“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

«Os Gregos», de Kitto

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Não estava nos meus planos comprar esse livro, nessa altura em que aguardo ansioso pela minha defesa. Passei pela Bulhosa, que fica no Campo Grande, bem perto de onde moro, e por acaso vi-o em preço de saldo (pelo que me lembro, paguei menos de 6€ por ele). Abri-o, comecei a lê-lo, e decidi comprá-lo. Eis a sua referência:

KITTO, H. D. F. Os Gregos. Tradução e prefácio de José Manuel Coutinho e Castro; revisão de Maria Helena da Rocha Pereira. 3ª ed. Coimbra: Armênio Amado, 1990.

O lançamento do livro data de 1951, na Inglaterra. O prefácio, muito acertado, diz o seguinte:

Obra séria e profunda, aliando honestidade da investigação e à segurança informativa o ‘humor’ tão caracteristicamente britânico, constitui entusiástica e nobre apologia do espírito ático e da democracia ateniense.

O tema não é o que os Gregos fizeram, mas o que foram. Por tudo isso, há vários elementos originais ou pouco destacados pelos demais helenistas. Já na introdução, o autor destaca uma interessante questão: o termo «bárbaro» não tem o mesmo sentido atual; significava apenas aqueles que não falavam o idioma grego. Além disso, Kitto admite que tratou os homens grandes de preferência aos insignificantes, e dos filósofos mais do que os patifes. É que, para ele, os patifes são bastante iguais em toda a parte.

O livro está, assim, repleto de elementos interessantes. Limitar-me-ei a destacar alguns dos primeiros capítulos. No cap. II, «A formação do povo grego», o autor chama a atenção que, por vezes, as lendas têm sido confirmadas num grau espantoso (p. 29). Está aí uma questão metodológica interessante, muitas vezes desprezada. Nesta mesma página, destaca que há inúmeras provas de que, desde os primeiros alvores do terceiro milênio a.C. até c. 1400 a.C., Creta, e em especial a cidade de Cnossos, foi o centro de uma brilhante civilização. O autor prova, em diversos momentos, ser um linguista, um historiador que domina o idioma das suas  fontes; assim, com autoridade, destaca: «A língua grega é, por natureza, exacta, subtil e clara» (p. 47).

No cap. III, «O país», trata considerações sobre a geografia da Grécia, «terra de grande diversidade». Mesmo no séc. V a.C., muitos dos cidadãos atenienses eram, antes de tudo, lavradores. As invasões espartanas os transformaram em moradores da cidade (p. 51). As comunicações por mar eram fáceis e, desde os tempos pré-históricos, a Grécia «era convidativa e aberta aos comerciantes e outras pessoas de Creta, e depois da Fenícia (...)» (p. 53). Apesar disso, em seus primeiros tempos, os Gregos não eram comerciantes. Fator muito importante para o desenvolvimento da democracia ateniense, o clima, é, no conjunto, «muito agradável e constante» (p. 54). A escravatura, mas principalmente a vida frugal, permitia aos atenienses gozar o ócio que tanto apreciavam (p. 62). E o ócio era tão importante que só a glória era mais exaltada que ele.

Poucos foram tão sociáveis como os Gregos, e graças a isso, eles aguçaram sua inteligência e aperfeiçoaram as suas maneiras. Tal foi o caso de Sócrates, um homem que modificou a corrente do pensamento humano simplesmente falando das ruas da cidade (p. 63). Talvez, mais que qualquer outro, Sócrates combina a simplicidade e a grandiosidade dessa civilização que até hoje nos fascina.

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