“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Minha homenagem a um grande democrata

quarta-feira, 13 de julho de 2011


Hoje, 13 de julho de 2011, eu completo 24 anos. Quando tinha 15 e (quase) seis meses, um grande estadista despedia-se do Palácio do Planalto após governar o Brasil por um período que então correspondia a mais da metade do que tinha vivido (1994-2002). Este ex-presidente é o Doutor Fernando Henrique Cardoso, que recentemente completou 80 anos.

Muito já se falou sobre este importante político da História recente brasileira. Possui muitos detratores, alguns admiradores e mesmo alguns que procuram "apagá-lo" por vergonha de sua "herança maldita" (lamentavelmente, a maior parte destes pertencem ao seu próprio partido, o PSDB). Não pretendo aqui fazer um balanço histórico do seu governo. Quero apenas registar o que ele representou - e representa - para mim, como líder de uma nação.

Em um país onde a referência intelectual é tão escassa - não temos, por exemplo, nenhum vencedor do Prémio Nobel - o Doutor Fernando Henrique era um exemplo de filósofo na governação (embora seja sociólogo). A sua obra A arte da política - a história que vivi, é o exemplo mais concreto disso. Quando governou o país, sofreu uma das oposições mais implacáveis que algum líder de nossa nação alguma vez recebeu (provavelmente a única excepção seja Getúlio Vargas). Mesmo assim, manteve-se como um democrata exemplar. Admiro a fleuma dele. Afinal, teve que lidar com imbecis que eram contra tudo o que partia do governo, mesmo que fosse de extremo interesse dos brasileiros (um exemplo é a Lei de Responsabilidade Fiscal, que o ex-ministro petista Antônio Palocci admitiu que o seu partido errou ao tentar derrubá-la no Congresso).

Quando se avizinhava o término do seu mandato e as eleições de 2002, manteve-se como chefe de Estado e de governo; não tornou-se um cabo eleitoral para fazer o seu sucessor. Foi por medo de que acontecesse o contrário que os seus detratores tentaram derrubar o projeto da reeleição no congresso. O que a História viria a mostrar foi que estes mesmos infelizes acabaram por usar a máquina do governo para irem se perpetuando no poder...

Como todos sabem, seu partido saiu derrotado nas eleições. Com uma grandeza republicana poucas vezes vista em nos trópicos, o presidente não só reconheceu prontamente a derrota como preparou a transição e apoiou a constituição do novo governo. Poucos sabem mas pelo menos parte de sua equipa econômica continuou a colaborar com o novo governo no ano de 2003 (ver a entrevista de FHC para a Veja disponível no youtube). Lembro-me também que a pedido do gabinete de transição, aceitou enviar um carregamento de petróleo para a Venezuela do "Poderoso chefão" Hugo Chávez, um inimigo declarado da democracia e sempre cortejado pelo PT. Enfim, para Fernando Henrique os interesses da nação sempre estiveram à frente dos seus objetivos ideológicos ou partidários.

Ao se retirar do governo, não abandonou a vida pública. Contudo, é o único dos ex-presidentes vivos que não voltaram a disputar eleições. Como ele mesmo disse, fez isso para forjar a figura do ex-presidente. Em 2008 foi com uma dramática compunção que apareceu em público para lamentar a perda da sua grande companheira, a dona Ruth Cardoso, antropóloga que conhecera ainda nos tempos de estudante da USP. Mesmo assim continua firme à frente do Instituto que leva o seu nome e está sempre a promover debates e atividades de interesses públicos.

A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, escreveu por ocasião do seu 80º aniversário:

“Em seus 80 anos há muitas características do senhor Fernando Henrique Cardoso a homenagear.
O acadêmico inovador, o político habilidoso, o ministro-arquiteto de um plano duradouro de saída da hiperinflação e o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica.
Mas quero aqui destacar também o democrata. O espírito do jovem que lutou pelos seus ideais, que perduram até os dias de hoje.
Esse espírito, no homem público, traduziu-se na crença do diálogo como força motriz da política e foi essencial para a consolidaçãoo da democracia brasileira em seus oito anos de mandato.
Fernando Henrique foi o primeiro presidente eleito desde Juscelino Kubitschek a dar posse a um sucessor oposicionista igualmente eleito.
Não escondo que nos últimos anos tivemos e mantemos opiniões diferentes, mas, justamente por isso, maior é minha admiraçãoo por sua abertura ao confronto franco e respeitoso de ideias.
Querido presidente, meus parabéns e um afetuoso abraço!”

Poderia elencar uma série de outras virtudes deste nobre intelectual. Mas a minha admiração por ele pode ser sintetizada nessas poucas palavras. Muito obrigado, Fernando Henrique, pelo referencial de líder intelectual que forneceu-me ainda na adolescência. O mundo e o Brasil, sobretudo, precisam de líderes como o senhor.

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