“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Revolta da Chibata (1910)

domingo, 1 de abril de 2018

Capa da revista Careta, edição nº 132, de 10 de dezembro de 1910. Biblioteca Nacional. Os marinheiros brancos batendo continência a um oficial negro e a legenda "Disciplina do Futuro" constituem uma crítica ao protagonismo dos negros na Revolta da Chibata.

A maior revolta ocorrida na Marinha durante a Primeira República foi a Revolta da Chibata, iniciada em 22 de novembro de 1910. Os protagonistas do movimento foram marinheiros, quase todos negros e mulatos, recrutados entre as camadas mais pobres da população. Os revoltosos não pretendiam derrubar o recém-iniciado governo do marechal Hermes da Fonseca (15 de novembro de 1910 - 15 de novembro de 1914), e sim acabar com os maus-tratos e violência dos castigos físicos a que eram submetidos. 

O motim começou quase em simultâneo em vários navios de guerra fundeados na Guanabara, com a morte de surpresa de vários oficiais. Um de seus principais líderes era o marinheiro João Cândido (representado na capa da revista acima). Sob ameaça da esquadra revoltada, o Congresso decretou uma anistia se os revoltosos se submetessem às autoridades, estabelecendo-se um compromisso de acabar com a chibata como castigo físico constante do regimento disciplinar da Marinha. Os rebelados aceitaram as condições e o motim se encerrou. Entretanto, logo depois explodiu outra revolta, desta vez de fuzileiros navais. 

Essa revolta foi seguida de intensa repressão, que atingiu João Cândido e outros líderes da Revolta da Chibata. Um "navio da morte" - o Satélite - saiu do Rio de Janeiro com destino à Amazônia, levando marinheiros revoltados, ladrões, exploradores de mulheres e prostitutas. Muitos morreram durante a viagem ou foram fuzilados. Os envolvidos na Revolta da Chibata foram julgados sob a alegação de envolvimento no episódio dos fuzileiros navais. Por fim, acabaram absolvidos, após passarem 18 meses na prisão, onde sofreram violência física e permaneceram incomunicáveis. 

João Cândido, banido da Marinha, passou por grandes dificuldades financeiras. Em 1933, se juntaria à Ação Integralista Brasileira (AIB), chegando a ser líder do núcleo integralista da Gamboa, bairro do Rio de Janeiro. Morreu pobre e esquecido, em 1969. Em 1975, o artista João Bosco o imortalizaria na letra de Almirante Negro.  

Bibliografia consultada: FAUSTO, Boris. História do Brasil. Colaboração de Sérgio Fausto. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2013, p. 267-268.

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