quarta-feira, 16 de março de 2011
Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.), foi um dos oradores mais brilhantes da Roma antiga. Além de gênio imbatível da arte da eloquência, foi escritor, filósofo, advogado e político. Enquanto me graduava, encantava-me ao ler suas Catilinárias e sua Carta do Bom Administrador Público, manual no qual defende que o governante deve ter por objetivo máximo tornar seus subordinados as pessoas mais felizes do mundo.
Sem dúvida, Cícero é um dos personagens mais famosos da Antiguidade. No entanto, há uma faceta desse célebre romano que é menos conhecida - Cícero era um gozador. Daqueles que perdem um amigo mas que não perdem a piada.
Até então, não concebia os políticos como bem-humorados. Do contrário, eles deixam-nos bem-humorados (pois devemos rir para não chorar... rsrs). Por isso, não esperava nunca que Cícero fosse para lá de engraçado. Ora, ele não só era hilário - chegava mesmo a ser um escarnecedor, um chato daqueles que fazem "ferver" o sangue de qualquer um. Por tudo isso, foi criticado pelo biógrafo Plutarco, para quem Cícero passava dos limites. Se usasse os motejos tão-somente como recurso retórico, tudo bem; mas seu humor corrosivo era usado para ofender as pessoas, indiscriminadamente. Ao fazer isso, atraiu muita antipatia para si.
Seguem abaixo alguns exemplos das chacotas de um homem que, para muitos, é a encarnação da seriedade romana.
I) UM SENIL NA MIRA
Lúcio Gélio, um dos senadores mais idosos, asseverou que, enquanto vivesse, César não repartiria o território da Campânia entre os seus soldados. "Esperemos", disparou Cícero, "o adiamento solicitado não será longo."
II) HOMENS DE BRINCO
Diziam que um certo Otávio descendia de africanos. Numa sessão do tribunal, ele disse que não conseguia ouvir a Cícero. "No entanto", replicou Cícero, "não lhe falta buraco na orelha."
Explicação:
Os romanos consideravam bárbaros os homens que usavam brincos. Dentre aqueles que possuíam tal prática estavam os africanos que não tinham adotado a cultura latina.
III) O TEU PASSADO TE CONDENA!
Especulava-se que Marcos Gélio descendia de escravos. Em certa ocasião, enquanto lia cartas com voz clara e forte no Senado, Cícero comentou: "Não é de admirar; ele também é um dos que gritavam por liberdade."
IV) EDITAIS
Quando exerceu a ditadura em Roma (a ditadura era então uma magistratura com previsão legal que nada tem a ver com a acepção moderna de ditadura), Sila promulgara muitos editais de proscrição e morte. Fausto, seu filho, vivera uma vida desregrada que o levou à dissipação da herança. Endividado, precisou lançar editais para leiloar o que lhe restava. Cícero afirmou então que preferia os editais do filho aos do pai.
V) UM ADVOGADO DESPREPARADO
Público Consta, que pretendia ser advogado sem, contudo, possuir instrução ou talento, foi chamado por Cícero para depor num processo. Como alegava nada saber, foi humilhado por Cícero: "Quiçá cuidas estar sendo inquirido sobre questões de Direito?"
VI) PERGUNTA O QUE QUER, OUVE O QUE NÃO QUER...
Segundo alguns, o pai de Cícero era um simples trabalhador braçal (Plutarco reconhece que incertezas envolvem as origens de Cícero). Ciente disso, Metelo Nepos o incomodava persistentemente numa disputa com a pergunta: "Quem é teu pai?"
Ora, diziam que a mãe do tal Metelo era adúltera e que ele era inconstante. A resposta de Cícero foi então arrasadora: "Essa pergunta, no teu caso, tua mãe tornou um bocado difícil de responder."
Ora, diziam que a mãe do tal Metelo era adúltera e que ele era inconstante. A resposta de Cícero foi então arrasadora: "Essa pergunta, no teu caso, tua mãe tornou um bocado difícil de responder."
VII) CENSOR BEBERRÃO
Lúcio Cota, um beberrão, exercia o cargo de censor quando Cícero, candidato ao consulado, teve sede. Enquanto ele se saciava, os amigos lhe cercaram. "Tendes razão", disse ele, "de temer que se zangue comigo o censor por beber água."
VIII) NEM CÉSAR FOI POUPADO
IX) PERDOEM-NOS AS FEIAS...
Lúcio Cota, um beberrão, exercia o cargo de censor quando Cícero, candidato ao consulado, teve sede. Enquanto ele se saciava, os amigos lhe cercaram. "Tendes razão", disse ele, "de temer que se zangue comigo o censor por beber água."
VIII) NEM CÉSAR FOI POUPADO
Após derrotar as forças de Pompeu em Farsalos (48 a.C.), algumas propriedades de líderes pompeianos, que já estavam mortos ou em luta contra César, foram leiloadas. Apenas um pequeno grupo de privilegiados teve direito a pechinchas nesses leilões. Dentre eles estava Servília, amante de César de longa data. Mais ou menos nessa época, César teve um caso com uma das filhas de Servília, Tércia ou "Terceira", e supostamente com o consentimento da mãe.
Ora, Cícero não perdeu a oportunidade. Segundo ele, as pessoas não percebiam que Servília estava comprando terrenos valiosos por apenas uma fração de seu preço verdadeiro porque o preço havia sido reduzido em um "Tércio". (Suetônio, César, 50; Cf. GOLDSWORTHY, Adrian. César - A Vida de um Soberano. Rio de Janeiro / São Paulo: Record, 2011, p. 591).
Ora, Cícero não perdeu a oportunidade. Segundo ele, as pessoas não percebiam que Servília estava comprando terrenos valiosos por apenas uma fração de seu preço verdadeiro porque o preço havia sido reduzido em um "Tércio". (Suetônio, César, 50; Cf. GOLDSWORTHY, Adrian. César - A Vida de um Soberano. Rio de Janeiro / São Paulo: Record, 2011, p. 591).
IX) PERDOEM-NOS AS FEIAS...
Ao cruzar com Vocônio, que andava ao lado de três filhas muito feias, Cícero exclamou:
Contra as ordens de Febo procriou.
Explicação:
O verso, de autor desconhecido, alude a Laio, rei de Tebas, a quem Apolo proibira a procriação.
X) ESCÁRNIO VENENOSO
Um jovem, suspeito de ter colocado veneno em um bolo oferecido ao pai, cheio de ousadia, ameaçava ridicularizar a Cícero. Este disse-lhe: "Antes isso que um dos teus bolos."
XI) MAIS BEM-HUMORADO QUE TUDO
Metelo Nepos certa vez disse que nosso ácido orador condenara mais pessoas depondo como testemunha do que salvara atuando como advogado. Ao ouvir isso, Cícero replicou: "Concordo; sou mais fidedigno que eloquente."
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Fonte Primária:
Plutarco, Vidas
Cícero, 26 e 27.
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