segunda-feira, 9 de julho de 2018
Batalha de Campo Grande, 1871, óleo sobre tela de Pedro Américo (1843-1905).
Localização: Museu Imperial, Petrópolis, Rio de Janeiro.
1. A Guerra do Paraguai (1864-1870) foi o conflito internacional de maior duração e, provavelmente, o mais mortífero travado na América do Sul. Teve características inéditas, quer devido às condições geográficas do território paraguaio, onde ocorreram os combates a partir de 1866; quer pela utilização de novos tipos de arma e munição; quer ainda pelas condições políticas em que se desenvolveu a guerra.
2. A partir da década de 1970, predominou a teoria de que a Guerra do Paraguai fora causado pelo imperialismo britânico. A Grã-Bretanha teria sido a responsável pela guerra, em primeiro lugar para pôr fim a um precedente perigoso - o Paraguai era governado, desde a sua independência, por homens autoritários que não se submeteram ao domínio das grandes potências e promoveram o bem-estar do povo. Depois, os britânicos pretendiam abrir o mercado paraguaio. Desde 1983, historiadores paraguaios demonstraram, no entanto, que a Grã-Bretanha se beneficiara do limitado processo de modernização paraguaio, implementado a partir da década de 1850 e restrito a aspectos militares. Já o Império do Brasil rompeu, em maio de 1863, relações diplomáticas com a Grã-Bretanha, devido à Questão Christie, restabelecendo-a somente oito meses após o início da guerra. Assim, não faz sentido responsabilizar o imperialismo inglês por desencadear o conflito.
3. Na realidade, o Paraguai era um país agrícola atrasado. O governo argentino rejeitou aceitar a independência do país, promovendo o seu isolamento sob a ditadura de José Gaspar Rodríguez de Francia (1814-1840). O isolamento favoreceu a manutenção da ditadura de Francia, mas seu sucessor, Carlos Antonio López (1844-1852) obteve o reconhecimento internacional da independência paraguaia após aproximar-se do Império do Brasil. Esse reconhecimento, somado à liberação de navegação do rio Paraná pela Confederação Argentina, após a queda do ditador Juan Manuel de Rosas, em 1852, deu início à abertura do Paraguai para o mundo.
4. A partir de meados da década de 1850, Carlos Antonio López buscou modernizar o Paraguai. Tais esforços concentraram-se no setor militar, sendo fundamentais os técnicos e os equipamentos britânicos, obtidos mediante as divisas obtidas com a exportação de produtos primários. A preocupação defensiva de López era em relação à República Argentina (que surgiu como Estado centralizado em 1862) e ao Império do Brasil. Além de disputas territoriais, existia um abismo político-ideológico que separava o Paraguai da Argentina e do Brasil, países onde funcionavam instituições liberais.
5. Em 1862, Carlos Antonio López morreu e um de seus filhos, Francisco Solano López, ministro da Guerra, sucedeu-o como ditador do Paraguai. Enquanto a política externa de Carlos López fora cautelosa e hábil, a de Solano López mostrou-se ousada e inábil, a ponto de colocar o Paraguai, simultaneamente, em posições conflitantes com os governos argentino e brasileiro. Além disso, seu regime autoritário não tinha "sentido social", mas, sim, o de uma ditadura para mantê-lo no poder. Solano López, com a família, utilizava o Estado como propriedade pessoal.
6. Solano López estabeleceu relações com a oposição federalista ao presidente argentino Bartolomé Mitre (1862-1868), principalmente das províncias de Corrientes e Entre Ríos. O comércio exterior dessas províncias escapava ao controle de Buenos Aires ao utilizar-se de portos do Uruguai, governado pelo presidente Bernardo Prudencio Berro (1860-1864), do Partido Blanco. Montevidéu era também uma alternativa possível para o comércio exterior paraguaio, o que facilitou a aproximação entre López e Berro. Este enfrentava, desde 1863, a guerra civil desencadeada por Venancio Flores, do Partido Colorado, o qual era apoiado por Mitre e, ainda, fazendeiros gaúchos com propriedades no Uruguai, cujos interesses tinham sido prejudicados por medidas do governo blanco.
