“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Aspectos da Sociedade Persa

quinta-feira, 26 de setembro de 2024

LIVRO I

CXXXVI. Depois das virtudes guerreiras, encaram como grande mérito o ter muitos filhos. O rei gratifica todos os anos os casais prolíficos. A razão dessa tendência para uma prole numerosa está em considerarem os persas que a força viril é demonstrada pelo grande número de filhos. Estes eles começam a instruir aos cinco anos de idade, e daí até os vinte só lhes ensinam três coisas que consideram as mais importantes: montar a cavalo, atirar com o arco e dizer a verdade. Antes de completar cinco anos, um filho não se apresenta ao pai; permanece sempre junto à mãe e sob os cuidados dela. Adotam esse costume para que, no caso do filho morrer criança, a perda não cause desgosto ao pai.

CXXXVII. Tal costume me parece louvável. Aprovo também a lei que não permite a ninguém, nem mesmo ao rei, mandar matar um homem por um só crime, nem a nenhum persa punir rigorosamente um dos seus escravos por uma só falta. Se depois de refletido exame o senhor achar que as faltas do servo são em maior número e mais consideráveis do que os serviços, pode então dar expansão à sua cólera. Asseguram os persas nunca ter alguém, entre eles, matado o pai ou a mãe, pois todas as vezes que se tem notícia de um tal crime, descobre-se, depois de rigorosas pesquisas, que o filho criminosos, ou era suposto ou adulterino. Isso porque os persas não podem admitir a possibilidade de um homem matar o verdadeiro autor dos seus dias.

CXXXVIII. Não lhes é permitido falar das coisas que não podem fazer. Nada lhes parece mais vergonhoso do que a mentira, e depois da mentira, contrair dívidas; isto por várias razões, mas sobretudo porque quem possui dívidas mente por força. Um cidadão contaminado da lepra branca não pode entrar na cidade e nem ter qualquer espécie de contato com o resto dos persas, pois veem nisso uma prova de haver o indivíduo pecado contra o Sol. Todo estrangeiro atacado desse mal é afastado do país; e, pela mesma razão, não podem tolerar os pombos brancos. Não urinam nem escarram nos rios; ali não lavam nem mesmo as mãos e nem permitem que alguém o faça, pois adotam o culto dos rios.

HERÓDOTO. História. Estudo crítico de Vítor de Azevedo e tradução de J. Brito Broca. Rio de Janeiro: Ediouro, s/d, p. 69. 

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