“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Invasões dos Hunos (séc. V)

quarta-feira, 22 de julho de 2020

Enquanto o Ocidente romano buscava uma solução para o difícil problema bárbaro, a parte oriental do Império estava provisoriamente liberta deste perigo. Os imperadores reorganizavam o exército a fim de eliminar os elementos bárbaros e começavam a construir a muralha que devia proteger a cidade de Constantinopla do lado da terra. Era crucial defender a Nova Roma, visto que desde 420 organizava-se, junto da fronteira danubiana, o grande império dos hunos.

Empurrando diante deles os povos germânicos, preparando os que tinham vencido, os hunos organizaram um Estado com centro na grande planície danubiana, cujas paisagens podiam lembrar-lhes a sua estepe original. Aí, os hunos começaram a sedentarizar-se. Entrando em relações com o Império do Oriente, eles reclamaram-lhes tributos em ouro. Por volta de 445, Átila era rei dos hunos. Ele considerou-se destinado a governar o mundo e submeter todos os povos germânicos. No seu palácio haviam embaixadores oriundos do Oriente ou do Ocidente. Trata-se de uma realidade muito diferente da descrição de Amiano Marcelino no fim do século IV: os hunos civilizaram-se.

Até 450, Átila procurou progredir para o Danúbio, reclamava as populações germânicas que se haviam refugiado no Império e exigia a evacuação de toda a margem direita do Danúbio. Mas quando o sucessor de Teodósio II, o imperador Marciano, recusou pagar o tributo e repeliu as tropas húnicas, Átila virou-se para o Ocidente. Sob diferentes pretextos, invadiu a Germânia, franqueou o Reno, destruiu Metz, Reims, Troyes, e procurou atingir o mais depressa possível o país dos visigodos, que ele  considerava como súditos. Houve então uma aproximação entre godos e romanos. Aécio, generalíssimo romano que já tinha reagrupado burgúndios, francos, saxões, pediu ao rei de Toulouse, Teodorico I, para intervir. Este aceitou, e o exército romano-bárbaro libertou Orleans de seu sítio e depois perseguiu os hunos até ao Campus Mauriacus, perto de Troyes (ver o mapa). Nesta batalha, foi decidida a sorte da Gália. Átila recuou, mas no ano seguinte tomou o caminho da Itália. Já o imperador Valentiniano III fugia de Ravena para Roma. Enquanto isso, o prefeito do pretório e o bispo Leão, o Grande, negociavam a retirada de Átila. Carregado de ouro, de despojos e de prisioneiros, o exército dos hunos voltou a partir para a Panônia.

Átila morreu ali pouco depois.

Os seus filhos dividiram entre si o império, mas não se entenderam, o que facilitou a sublevação dos povos dominados: ostrogodos e gépidas.

A derrota dos hunos serviu mais aos bárbaros que ao Império do Ocidente. De 452 a 476, o poder imperial enfraqueceu progressivamente, e todo o Ocidente passou para as mãos dos germânicos. 

Adaptado de RICHÉ, Pierre. Grandes Invasões e Impérios - Séculos V a X. Tradução de Manuel J. Palmeirim. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1980, p. 76-77.

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