“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

#15Fatos Atenas e Esparta

sábado, 25 de maio de 2019

1. Durante mais de um século após as Guerras Médicas (499-449 a.C.), Atenas e Esparta lutaram pela liderança da Grécia. Dificilmente duas cidades poderiam ser mais diferentes. Em primeiro lugar, Atenas estava num ponto de convergência, sendo um movimentado centro comercial e artesanal; seu porto, o Pireu, era um dos maiores do Mediterrâneo. Esparta, isolada no vale do Eurotas, era um Estado autossuficiente quanto à produção de alimentos, e sua única moeda eram barras de ferro.  

2. Atenas estava cheia de estrangeiros, tanto visitantes como moradores permanentes. Seu cosmopolitismo marcou, portanto, sua cultura. Na xenófoba Esparta, por outro lado, os estrangeiros eram mal recebidos e periodicamente expulsos.  
  
3. Atenas era uma grande potência naval; a força de Esparta estava em seu exército. Atenas foi um grande Estado, o maior na Grécia no século V a.C., e mesmo após sua desastrosa derrota na Guerra do Peloponeso, continuou a ser uma das principais potências. Seu exército não era muito destacado; sua marinha, porém, era incomparavelmente mais eficiente. Por séculos, Esparta permaneceu como a grande potência militar da Grécia, até porque a maioria dos exércitos gregos era constituída de amadores. Os espartanos tinham uma justa fama de coragem, firmeza e dedicação ao dever. Só foram batidos em luta aberta pelos tebanos, na Batalha de Leuctra, em 371 a.C.    

4. Os atenienses embelezaram sua cidade com esplêndidos templos e soberbas estátuas; Esparta parecia uma aldeia que crescera demais. Saiba mais sobre a Arte Clássica Greco-Romana.    

5. Atenas produzira um grande drama, as tragédias de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes, as comédias de Aristófanes, e foi o berço de historiadores como Tucídides e filósofos como Platão. Esparta não teve arte, nem literatura, e não desempenhou qualquer papel na vida intelectual da Grécia.     

6. Acima de tudo, Atenas era progressista, fervilhando de novas ideias; Esparta era intensamente conservadora. Atenas inventara a democracia, ao passo que Esparta se apegava insistentemente a uma constituição arcaica.      

7. A estrutura social e política de Esparta resultou inevitavelmente em esterilidade cultural. Seus cidadãos eram treinados rigorosamente desde a infância para serem bons soldados. Essa pequena elite - os espartanos - era sustentada pelo trabalho de um número muito maior de servos, os hilotas. Os hilotas da Messênia, conquistados posteriormente, se ressentiam de sua condição e sempre alimentavam esperanças de recuperar a independência - o que vieram a conseguir em 369 a.C.    

8. Os espartanos mantinham sua supremacia pelo terror. Anualmente, os éforos declaravam guerra aos hilotas: qualquer espartano que matasse um deles não seria, então, culpado de assassinato. Jovens espartanos também eram enviados todos os anos para espionar e matar hilotas considerados perigosos. Tais medidas nem sempre eram suficientes. Em 424 a.C., os espartanos decidiram convidar os hilotas a se alistarem, oferecendo-lhes, em troca, a liberdade. Dois mil voluntários se apresentaram, e jamais se ouviu falar novamente deles.  

9. A estabilidade política de Esparta era excepcional no mundo grego, sendo quase a única entre as cidades helênicas a preservar a monarquia. Ainda que tenham perdido a maioria de seus poderes internos, os reis continuaram sendo os comandantes-chefes do exército espartano. A assembleia dos espartanos votava sobre questões importantes, mas não podia tomar iniciativas ou debater as questões a ela submetidas.       

10. A principal atração de Esparta era a sua aristocracia perfeita. Seus admiradores atenienses eram, quase exclusivamente, cidadãos das classes superiores, como Platão. Para esse discípulo de Sócrates, o governo era uma arte difícil, que devia se limitar aos peritos. Além disso, esses pensadores acreditavam que o estado devia treinar e disciplinar seus cidadãos para que levassem uma vida digna e, nesse sentido, Esparta parecia uma aproximação, embora imperfeita, de seu ideal.   

11. Em Atenas, por outro lado, prevalecia a liberdade, um dos principais anseios da democracia. Aristófanes não só podia produzir comédias que ridicularizavam as instituições básicas da democracia como era premiado por elas. Filósofos e teóricos da política, como Platão, Isócrates e Aristóteles, podiam publicar seus ataques radicais ao ideal democrático, e viviam sem ser molestados. 

12. A democracia ateniense não era uma farsa. É inquestionável que se limitava a homens adultos e livres, descendentes de atenienses, mas o conjunto de cidadãos compreendia todas as classes, desde os mais ricos até os mais pobres. Todos os cidadãos - a menos que tivessem perdido seus direitos por algum crime - podiam comparecer à assembleia e votar e, ainda, pronunciar discursos e apresentar moções. 

13. Os democratas atenienses julgavam que os méritos do sistema lhe compensavam os defeitos. Em primeiro lugar, tinham a convicção, não totalmente injustificada pelos resultados, na sabedoria coletiva das massas. Em segundo lugar, argumentavam que, na maioria das questões políticas, o cidadão comum era melhor juiz dos assuntos que lhe afetavam o próprio bem-estar. Finalmente, sustentavam que, se o perito podia falar melhor em assuntos técnicos, a maioria das questões políticas dependia de considerações morais, e que sobre estas todos estavam habilitados a falar.    

14. O sorteio era a principal instituição na manutenção da igualdade, razão pela qual os atenienses o consideravam uma das pedras fundamentais da democracia. Vale lembrar que o sorteio era feito exclusivamente entre os cidadãos que nele se inscrevessem, e o povo ateniense esperava, e exigia, um padrão muito elevado de seus magistrados. 
  
15. Mais do que proporcionar um alto nível de eficiência administrativa e de justiça social, a democracia deu aos cidadãos uma rica vida cultural. O próprio Estado construiu grandes edifícios públicos que ainda são incluídos entre as obras-primas do mundo; promoveu, igualmente, festivais de música e drama. A tolerância democrática permitia liberdade à especulação e discussão de novas ideias, e Atenas não só produzia grandes pensadores como atraía filósofos e cientistas de todas as partes do mundo.    
  
Bibliografia consultada: LLOYD-JONES, Hugh. O Mundo Grego. Rio de Janeiro: Zahar, 1965, p. 65-77.

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