domingo, 22 de maio de 2016
No último dia 13 de maio, completaram-se 128 anos da abolição da escravatura no Brasil. Segundo Demétrio Magnoli, a data deveria ser comemorada como "uma festa popular em homenagem aos personagens públicos e aos milhares de heróis anônimos que conduziram a primeira grande luta social de âmbito nacional no Brasil", luta essa que derrotou a elite escravista.
Portanto, é uma lástima que tal data tenha caído no esquecimento. A fim de honrar a memória da constelação de heróis do abolicionismo, apresentar-lhes-ei dois deles. O primeiro é Luís Gonzaga Pinto Gama, poeta, jornalista e rábula.
Nascido em Salvador em 1830, Luís Gama era filho de uma negra livre que participou da Revolta dos Malês (1835) e da Sabinada (1837-1838). Pagã, ela fugiu e nunca mais deu notícias. Luís passou então aos cuidados de seu pai, um fidalgo dissoluto que acabou por vendê-lo como escravo aos dez anos de idade.
Luís foi levado à província de São Paulo, numa longa e cansativa viagem. Como ninguém quis comprá-lo, ele acabou como escravo doméstico de seu comprador inicial, na capital paulista. Foi então que aprendeu alguns ofícios, bem como as primeiras letras. Em 1848, porém, aproveitou-se de uma oportunidade e fugiu.
Luís Gama provou a sua condição de livre e ingressou no exército, onde serviu por seis anos. Depois, recebeu lições de letras e civismo e atuou no serviço público, do qual foi demitido por defender ideais liberais na imprensa e na política. Ao longo da sua vida, sem recorrer à violência e utilizando-se apenas da retórica e do Direito, libertou mais de mil escravos. Uma multidão se fez presente em sua cerimônia fúnebre, em agosto de 1882, jurando dar continuidade ao movimento abolicionista.
O desfecho desse movimento teve uma protagonista, a princesa Isabel. Aos 24 anos, quando atuava como regente em nome do imperador, seu pai, ela assinou a Lei do Ventre Livre (1871). Adquiriu então enorme prestígio junto à população.
Em Petrópolis, a princesa protegia os cativos, e chegou a presidir uma cerimônia na qual concedeu mais de 100 cartas de alforria a ex-escravos. Em 1887, com o imperador doente, ela assumiu a regência pela última vez, enfrentando a elite escravocrata e até mesmo o presidente do Conselho de Ministros, o barão de Cotegipe, a quem demitiu quando pôde. No lugar do barão, empossou João Alfredo Corrêa de Oliveira, um abolicionista declarado. Ao assinar em público a Lei Áurea, no domingo de 13 de maio de 1888, a princesa Isabel foi aclamada pela multidão como "Redentora".
Após a euforia do 13 de maio, os republicanos voltaram a conspirar contra a monarquia, tendo desde então o apoio dos fazendeiros ressentidos com a libertação dos escravos. Ao final de 1889, um golpe militar finalmente depôs o imperador D. Pedro II, menos de dois anos após sua filha extinguir a escravatura. Atribuiu-se a ela a seguinte frase: "Se mil outros tronos tivesse, mil tronos eu daria para libertar os escravos do Brasil!"
Os abolicionistas brasileiros do século XIX eram de diferentes etnias, origens e níveis sociais: homens como Joaquim Nabuco, José do Patrocínio, Antônio Bento, André Rebouças, dentre vários outros. Todos eles, juntamente com a monarquia, atuaram heroicamente ao eliminarem uma das maiores chagas da história brasileira. Que o seu exemplo sirva-nos de inspiração na luta contra os persistentes males da sociedade, como o racismo.
Publicado no Jornal A Tribuna (22/05/2016).
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