“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Basílio II Bulgaróctono

terça-feira, 30 de setembro de 2025

 

Basílio II, imperador bizantino de 976 a 1025, ficou conhecido como Bulgaróctono ("o Matador de Búlgaros"). Nascido em 958, tornou-se imperador muito jovem, o que permitiu que regentes e generais poderosos como os irmãos Bardas Esclero e Bardas Focas exercessem grande influência na corte. Assim, Basílio II assumiu o controle efetivo por volta de 985 d.C.

A maior fama de seu reinado advém das guerras travadas contra o Primeiro Império Búlgaro. A campanha durou décadas. Após a batalha de Clídion (1014), cerca de 15 mil soldados búlgaros capturados foram cegados e enviados de volta ao czar Samuel, o que valeu a Basílio II a alcunha de Bulgaróctono. A guerra terminou em 1018, com a completa incorporação da Bulgária ao Império Bizantino.

Também obteve vitórias contras árabes, georgianos e outras forças orientais, consolidando as fronteiras. Graças à sua disciplina fiscal, legou ao império um dos maiores tesouros de sua história. A Igreja foi mantida sob controle do Estado, e a nobreza terratenente foi limitada; por outro lado, favoreceu os camponeses soldados (stratiotes), fundamentais para o exército bizantino.

O reinado de Basílio II assinalou o auge do poder militar e financeiro da civilização bizantina, que alcançou sua máxima extensão territorial desde Justiniano. Contudo, Basílio não deixou herdeiros diretos, e o poder passou a irmãos e parentes menos capazes, iniciando assim o lento declínio do Império Bizantino após 1025.

A Guerra de Troia

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

As principais fontes sobre o conflito entre gregos e troianos, por volta de 1200 a.C., no fim da Idade do Bronze, são as obras de Homero. Há sete anos, fizemos um post, disponível aqui.

Segundo a mitologia, a guerra começou quando Páris, príncipe troiano, raptou (ou seduziu) Helena, esposa do rei espartano Menelau. Em resposta, os gregos (aqueus) organizaram uma grande expedição liderada por Agamenon, irmão de Menelau, para atacar Troia e recuperar Helena.

A guerra durou dez anos e envolveu heróis como Aquiles, Ulisses (Odisseu), Heitor e Ájax. Quando os troianos levaram para dentro de sua cidade um enorme cavalo de madeira deixado como "presente" pelos gregos, que supostamente haviam desistido do cerco e retornado para a sua terra, eles caíram numa armadilha. Achando que haviam levado um cavalo para dentro de Troia, na verdade os troianos abrigaram guerreiros gregos, que saíram de dentro do cavalo e abriram os portões à noite. O restante dos gregos, que haviam se ocultado em ilhas próximas, retornaram, invadiram e destruíram a cidade.

Embora inspirada em fatos históricos do fim da Idade do Bronze (século XII a.C.), a Guerra de Troia, como descrita nos mitos, é sobretudo um episódio épico que envolve história e lenda.

Batalha do Trébia (218 a.C.)

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

 

Travada às margens do Rio Trébia, na Gália Cisalpina (norte da Itália), em 18 de dezembro de 218 a.C., entre as tropas cartaginesas de Aníbal e as legiões da República romana.

Aníbal havia acabado de completar a audaciosa travessia dos Alpes. Após um primeiro e menor sucesso em Ticino, o general cartaginês estava no vale do Rio Pós, reforçando suas tropas com a adesão de tribos gaulesas. Os cônsules Públio Cornélio Cipião e Tibério Semprônio Longo, uniram suas forças para enfrentá-lo.

Na manhã gelada de dezembro, Aníbal enviou a sua cavalaria númida para provocar o acampamento romano. Apressado e confiando, o cônsul Semprônio ordenou que seus 40 mil homens atravessassem o Rio Trébia imediatamente para enfrentar a cavalaria inimiga. Os legionários fizeram uma exaustiva travessia pelas águas geladas do rio, enfrentando a seguir a força principal de Aníbal, que tinha superioridade em cavalaria e elefantes de guerra. Quando as linhas principais estavam engajadas no combate, uma força oculta de 2 mil homens liderada pelo irmão de Aníbal, Magão Barca, despontou de uma ravina para atacar a retaguarda romana. As legiões, presas no centro, foram massacradas e cercadas, sofreram baixas massivas - entre 20 mil e 32 mil homens foram mortos, feridos ou capturados.

