“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

A Falta de Calçados no Brasil Colônia

quarta-feira, 18 de junho de 2025

Praça XV com o chafariz do Mestre Valentim, no Rio de Janeiro. Nota-se uma intensa presença de comerciantes e demais trabalhadores da região portuária, quase todos descalços. Pintura de Jean-Baptiste Debret (1768-1848).


A falta de calçados foi característica marcante da Colônia. O alto custo de sapatos e botas fez com que fossem deixados como herança em testamento, do século XVI ao XVIII, em São Vicente. Outros documentos registram casos de pessoas que não saíam à rua ou deixavam de ir à igreja por falta de sapatos, no século XVII. No Rio Grande do Sul, no século XVIII, era comum cavalgar descalço, como mostram os estribos de quatro dedos, que deixavam de fora o polegar, e o estribo em triângulo, no qual, ao contrário, só cabia o polegar. O exemplo mais marcante foi dos vicentinos. Os bandeirantes percorriam descalços quatrocentas léguas "como se passeassem pelas ruas de Madri" (Montoya, 1643).

Os portugueses que até aqui se viram são todos mancebos descalços de pé e perna com escopetas e alfanjes. (Cabildo de Assunção, 1676)

Somente na entrada das vilas os bandeirantes costumavam limpar os pés da poeira e bichos para calçar-se, o que, segundo Sérgio Buarque de Holanda, pode ter dado o nome a uma das entradas de São Paulo ("Lavapés"). 

WEHLING, Arno & WEHLING, Maria JoséFormação do Brasil Colonial. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999, p. 264.

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