“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Intelectuais a serviço da manipulação

terça-feira, 2 de abril de 2024

Embora J. A. Schumpeter tenha dito que "a primeira coisa que um homem fará por seus ideais é mentir", também disse que uma área científica só se configura como tal com a constituição de "regras de procedimento" as quais podem "eliminar erros ideologicamente condicionados" em uma análise qualquer. Tais regras de procedimento são o reconhecimento implícito da falibilidade de que se impõe sobre nossa objetividade e nossa imparcialidade.

Um cientista que manipulasse os fatos a fim de favorecer uma teoria de sua preferência sobre o câncer seria considerado uma aberração e ficaria completamente desacreditado, assim como um engenheiro que fizesse o mesmo ao construir uma ponte. Este poderia ser até processado por negligência criminosa caso a ponte viesse a desabar, matando pessoas. Contudo, aqueles intelectuais cujo trabalho é tido como "engenharia social" não precisam enfrentar essas responsabilidades, mas, pelo contrário, a maioria dos casos está isenta de quaisquer responsabilidades, mesmo quando a manipulação dos fatos desemboca em verdadeiros desastres sociais.

O fato de tantos intelectuais fazerem uso do discurso sobre uma inalcançável objetividade e imparcialidade pessoal como motivo para justificar a manipulação fraudulenta que fazem dos fatos, tornando seus argumentos plausíveis, mostra, uma vez mais, o quanto a capacidade intelectual deles está a serviço da manipulação retórica e o quanto lhes falta de sabedoria. Em última instância, a questão não é sobre ser ou não "justo", contemplando "ambos os lados", mas o que é muito mais importante é ser honesto com o leitor, o qual, afinal de contas, não pagou para aprender sobre o psiquismo ou a ideologia do escritor, mas para adquirir algum conhecimento real sobre o mundo. Como Jean-François Revel coloca: "Eu não gastei sessenta centavos para ser informado sobre as vibrações emanadas pela alma desse correspondente espanhol."

Aqueles intelectuais que resolvem manipular os fatos, favorecendo os interesses de sua visão pessoal, negam aos outros o direito que têm de acessar o mundo tal como se apresenta e assim prejudicam que outros tirem suas próprias conclusões. Ter ou expressar uma opinião é algo que difere completamente da prática de bloqueio sistemático da informação, a qual impede que terceiros possam formar suas próprias opiniões.     

SOWELL, Thomas. Os Intelectuais e a Sociedade. Tradução de Maurício G. Righi. São Paulo: É Realizações, 2011, p. 228-229.

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