7. Os pecuaristas do Rio Grande do Sul passaram a pressionar por uma intervenção brasileira em favor do rebelde Flores. Fragilizado pela "Questão Christie" (1862-1865) e temendo perder o controle dessa província meridional, que esteve separada do resto do país entre 1836 e 1844, o governo imperial decidiu, em maio de 1864, enviar José Antonio Saraiva em missão especial ao Prata, apoiada por uma esquadra de guerra comandada pelo vice-almirante Tamandaré. A intervenção ainda fazia sentido porque os colorados defendiam o livre comércio e a livre navegação dos rios platinos, o que era fundamental para que o Rio de Janeiro mantivesse contato regular com Cuiabá. Com a intervenção a favor de Flores, pela primeira vez os interesses brasileiros e argentinos coincidiam nas questões platinas.
8. Mitre, o presidente argentino, pensava em uma aliança estratégica com o Império do Brasil no Rio da Prata. A cooperação entre ambos facilitaria estabilizar politicamente a região, pondo fim às guerras civis que ameaçavam a unidade argentina. As diplomacias argentina e brasileira colocaram-se de acordo então em relação à situação no Uruguai, e avaliaram equivocadamente que o Paraguai não iria além do apoio retórico ao governo blanco. Em outubro de 1864, tropas brasileiras invadiram o Uruguai, enquanto Tamandaré apoiava ativamente a rebelião de Flores. No mês seguinte, o navio civil brasileiro Marquês de Olinda foi aprisionado logo após partir do porto de Assunção e, no final de dezembro, tropas paraguaias surpreenderam o governo imperial ao atacarem o Mato Grosso.
9. Garantida sua retaguarda ao norte, o plano de López era avançar sobre o Rio Grande do Sul, m direção ao Uruguai, onde suas tropas derrotariam as tropas brasileiras que lá se encontravam. Assim, o Império do Brasil ficaria de joelhos, e o Paraguai lhe imporia fronteiras e arrancaria outras concessões. Faria isso com o apoio do governo blanco, bem como dos federalistas argentinos, em nome da defesa da independência uruguaia.
10. Em fevereiro de 1865, o bloqueio de Montevidéu pela Marinha imperial levou os comerciantes da cidade a pressionarem o novo presidente uruguaio, o também blanco Tomás Villalba, a assinar um acordo de paz com o enviado brasileiro José Maria da Silva Paranhos. Pelo acordo, Flores ascendeu à presidência. López, por sua vez, não alterou seu plano original. Ao ordenar a invasão de Corrientes, contudo, frustrou-se ao perceber que apenas parte da população viu com simpatia a força paraguaia, e o próprio governador de Entre Ríos, Justo José de Urquiza, recuou no apoio a López. Para piorar definitivamente a situação do Paraguai, em 11 de junho de 1865, a Marinha imperial praticamente destruiu a improvisada Marinha de Guerra paraguaia na batalha travada no rio Paraná, próxima à foz do Riachuelo. A partir de então, o Paraguai ficou submetido a um ferrenho bloqueio.
11. Em 1º de maio de 1865, em Buenos Aires, os representantes da Argentina, do Brasil e do Uruguai assinaram o Tratado da Tríplice Aliança contra o Paraguai. O fracasso dos planos militares de López, todavia, não se deu apenas pela rendição dos blancos de Montevidéu, pela defecção de Urquiza e pela formação da Tríplice Aliança. Parte do fracasso se relaciona à deplorável atuação dos comandantes das colunas invasoras de Corrientes (Robles, um general inexperiente que acabou destituído e posteriormente fuzilado) e do Rio Grande do Sul (Estigarribia, um coronel que desobedeceu as ordens de não entrar nas cidades gaúchas e seguir diretamente para o Uruguai; tal erro deu tempo às forças brasileiras de sitiá-lo). Enquanto isso, o Paraguai sofria no Uruguai a sua primeira derrota terrestre na Batalha de Jataí (17 de agosto de 1865).
12. Em fins de 1865, portanto, a situação da guerra se invertera, e aos aliados cabia a ofensiva. Com o fracasso de seu plano ofensivo, Solano López ordenou o retorno de suas forças de Corrientes para o Paraguai. Entre 31 de outubro e 3 de novembro, tropas desmoralizadas e doentes cumpriram sua ordem. Tropas bem treinadas haviam sido perdidas nas campanhas do Uruguai e de Corrientes. Em Mato Grosso, no entanto, os paraguaios só se retiraram em abril de 1868, para reforçar a frente sul.
