“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Avistamentos de Óvnis no Brasil

terça-feira, 18 de junho de 2024

Um dos relatórios da Operação Prato, promovida pela Força Aérea Brasileira (FAB) em Colares, Pará, em 1977. O arquivo dessa operação está disponível aqui.

Questões de clima cultural e interesses comerciais sempre estiveram fortemente relacionadas ao interesse do público em óvnis. Por exemplo, relatório da Força Aérea Brasileira mostra que, no quase meio século entre os anos 1954 e 2000, mais de 20% de todos os avistamentos de óvnis registrados no país se concentraram no biênio 1977-1978, anos marcados pelo estrondoso sucesso dos filmes Guerra nas Estrelas e Contatos Imediatos do 3º Grau. Nesses anos, diversos avistamentos de óvnis foram relatados no Pará, e em particularmente em Colares, motivando a FAB a lançar a Operação Prato.

O segundo biênio mais dramático (1996-1997), com 18% do total, teve a estreia de Independence Day, filme-catástrofe em que discos voadores quase destroem a Terra. Nesse biênio, ocorreu o caso mais famoso envolvendo um óvni marcaram no Brasil: o segundo, em 20 de janeiro de 1996, um suposto objeto voador não identificado caiu na cidade de Varginha, Minas Gerais, e um ser extraterrestre teria sido avistado por três meninas e depois capturado pelas forças militares. Um ano antes, em 15 de janeiro de 1995, um suposto disco voador com duas criaturas teria caído em uma lagoa da zona rural de Feira de Santana, na Bahia.

Além das inúmeras fontes de erro, também é preciso levar em conta que a notoriedade do fenômeno óvni abriu espaço para todo tipo de fraude. É um fato histórico, por exemplo, que o primeiro "disco voador" a causar sensação no Brasil foi apenas um truque fotográfico praticado por jornalistas da revista O Cruzeiro. Outro caso citado no Brasil, o do disco voador da Ilha de Trindade, a 1,2 Km da costa de Vitória, capital do Espírito Santo, supostamente fotografado em janeiro de 1958, também é uma farsa comprovada.

A ufologia nacional é fortemente influenciada por misticismos pseudocientíficos dos séculos XVIII, XIX e XX, como teosofia, antroposofia e o espiritismo. A já citada revista O Cruzeiro - durante décadas, o veículo de comunicação mais popular do país -, que basicamente inventou a ufologia brasileira na década de 1950, jamais se furtou, nas caudalosas "reportagens" que publicou sobre o tema, de misturar alienígenas com espíritos, paranormalidade e esoterismo, reforçando e reafirmando, em vez de diluir, a confusão original. O próprio senador Girão, por exemplo, recomendou efusivamente o documentário Data Limite, uma produção baseada em profecias atribuídas a Chico Xavier. Em 1986, o médium teria afirmado que os habitantes de outros planetas do sistema solar passariam 50 anos observando a Terra, a partir do primeiro pouso na Lua. A "data limite", portanto, seria 20 de julho de 2019.     

ORSI, Carlos & PASTERNAK, Natalia. Que bobagem! Pseudociências e outros absurdos que não merecem ser lavados a sério. São Paulo: Contexto, 2023, Cap. "Discos Voadores". 

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