“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

A Virgem Maria no Catolicismo e no Islã

sábado, 21 de novembro de 2015

Papa Francisco e o Grande Mufti Rahmi Yaran em 2014: avanços na agenda ecumênica 

É muito evidente a veneração à Virgem Maria no catolicismo. Apesar de antiga, tal veneração só foi oficialmente incorporada aos dogmas católicos no século XIX. A "Imaculada Conceição" - a crença de que Maria foi concebida e viveu sem pecado - só foi definida como dogma em dezembro de 1854, pelo papa Pio IX (1846-1878) (o mesmo papa que fixou o dogma da infalibilidade papal). Isso aprofundou o fosso entre a Igreja Católica e a Igreja Ortodoxa, separadas desde do Grande Cisma do Oriente, em 1054. 

Contudo, o que poucos sabem é que os muçulmanos também veneram a Virgem. Segundo o historiador Peter Brown, antes de Maomé pregar a sua mensagem já existia uma imagem da Virgem com o Menino na Caaba de Meca, ao lado de diversos ídolos árabes. Com a conquista de Meca por Maomé, em 630, os ídolos foram destruídos, mas a veneração à Virgem permaneceu. Para os muçulmanos ela é considerada a mulher mais pura, e é citada 34 vezes no Alcorão (que lhe dedica um capítulo inteiro); Jesus, que é o segundo maior profeta, recebeu 25 citações; Maomé, que é considerado o maior dos profetas, é mencionado apenas cinco vezes. O Alcorão não é um livro muito extenso, o que torna ainda mais impressionante que Maria tenha recebido tanto destaque. 

Isso explica porque, neste ano, a mais alta estátua de Maria foi inaugurada na Indonésia, o maior país muçulmano do planeta. Além disso, também neste ano foi inaugurada na Síria a Mesquita Al-Sayyida Maryam, a primeira do mundo dedicada a Maria. Outro detalhe da história das duas religiões reforça ainda mais o sincretismo. Maomé teve uma filha chamada Fátima; quando esta morreu, o profeta a considerou a segunda maior mulher no paraíso, logo depois de Maria. Ora, segundo a Igreja Católica, em 1917 a Virgem Maria teria se revelado na pequena aldeia portuguesa de Fátima, dando origem à veneração e ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima. Assim, a associação entre as duas maiores mulheres do Islã tornou-se mais intensa, e há relatos de muçulmanos que tenham se aproximado e mesmo se convertido ao catolicismo a partir da veneração à Nossa Senhora de Fátima.

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