13. O comandante-em-chefe do Exército da Tríplice Aliança, o general Mitre, era injustamente visto com desconfiança pelos chefes militares brasileiros. Além disso, as forças brasileiras careciam de unidade de comando e a superioridade tecnológica da artilharia aliada era em grande parte anulada devido à escassez de terrenos secos. Com se isso não bastasse, devido a décadas de isolamento paraguaio do exterior, inexistiam mapas detalhados do interior do país, obrigando os chefes militares aliados a travarem a guerra às cegas. Por fim, a força atacante deveria ter preferencialmente o triplo dos soldados inimigos, e os aliados chegaram a ter, no máximo, o dobro de tropas em condições de combate. Essas circunstâncias retardaram a invasão aliada do Paraguai e, mais tarde, dificultaram o rompimento do sistema defensivo de Humaitá.
14. No início de 1866, López já não podia vencer a guerra, pois estava bloqueado no interior do continente. Sua única possibilidade de evitar a derrota seria o rompimento da Tríplice Aliança, o que isolaria o Brasil, privando-o do reforço das tropas argentinas e do acesso aos portos no rio Paraná. Isso não aconteceu e, na Batalha de Tuiuti, travada em 24 de maio de 1866, o Paraguai perdeu o melhor de seu Exército, os soldados mais fortes e experientes. Contudo, os aliados não aproveitaram a vitória para promover uma ação rápida e decisiva contra o inimigo desarticulado. Somente em setembro de 1866, após várias deliberações, decidiu-se por uma ação de grande envergadura contra a fortaleza de Curupaiti. Essa ação, contudo, foi um desastre que dizimou entre 4 e 9 mil argentinos e brasileiros, ao passo que as baixas paraguaias não chegaram a cem.
15. A partir de 17 de novembro de 1866, o marquês de Caxias buscou reorganizar a força terrestre brasileira. Ele conduziu o vitorioso cerco a Humaitá, cujos defensores renderam-se em agosto de 1868. Em 16 de abril de 1869, o conde d'Eu assumiria o comando das forças brasileiras. A partir de agosto desse ano, a guerra tornou-se, na verdade, uma caçada a López. No dia 1º de março de 1870, a Cavalaria e a Infantaria brasileiras lutaram contra duas ou três centenas de soldados paraguaios em Cerro Corá. López tentou fugir, mas foi ferido mortalmente por um golpe de lança pelo cabo Francisco Lacerda, o Chico Diabo.
2. A partir da década de 1970, predominou a teoria de que a Guerra do Paraguai fora causado pelo imperialismo britânico. A Grã-Bretanha teria sido a responsável pela guerra, em primeiro lugar para pôr fim a um precedente perigoso - o Paraguai era governado, desde a sua independência, por homens autoritários que não se submeteram ao domínio das grandes potências e promoveram o bem-estar do povo. Depois, os britânicos pretendiam abrir o mercado paraguaio. Desde 1983, historiadores paraguaios demonstraram, no entanto, que a Grã-Bretanha se beneficiara do limitado processo de modernização paraguaio, implementado a partir da década de 1850 e restrito a aspectos militares. Já o Império do Brasil rompeu, em maio de 1863, relações diplomáticas com a Grã-Bretanha, devido à Questão Christie, restabelecendo-a somente oito meses após o início da guerra. Assim, não faz sentido responsabilizar o imperialismo inglês por desencadear o conflito.
3. Na realidade, o Paraguai era um país agrícola atrasado. O governo argentino rejeitou aceitar a independência do país, promovendo o seu isolamento sob a ditadura de José Gaspar Rodríguez de Francia (1814-1840). O isolamento favoreceu a manutenção da ditadura de Francia, mas seu sucessor, Carlos Antonio López (1844-1852) obteve o reconhecimento internacional da independência paraguaia após aproximar-se do Império do Brasil. Esse reconhecimento, somado à liberação de navegação do rio Paraná pela Confederação Argentina, após a queda do ditador Juan Manuel de Rosas, em 1852, deu início à abertura do Paraguai para o mundo.
4. A partir de meados da década de 1850, Carlos Antonio López buscou modernizar o Paraguai. Tais esforços concentraram-se no setor militar, sendo fundamentais os técnicos e os equipamentos britânicos, obtidos mediante as divisas obtidas com a exportação de produtos primários. A preocupação defensiva de López era em relação à República Argentina (que surgiu como Estado centralizado em 1862) e ao Império do Brasil. Além de disputas territoriais, existia um abismo político-ideológico que separava o Paraguai da Argentina e do Brasil, países onde funcionavam instituições liberais.
