sexta-feira, 30 de maio de 2025
A conquista [do Sul] foi solidificada quando, em 1740, chegaram os primeiros casais açorianos, estabelecidos no Viamão, ao norte da lagoa dos Patos. Novas levas chegaram entre 1747 e 1753, reforçando a presença portuguesa na área entre Santa Catarina e o Prata.
Entre a colonização açoriana do litoral e as missões jesuíticas a oeste, passou a existir no século XVIII um novo tipo cultural, o gaúcho. Sua origem é obscura, embora os indícios admitam presumir sua constituição a partir da segunda década do século, com desertores portugueses fugidos de Sacramento, desertores e contrabandistas espanhóis fugitivos do Brasil. Unidos a mulheres indígenas, tornaram-se grandes conhecedores da região, vivendo dos rebanhos de gado selvagem e do comércio de couro com espanhóis e portugueses. A abundância de gado fazia com que promovessem sistemáticas matanças, censuradas pelos portugueses como André Ribeiro Coutinho (1740):
"Não se comendo no dito campo a carne de touros, de que se fazia a courama, se matavam as vacas, só para se comer a melhor parte e às vezes não mais que para lhes tirar o leite e fazer outras atrocidades."
Este novo tipo, o gaúcho, embora vivendo da pecuária, distinguia-se de várias maneiras do vaqueiro nordestino. Aquele prezava sobretudo a sua independência, era um predador nômade; este era um empregado ou arrendatário de um sesmeiro (isto é, um grande proprietário), um criador sedentário, na medida do possível. O historiador Jaime Cortesão traçou o perfil do gaúcho com poucas e precisas palavras:
"Homens rústicos e descalços, envoltos no poncho, hipocentauros ou sátiros aos quais não falta a viola e o cavalo, as bolas e a faca para apanhar uma rês e assar a carne de que se alimentam, apenas para adquirir o tabaco que fumam ou o mate que bebem sem açúcar todo o dia."
WEHLING, Arno & WEHLING, Maria José. Formação do Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990, p. 171.
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