“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

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Villa Borghese, Roma, Itália.

A Utopia de Oneida

segunda-feira, 3 de junho de 2024

A Comunidade Oneida, em 1863. Fonte: Wonderley (2017: p. 77).

A Comunidade Oneida foi fundada em Nova York, por John Humphrey Noyes, sendo uma utopia de pessoas que sonhavam em viver altruisticamente como um só família. Durante pouco mais de trinta anos (1848-1880), cerca de 250 membros partilharam as propriedades, o trabalho e o amor. Noyes acreditava ter sido nomeado por Deus para esse propósito, e a comuna aditou um tipo não denominacional de protestantismo chamado de perfeccionismo - a crença de que se a fé em Cristo for forte o suficiente o indivíduo poderia se livrar do pecado ("perfeito"), nesta vida, e de uma vez por todas. Esses perfecionistas estavam determinados a trazer o céu à Terra, neutralizando o pecado com atos altruístas. O paraíso seria o lugar onde todas as propriedades e relações (sociais e sexuais) seriam compartilhadas. Isso seria o "comunismo bíblico".

Esperava-se que aqueles que aderissem à Comunidade Oneida ingressassem na ordenança sagrada do matrimônio grupal ou pantogamia. Nesse tipo de relacionamento heterossexual, a monogamia era proibida, o celibato era desencorajado e o amor livre foi fortemente incentivado. Cada indivíduo deveria amar toda a família da comunidade, fazendo sexo com os membros do sexo oposto sem ciúmes ou egoísmo. Não deveria haver exclusividade no amor que encorajasse a formação de casais. Isso não significava que não se pudesse encontrar um prazer especial em um parceiro - desde que tal ligação aumentasse a capacidade de amar mais a todos e fortalecesse o amor por todos. Caso contrário, isso seria considerado um relacionamento exclusivo de dois egos centrados unicamente em si mesmos. Considerado desprezível e egoísta, esse tipo de vínculo era rotulado como um pecado, o chamado "amor especial".

Na utopia comunista da Comunidade Oneida, os homens evitavam a ejaculação como controle de natalidade e como meio de libertar as mulheres do trabalho penoso da gestação. O coitus reservatus pode não ser uma boa prática contraceptiva, mas parece ter funcionado razoavelmente bem em Oneida. Ao longo dos primeiros vinte anos da comunidade (1848-1868), as mulheres comunitárias tiveram cerca de 35 filhos, uma taxa de natalidade considerado muito baixa. Muitas dessas crianças, e talvez a maioria, foram intencionalmente concebidas. Noyes, por exemplo, afirmou em novembro de 1849 que nenhuma gravidez não planejada havia ocorrido em dois anos, um período em que nasceram pelo menos nove bebês em Oneida. Alguns dessas gestações podem ter sido autorizadas para mulheres que desejavam ser mães, mas se aproximavam da menopausa.

Oneida foi também uma das utopias mais bem-sucedidas do ponto de vista econômico de todos os tempos. A sua prosperidade não se baseava na agricultura, mas na manufatura. Seu produto mais lucrativo foi uma armadilha de metal idealizada por um ferreiro local chamado Sewell Newhouse.     

Bibliografia consultada: WONDERLEY, Anthony. Oneida Utopia - a community searching for human happiness and prosperity. New York: Cornell University Press, 2017, p. 100-101. 

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