5. Em 1862, Carlos Antonio López morreu e um de seus filhos, Francisco Solano López, ministro da Guerra, sucedeu-o como ditador do Paraguai. Enquanto a política externa de Carlos López fora cautelosa e hábil, a de Solano López mostrou-se ousada e inábil, a ponto de colocar o Paraguai, simultaneamente, em posições conflitantes com os governos argentino e brasileiro. Além disso, seu regime autoritário não tinha "sentido social", mas, sim, o de uma ditadura para mantê-lo no poder. Solano López, com a família, utilizava o Estado como propriedade pessoal.
6. Solano López estabeleceu relações com a oposição federalista ao presidente argentino Bartolomé Mitre (1862-1868), principalmente das províncias de Corrientes e Entre Ríos. O comércio exterior dessas províncias escapava ao controle de Buenos Aires ao utilizar-se de portos do Uruguai, governado pelo presidente Bernardo Prudencio Berro (1860-1864), do Partido Blanco. Montevidéu era também uma alternativa possível para o comércio exterior paraguaio, o que facilitou a aproximação entre López e Berro. Este enfrentava, desde 1863, a guerra civil desencadeada por Venancio Flores, do Partido Colorado, o qual era apoiado por Mitre e, ainda, fazendeiros gaúchos com propriedades no Uruguai, cujos interesses tinham sido prejudicados por medidas do governo blanco.
7. Os pecuaristas do Rio Grande do Sul passaram a pressionar por uma intervenção brasileira em favor do rebelde Flores. Fragilizado pela "Questão Christie" (1862-1865) e temendo perder o controle dessa província meridional, que esteve separada do resto do país entre 1836 e 1844, o governo imperial decidiu, em maio de 1864, enviar José Antonio Saraiva em missão especial ao Prata, apoiada por uma esquadra de guerra comandada pelo vice-almirante Tamandaré. A intervenção ainda fazia sentido porque os colorados defendiam o livre comércio e a livre navegação dos rios platinos, o que era fundamental para que o Rio de Janeiro mantivesse contato regular com Cuiabá. Com a intervenção a favor de Flores, pela primeira vez os interesses brasileiros e argentinos coincidiam nas questões platinas.
8. Mitre, o presidente argentino, pensava em uma aliança estratégica com o Império do Brasil no Rio da Prata. A cooperação entre ambos facilitaria estabilizar politicamente a região, pondo fim às guerras civis que ameaçavam a unidade argentina. As diplomacias argentina e brasileira colocaram-se de acordo então em relação à situação no Uruguai, e avaliaram equivocadamente que o Paraguai não iria além do apoio retórico ao governo blanco. Em outubro de 1864, tropas brasileiras invadiram o Uruguai, enquanto Tamandaré apoiava ativamente a rebelião de Flores. No mês seguinte, o navio civil brasileiro Marquês de Olinda foi aprisionado logo após partir do porto de Assunção e, no final de dezembro, tropas paraguaias surpreenderam o governo imperial ao atacarem o Mato Grosso.
9. Garantida sua retaguarda ao norte, o plano de López era avançar sobre o Rio Grande do Sul, m direção ao Uruguai, onde suas tropas derrotariam as tropas brasileiras que lá se encontravam. Assim, o Império do Brasil ficaria de joelhos, e o Paraguai lhe imporia fronteiras e arrancaria outras concessões. Faria isso com o apoio do governo blanco, bem como dos federalistas argentinos, em nome da defesa da independência uruguaia.
10. Em fevereiro de 1865, o bloqueio de Montevidéu pela Marinha imperial levou os comerciantes da cidade a pressionarem o novo presidente uruguaio, o também blanco Tomás Villalba, a assinar um acordo de paz com o enviado brasileiro José Maria da Silva Paranhos. Pelo acordo, Flores ascendeu à presidência. López, por sua vez, não alterou seu plano original. Ao ordenar a invasão de Corrientes, contudo, frustrou-se ao perceber que apenas parte da população viu com simpatia a força paraguaia, e o próprio governador de Entre Ríos, Justo José de Urquiza, recuou no apoio a López. Para piorar definitivamente a situação do Paraguai, em 11 de junho de 1865, a Marinha imperial praticamente destruiu a improvisada Marinha de Guerra paraguaia na batalha travada no rio Paraná, próxima à foz do Riachuelo. A partir de então, o Paraguai ficou submetido a um ferrenho bloqueio.
