“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Algo de podre no "reino" de Vera Cruz

domingo, 10 de janeiro de 2016


Um novo ano e eu inauguro uma nova seção aqui no blog, a de crônicas. Como verão, ela misturará algumas memórias políticas e pessoais.

Dias atrás, a imagem acima circulou nas redes sociais. O satírico francês Charlie Hebdo, crítico feroz do Islã e das religiões de modo geral, teria agora mirado contra o STF e contra o Lula. A imagem denunciaria a relação promíscua entre o ex-mandatário da República e a cúpula da Justiça brasileira. O título seria revelador da atual situação do país: "Confirmado: O Supremo brasileiro é uma merda." A capa seria fake, mas nem por isso menos verdadeira. 

Isso me fez recordar uma série de protestos anônimos ocorridos num muro e num barranco de Vera Cruz, em Cariacica, Espírito Santo, entre 2007 e 2009. 

À época, o município era comandado pelo petista Helder Salomão. Muitos se decepcionaram com a sua administração. O referido barranco, junto à BR 262 e praticamente em frente à prefeitura, sempre corria o risco de ceder. Uma ameaça àqueles que transitavam nas imediações. O que a administração municipal fez então? Um muro de arrimo minúsculo, de apenas alguns metros. Um pichador anônimo não perdeu tempo e alfinetou: TERMINE O MURO. Tamanha ousadia, sob as barbas do prefeito, não foi tolerada. Apagaram a pichação. O cidadão, inconformado, voltou à carga: TERMINE O MURO, DEPOIS APAGUE A VERDADE.

O muro não foi terminado e um barranco imenso ficou à disposição para novos protestos, desta vez contra o Senado Federal. Em 2007, estourou o "Renangate". No "olho do furacão", o presidente da Câmara alta brasileira, uma jornalista (com a qual ele teve um caso e uma filha) e um lobista que pagava, em nome de Renan, uma vultosa pensão alimentícia à amante do político. Após muito desgaste e pressão, o irredutível presidente do Senado se afastou do cargo, mas não renunciou ao mandato. Num processo que poderia resultar em sua cassação, por duas vezes foi absolvido por seus pares (em votação secreta). Aí que entra em cena nosso intrépido cidadão cariaciquense. No dia seguinte à primeira das absolvições, o barranco amanheceu com a frase: O SENADO É UMA MERDA.

Passados dois anos, José Sarney, aliado de Renan, ocupava a cadeira de presidente do Senado. Em junho de 2009, era denunciado por nepotismo e desvio de verbas. Contudo, nem isso e nem a intensa campanha #ForaSarney foram suficientes para impedir que o Conselho de Ética da casa arquivasse o processo contra ele. Assim, no dia seguinte ao vexame, o barranco em Cariacica apareceu com o desabafo: O SENADO CONTINUA UMA MERDA.

E assim seguimos. Em 2011 Sarney foi reeleito, deixando a presidência em 2013, quando Renan retomou o posto. E, para provar que tudo o que está ruim pode piorar, no ano passado, pela primeira vez na história, um senador em exercício foi preso - o líder do governo no Senado e no Congresso Nacional, Delcídio Amaral (PT-MS). 

Em 2016, a sensação é que o Senado, a Câmara, a Justiça e toda a República continuam uma merda.   

1 comentários:

Kassyo disse...

Não sendo pessimista!

Se continuar assim (STF emparelhado, Dilma desrespeitando a população, máfia...) não vai ser só merda, vai ser uma fossa cheia de merda.

Belo texto!

Forte Abraço

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