“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Brasil Colônia, Séc. XVIII

segunda-feira, 2 de junho de 2025

Nos arredores do centro do Rio de Janeiro, a Igreja da Irmandade de Nossa Senhora da Glória, concluída em 1739. Óleo sobre tela de 1790. Crédito: Leandro Joaquim/Museu Histórico Nacional - Iphan.


A transferência da capital para o Rio de Janeiro, em 1763, acentuou o declínio. Convém lembrar, entretanto, que foi um declínio apenas relativo à expansão do Centro-Sul e não um processo de decadência irreversível. Basta lembrar que, comparado à produção do século, o açúcar, predominantemente baiano e pernambucano, gerou uma renda três vezes superior à do ouro. Assim, assistimos menos a uma decadência, do que a um processo de diversificação da economia colonial, por produtos - os metais e a pecuária - e regiões, fatos positivos se comparados às condições anteriores da Colônia.

Pernambuco, na primeira década do século XVIII, sofria com a retirada de escravos para as minas, o preço baixo do açúcar e o endividamento de senhores de engenho e lavradores de cana. À exceção do primeiro, todos os demais problemas já existiam há décadas, agravando-se no início do século. Essas dificuldades afloraram claramente na Guerra dos Mascates, em 1710. A oposição entre senhores de engenho pernambucanos e comerciantes lembra o conflito, na mesma época, entre paulistas e emboabas na região das minas. Mais do que uma afirmação nacionalista, o antilusitanismo que de fato existiu contra emboabas e mascates significou a afirmação de interesses locais, longamente consolidados, frente a adventícios que eram considerados meros aventureiros e especuladores.

No caso pernambucano, deve-se lembrar que os proprietários rurais, especialmente senhores de engenho, consideravam-se uma aristocracia da terra, embora tivessem tido, muitas vezes, antepassados que também eram comerciantes. Sua vida opulenta, os escravos de que dispunham e o orgulho das vitórias alcançadas na luta contra os holandeses combinaram-se para fazê-los uma aristocracia auto-atribuída. Antonil, escrevendo em 1711, afirmava num texto muito conhecido:

"O ser senhor de engenho é título a que muitos aspiram, porque traz consigo o ser servido, obedecido e respeitado por muitos (...) bem se pode estimar no Brasil o ser senhor de engenho, quanto proporcionadamente se estimam os títulos entre os fidalgos do reino."

WEHLING, Arno & WEHLING, Maria JoséFormação do Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999, p. 175.

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