11. Em 1º de maio de 1865, em Buenos Aires, os representantes da Argentina, do Brasil e do Uruguai assinaram o Tratado da Tríplice Aliança contra o Paraguai. O fracasso dos planos militares de López, todavia, não se deu apenas pela rendição dos blancos de Montevidéu, pela defecção de Urquiza e pela formação da Tríplice Aliança. Parte do fracasso se relaciona à deplorável atuação dos comandantes das colunas invasoras de Corrientes (Robles, um general inexperiente que acabou destituído e posteriormente fuzilado) e do Rio Grande do Sul (Estigarribia, um coronel que desobedeceu as ordens de não entrar nas cidades gaúchas e seguir diretamente para o Uruguai; tal erro deu tempo às forças brasileiras de sitiá-lo). Enquanto isso, o Paraguai sofria no Uruguai a sua primeira derrota terrestre na Batalha de Jataí (17 de agosto de 1865).
12. Em fins de 1865, portanto, a situação da guerra se invertera, e aos aliados cabia a ofensiva. Com o fracasso de seu plano ofensivo, Solano López ordenou o retorno de suas forças de Corrientes para o Paraguai. Entre 31 de outubro e 3 de novembro, tropas desmoralizadas e doentes cumpriram sua ordem. Tropas bem treinadas haviam sido perdidas nas campanhas do Uruguai e de Corrientes. Em Mato Grosso, no entanto, os paraguaios só se retiraram em abril de 1868, para reforçar a frente sul.
13. O comandante-em-chefe do Exército da Tríplice Aliança, o general Mitre, era injustamente visto com desconfiança pelos chefes militares brasileiros. Além disso, as forças brasileiras careciam de unidade de comando e a superioridade tecnológica da artilharia aliada era em grande parte anulada devido à escassez de terrenos secos. Com se isso não bastasse, devido a décadas de isolamento paraguaio do exterior, inexistiam mapas detalhados do interior do país, obrigando os chefes militares aliados a travarem a guerra às cegas. Por fim, a força atacante deveria ter preferencialmente o triplo dos soldados inimigos, e os aliados chegaram a ter, no máximo, o dobro de tropas em condições de combate. Essas circunstâncias retardaram a invasão aliada do Paraguai e, mais tarde, dificultaram o rompimento do sistema defensivo de Humaitá.
14. No início de 1866, López já não podia vencer a guerra, pois estava bloqueado no interior do continente. Sua única possibilidade de evitar a derrota seria o rompimento da Tríplice Aliança, o que isolaria o Brasil, privando-o do reforço das tropas argentinas e do acesso aos portos no rio Paraná. Isso não aconteceu e, na Batalha de Tuiuti, travada em 24 de maio de 1866, o Paraguai perdeu o melhor de seu Exército, os soldados mais fortes e experientes. Contudo, os aliados não aproveitaram a vitória para promover uma ação rápida e decisiva contra o inimigo desarticulado. Somente em setembro de 1866, após várias deliberações, decidiu-se por uma ação de grande envergadura contra a fortaleza de Curupaiti. Essa ação, contudo, foi um desastre que dizimou entre 4 e 9 mil argentinos e brasileiros, ao passo que as baixas paraguaias não chegaram a cem.
15. A partir de 17 de novembro de 1866, o marquês de Caxias buscou reorganizar a força terrestre brasileira. Ele conduziu o vitorioso cerco a Humaitá, cujos defensores renderam-se em agosto de 1868. Em 16 de abril de 1869, o conde d'Eu assumiria o comando das forças brasileiras. A partir de agosto desse ano, a guerra tornou-se, na verdade, uma caçada a López. No dia 1º de março de 1870, a Cavalaria e a Infantaria brasileiras lutaram contra duas ou três centenas de soldados paraguaios em Cerro Corá. López tentou fugir, mas foi ferido mortalmente por um golpe de lança pelo cabo Francisco Lacerda, o Chico Diabo.
Bibliografia consultada: DORATIOTO, Francisco. Guerra do Paraguai. In: MAGNOLI, Demétrio (org.). História das Guerras. 3. ed. São Paulo: Contexto, 2006, p. 253-281.
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