A vitória cartaginesa em Trébia foi um choque para a República romana. A derrota do exército romano deu início à sequência de grandes vitórias de Aníbal, culminando no desastre de Canas, dois anos depois.

A Dinastia Fatímida (909-1171)

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

A Dinastia Fatímida estabeleceu um Califado xiita ismaelita que governou uma vasta área do Norte da África e do Oriente Médio. A dinastia foi fundada em 909, por Abedalá Almadi Bilá, na Ifríquia (atual Tunísia) após derrubarem a dinastia Aglábida. Sua capital foi Mádia e, além da ação militar, a difusão da sua fé pelo Norte da África, pela ação de missionários ismaelitas, resultou na consolidação do seu poder pelo Magrebe.

Em 969, os fatímidas (que têm esse nome porque alegavam descender de Ali e sua mulher Fátima, filha do profeta Maomé) conquistaram o Egito. Eles fundaram o Cairo, que se tornou sua nova capital, além de um grande centro de cultura, comércio e aprendizado islâmico. A partir dali o seu controle se expandiu para a Palestina, a Síria e, por um tempo, partes da Arábia, incluindo as cidades sagradas de Meca e Medina. A rivalidade com o Califado Abássida, sunita, foi marcante. A partir do século X, os fatímidas se enfraqueceram, devido a crises internas, disputas pelo poder, crises econômicas e a ascensão de novas potências, como os Seljúcidas. Em 1171, o vizir Saladino dissolveu o Califado Fatímida, restaurando o Islã sunita no Egito e fundando a Dinastia Aiúbida.

O Bispo e o Imperador Justiniano

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Justiniano e Teodora na corte, em Constantinopla.

No contexto da Reconquista promovida pelo imperador bizantino Justiniano (r. 527-565), o soberano titubeava sobre lançar uma expedição contra a Líbia, então sob controle dos vândalos de Gelimero. João da Capadócia, prefeito do pretório e "o mais audaz e hábil de todos os homens de seu tempo", apresentou várias objeções à aventura militar, certamente custosa em termos materiais e humanos, além de ser potencialmente desastrosa em termos políticos. Então, um bispo solicitou uma audiência privada com Justianiano, conforme descrita pelo historiador Procópio:

No transcurso da entrevista que manteve com ele, disse que Deus lhe havia ordenado em sonhos dirigir-se ao imperador para censurar-lhe porque, havendo lhe encarregado de proteger os cristãos dos tiranos da Líbia, posteriormente havia se amedrontado sem qualquer razão: "E, sem dúvida", Deus prosseguiu lhe dizendo, "eu seguirei sendo aliado do imperador enquanto ele esteja fazendo a guerra e lhe tornarei o senhor da Líbia." Quando Justiniano escutou essas palavras, não pôde mais reprimir seus anseios, mas logo começou a reunir seu exército e suas embarcações, preparar as armas e os víveres e ordenou a Belisário que estivesse pronto para atuar como general na Líbia muito em breve.

PROCOPIO DE CESAREA. Historia de las guerras. Madrid: Gredos, 2000, Livro III, 10.19-21. Tradução livre.

Beija-Mão

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

A cerimônia de corte do beija-mão foi uma função medieval resgatada pelos Bragança. A representação pública colocava o monarca em contato direto com o vassalo. Este, por sua vez, lhe apresentava as devidas reverências e suplicava por alguma mercê, frequentemente concedida pelo rei. O cerimonial reforçava a autoridade paternal do soberano protetor da nação, bem como o respeito à monarquia. Regras prescritas determinavam a sequência de atos que levava ao ponto mais alto da cerimônia do beija-mão. No Brasil, o ritual do beija-mão adquiriu um caráter essencial nas cerimônias celebradas por d. João VI, que aparece em seu trono na ilustração acima, de autoria de A. P. D. G. e datada de 1826. O rei recebia o público todas as noites, exceto domingos e feriados, no palácio de São Cristóvão, acompanhado por uma banda musical. Esse ritual antiquado, como foi observado por convidados austríacos na corte carioca, fez parte do papel assumido por d. João como um monarca absoluto. Em 1871, D. Pedro II aboliu tal cerimonial.

