“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Thoreau e seu Campo de Feijões

quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Foi uma experiência singular, essa longa amizade que cultivei com os feijões, plantar, cavar, colher, debulhar, escolher ou vender - isto era o mais difícil -, e eu poderia acrescentar comer, pois também os provara. Estava decidido a entender de feijão. Enquanto eles cresciam, eu costumava trabalhar das cinco horas da manhã até o meio-dia, e em geral passava o resto do dia ocupado com outros afazeres. Considere a amizade íntima e curiosa que se forma com vários tipos de plantas - haverá um tanto de repetições, pois não são poucas as repetições no trabalho -, perturbando suas organizações delicadas de maneira tão cruel, e fazendo distinções desagradáveis com a enxada, arrancando faixas inteiras de uma mesma espécie, e conscientemente cultivando outra. Isso é absinto romano - isso é amaranto - isso é azedinha - isso é rabo-de-gato - arranque, corte, vire as raízes para o sol, não deixe nem uma fibra na sombra; se você deixar, o mato se virará de novo e estará verde como o alho-poró em dois dias. Uma longa guerra não com os grous, mas com os matos, esses troianos que tinham o sol e a chuva e o orvalho a seu favor. Diariamente, os feijões me viram vir em seu socorro armado com minha enxada e reduzir as fileiras de seus inimigos, enchendo as trincheiras de matos defuntos. Muitos Heitores vigorosos de penachos ondeantes, que resistiam trinta centímetros acima da multidão de seus camaradas, caíram sob minha arma e no pó rolaram vencidos.

THOREAU, Henry David. Walden ou A Vida nos Bosques. Tradução e notas de Alexandre Barbosa de Souza. São Paulo: Edipro, 2018, p. 142.

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