrapatos, vive perto do lixo, diante da porta do palácio. Ulisses o reconhece e, com emoção, faz algumas perguntas sobre ele ao porqueiro Eumeu, que ainda não identificara o seu senhor. Eumeu explica: Argo era um galgo infalível na caça. Agora seu dono morreu, e ele não passa de um cão escravo.
Os servidores, desde o momento em que não têm mais um senhor,
não querem mais trabalhar como é preciso.
E Zeus, o ensurdecedor, tira a metade do valor
de um homem, a partir do dia em que é entregue à escravidão.
Argo reconhece o seu dono e morre em seguida.
Mas a morte negra se apossou de Argo
Assim que reconheceu o dono, que partira havia vinte anos.
VIDAL-NAQUET, Pierre. O Mundo de Homero. Tradução de Jônatas Batista Neto. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 117-118.
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