Dabiq

terça-feira, 16 de setembro de 2025

 

Segue a capa do nº 4 da revista Dabiq, de outubro de 2014. Essa era a publicação do Daesh (também conhecido como ISIS ou Estado Islâmico). Essa edição destacou ameaças contra os países envolvidos na coalizão contra o Daesh, incluindo Estados Unidos, Reino Unido, França e Austrália. Incita ataques isolados e promete conquistar Roma, além de promover a propaganda jihadista. As mensagens reforçam o sigilo e a necessidade de ataques rápidos e discretos.

A revista contém várias ameaças e cita repetidamente a mensagem em vídeo de 21 de setembro de 2014 do então porta-voz do Daesh, Abu Muhammad al-Adnani. Trechos de sua mensagem em vídeo incluíam:

"E assim prometemos a vocês [ó cruzados], com a permissão de Allah, que esta campanha será sua campanha final. Ela será quebrada e derrotada, assim como todas as suas campanhas anteriores foram quebradas e derrotadas, exceto que desta vez nós os invadiremos depois, e vocês nunca mais nos invadirão. Conquistaremos sua Roma, quebraremos suas cruzes e escravizaremos suas mulheres, com a permissão de Allah, o Exaltado."

Pérola de Scruton (III)

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

 

Estátua do deus Hermes

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Na foto acima, de 1978, é possível ver a estátua do deus Hermes, o protetor dos viajantes, mercadores, ladrões, trapaceiros, oradores, poetas, pastores, rebanhos, atletas e ginastas. O prédio, atrás do monumento, é da EEEFM Maria Ortiz, e a praça chama-se Cecília Monteiro. O logradouro fica no Centro de Vitória, bem próximo do Palácio Anchieta, sede do governo estadual.

Ocorre que a estátua não se encontra mais ali. Após uma extensa investigação, descobri que ela foi danificada com a queda de um galho da árvore que aparece na foto. Então, em 1979 ela foi removida para reparos, e até hoje não retornou à Praça Cecília Monteiro.

O Scorpio

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

 

O exército romano tornou-se famoso pela infantaria e pela cavalaria. Porém, sua artilharia também não ficava em nada a dever. Acima, segue o Scorpio, uma poderosa máquina de guerra que também consta na seção de colecionismo do blog.

Guerreiros Árabes

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

 

Por séculos, os guerreiros do Islã dominaram os campos de batalha, da Arábia à Ásia Central, do Norte de África à Espanha. Se é verdade que rápida expansão dos árabes, a partir do século VII, não pode ser explicada sem que consideremos o enfraquecimento dos impérios Bizantino e Sassânida, bem como a indiferença dos citadinos quanto a quem os governaria, também é verdade que a coragem, a força e o senso de unidade dos árabes era reconhecido até pelos seus inimigos. Tudo isso nos remete a uma antiga profecia, que consta no primeiro livro bíblico:

"E ele será homem selvagem; sua mão será contra todo homem, e a mão de todo homem contra ele; e ele habitará na presença de todos os seus irmãos." Gênesis 16:12 (KJV)

Alexandre encoraja as suas tropas

terça-feira, 2 de setembro de 2025

 

Alexandre, o Grande foi um dos generais mais carismáticos de todos os tempos. Quando decidiu invadir o Império Persa Aquemênida, ninguém poderia imaginar que poderia vencer com a imensa desvantagem numérica e de recursos financeiros.

Na ilustração acima, o rei da Macedônia aparece animando as suas tropas antes da Batalha de Gaugamela (331 a.C.). Essa foi a terceira e última batalha entre as falanges e o exército persa. Derrotado decisivamente em Gaugamela, Dario III bateu em retirada enquanto as suas forças mergulhavam no caos. Após a batalha, Alexandre passou a caçá-lo implacavelmente; em 330 a.C., o outrora "Grande Rei" foi assassinado pelos seus próprios nobres.