“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

O Início da Revolução Francesa

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Juramento do Jogo de Péla (1791). Jacques-Louis David (1748-1825).   
Localização: Château de Versailles.

Assim como a coroação de Luís XVI em 1775, só que em escala ainda maior, a reunião dos Estados Gerais foi uma reconstituição extraordinária da história, tradição e ostentação francesas. No dia 4 de maio de 1789, os deputados dos três Estados eram 1167, no total. Desses, 302 eram do Clero; 289 eram da Nobreza; do Terceiro Estado, eram 576 deputados (logo reforçados por mais 35, que se atrasaram). 

A entrada do rei Luís XVI e da rainha perante os deputados dos Estados Gerias foi pomposa. Apesar disso, ao contrário do que acontecera em 1614, os deputados do Terceiro Estado se recusaram a se ajoelharem ante a presença dos monarcas. Entre eles estava o conde de Mirabeau (1749-1791), rejeitado pela Nobreza e eleito pelo Terceiro Estado. Outro outsider nesse grupo era o abade Sieyés (1748-1836), um gênio da teoria política que, no começo de 1789, escreveu o famoso Qu'est-ce que le tiers état? ("O que é o Terceiro Estado?"). No dia 10 de junho, Sieyés persuadiu o Terceiro Estado de que havia chegado a hora de "cortar o cabo" e assumir o poder e a identidade da nação. 

Como as coisas chegaram a esse ponto? Em 6 de maio, o Terceiro Estado recusou-se a atender uma chamada de seus deputados ou que suas credenciais representativas fossem verificadas à parte do Clero e da Nobreza. Ao contrário disso, o Terceiro Estado exigiu uma assembleia conjunta com os outros dois estados. Nela os votos seriam contados por cabeça, o que lhe possibilitaria derrotar a Nobreza e o Clero. Estas Ordens privilegiadas, no entanto, seguiram para suas assembleias separadas, e ignoraram o apelo do Terceiro Estado para que viessem a se juntar aos seus deputados. 

Nesses dias iniciais, Robespierre desenvolvia uma reputação crescente, apesar da timidez. Ele identificou-se fortemente com os colegas delegados de Arras, grupo que se destacava pelo patriotismo. Mais que isso, desempenhou seu papel ao induzir a assembleia a apoiar a posição de Sieyés, qual seja, a de que o Terceiro Estado se declarar Assembleia Nacional. Isso ocorreu no dia 17 de junho, após uma semana de verificação das credenciais dos deputados. Esse ponto da crise era irreversível - qualquer possibilidade de reconciliação ou negociação com as outras duas Ordens desapareceu. Além disso, Luís XVI teria que enfrentar o princípio da soberania popular. Era o início da Revolução Francesa. 

No dia 20 de junho, os deputados foram impedidos por guardas de entrar na Salle des Menus-Plaisirs, onde iriam obter a adesão dos deputados do Clero. Seguindo então a sugestão do doutor Guilhotin (1738-1814), os deputados se reuniram em uma quadra de tênis, onde juraram que não se separariam até que "a constituição do Reino e a regeneração pública estejam estabelecidas e garantidas", independentemente das dificuldades ou do tempo que isso levasse.   

Adaptado de SCURR, Ruth. Pureza fatal - Robespierre e a Revolução Francesa. Tradução de Marcelo Schild. Rio de Janeiro / São Paulo: Record, 2009, p. 96-108.     

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