“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Luísa Mahin

terça-feira, 20 de julho de 2021

 

Foto meramente ilustrativa.

Luísa Mahin
S/l, s/d - s/l, s/d. 

Luísa Mahin foi uma importante líder de escravos que passou a maior parte de sua vida no Brasil. Não se sabe quando teria nascido, mas sua origem se deu na tribo Mahi (daí seu sobrenome), pertencente ao povo iorubá, no Reino de Daomé, onde alegava ter sido uma princesa. Alguns pesquisadores argumentam que também teria descendido dos nagôs. Veio para o Brasil "embarcada" no Forte El-Mina ou São Jorge da Mina, em Daomé, região de maioria islâmica onde foi feita escrava. Estipula-se que chegou a Salvador, na Bahia, no começo do século XIX. Ali teria trabalhado por pouco tempo até receber uma carta de alforria em 1812.

Luísa Mahin era considerada uma mulher negra, baixa, magra e bonita; com personalidade forte e solidária. Trabalhava profissionalmente como vendedora de quitutes e era muçulmana fervorosa, letrada em árabe e conhecedora do Alcorão. Tornou-se a principal responsável pela disseminação das palavras de Maomé ao atuar como oradora aos negros não convertidos.

Foi uma das principais responsáveis pela Revolta dos Malês, em 1835. Seu tabuleiro de vendas era uma das principais ferramentas para arquitetar a rebelião, era através dele, e dos meninos que adquiriam seus quitutes, que as mensagens em árabe eram trocadas. Os objetivos dos cerca de 600 escravos e negros libertos que participaram do levante eram o fim da escravidão e a instalação, no coração do Brasil, de um estado teocrático muçulmano.

A revolta não ganhou força popular porque não contou com o apoio da população negra de crenças católicas e outras práticas africanas, que temia ser excluída e até perseguida em uma sociedade muçulmana. Com um grupo pequeno, os principais responsáveis pela Revolta dos Malês teriam sido denunciados ao poder público, que os atacou de surpresa. A maioria dos líderes foi presa, mas o destino de Luísa Mahin nunca ficou esclarecido.

Acredita-se que ela teria partido para o Rio de Janeiro, deixando em Salvador o seu filho, Luísa Gama, aos cuidados de seu pai, um fidalgo português. Posteriormente, o famoso poeta e abolicionista Luís Gama dedicou muitos versos à mãe.

Dentre as teorias sobre o destino final de Luísa Mahin é que ela teria se envolvido em outras insurreições - talvez até mesmo a Sabinada (1837-38). Por isso, ela teria deportada para a África, vindo a falecer em Angola. Outros acreditam que ela teria conseguido fugir e se mudar para o Maranhão, sendo responsável pela criação do "tambor de crioula".

O certo é que Luísa Mahin se tornou um símbolo da luta dos negros e das mulheres. Ela teria inspirado o carnaval carioca com o enredo da "princesa negra" na metade final do século XIX.  


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Adaptado de ERMAKOFF, George (org.). Dicionário Biográfico Ilustrado de Personalidades da História do Brasil. Rio de Janeiro: G. Ermakoff Casa Editorial, 2012, p. 763.

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