“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

A queda do Império Romano

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011


A sua voz era fraca,
O seu andar era lento,
os seus olhos escavados.
A sua face estava caída
e a fome tinha gasto os seus membros.
Os seus ombros fracos mal conseguem
apoiar o seu escudo não polido.
O seu capacete torto mostra os seus
cabelos grisalhos e a lança que ela
carrega não passa de ferrugem.
Claudiano, De bello Gildonico, Livro XV.





Não estará seguro aquele que te esquecer.
Que possa eu louvar-te ainda que o sol se torne escuro.
Pois contar as glórias de Roma é como contar
as estrelas do céu.
Rutílio Namaciano (séc. V)

O tema sempre será apaixonante. Os antigos já debatiam-se com a questão. Além de Rutílio, Boécio (c. 480-524 ou 525) não concebia o fim da civilização romana, embora servisse na corte do rei bárbaro Teodorico, o grande. Desde Gibbon e sua colossal obra no século XVIII, até hoje, a historiografia se debruça sobre as causas da queda do maior império de todos os tempos. Aliás, são de Gibbon as palavras abaixo:

Enquanto esse grande organismo [o Império Romano] era invadido pela violência sem freios ou minado pela lenta decadência, uma religião pura e humilde foi brandamente se insinuando na mente dos homens, crescendo no silêncio e na obscuridade; da oposição tirou ela novo vigor para finalmente erguer a bandeira triunfante da Cruz por sobre as ruínas do Capitólio.
GIBBON, E. Os cristãos e a queda de Roma. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2012, p. 7.

Enfim, são múltiplas as visões sobre o fenômeno, e a posição de Gibbon é devidamente refutada na minha dissertação de mestrado. Seguindo na linha de Gibbon, Arther Ferrill e Bryan Ward-Perkins (autores, respectivamente, de A queda do Império Romano - a explicação militar e de A queda de Roma e o fim da civilizaçãodefendem que o desaparecimento político do Estado romano representou o fim de sua civilização. Por outro lado, historiadores que seguem a tendência inaugurada por Peter Brown (criador do termo Antiguidade Tardiadestacam as permanências e transformações da cultura clássica a partir do contato com o cristianismo. Finalmente, destaco uma discussão histórico-filosófica que talvez esteja no meio termo - O fim do mundo antigo, do historiador italiano Santo Mazzarino.

Como prova de que séculos de investigações não esgotaram o tema, recentemente foi lançado um livro muito interessante sobre o assunto:

GOLDSWORTHY, A. O fim do Império Romano - o lento declínio da superpotência. Lisboa: A Esfera dos Livros, 2010.

Adrian Goldsworthy já escreveu vários livros sobre a civilização romana - com destaque para a História Militar - e nesta obra defende as guerras civis e a instabilidade política como a principal causa da extinção política do Império. Um quadro panorâmico sobre o Baixo Império, e um texto tremendamente bem escrito! Ele busca aproximar a História do grande público, sem perder o rigor científico.


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- Imagem: detalhe do quadro O saque de Roma pelos visigodos em 24 de agosto de 410, de Joseph-Noel Sylvestre (1847-1926).
-Leia o artigo O fim do mundo antigo: uma discussão historiográfica, de Gilvan V. da Silva, na Mirabilia.
- Leia o artigo El fim del Imperio Romano de Occidente, de Manuel Muñoz García, na Tempora Magazine.
- Assista: The fall of the Roman Empire (1964), do diretor: Anthony Mann. Vale a pena também ver o documentário Império Romano - o último imperador.

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