“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

"Justiça Social" e "Direitos Sociais"

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

A expressão "justiça social" não passa de uma fraude semântica da mesma linha de "democracia popular". O conceito induz as pessoas a acreditarem que existe uma "justiça privada". 

"Social" se aplica a tudo o que reduz ou elimina as diferenças de renda. Nesse sentido, todo apelo para que sejamos "sociais" é, na prática, uma exortação para que se avance rumo à "justiça social" do socialismo. Isso, porém, é irreconciliável com uma ordem de mercado competitiva e com o desenvolvimento e mesmo a manutenção da população e da riqueza. Desta forma, por meio desses equívocos, as pessoas passaram a chamar de "social" o que constitui o principal obstáculo à manutenção mesma da "sociedade". O "social" deveria, na realidade, chamar-se "antissocial". 

Todo o conceito por trás da expressão justiça distributiva - segundo a qual cada indivíduo deveria receber o que merece moralmente - é desprovido de sentido na ordem ampliada da cooperação humana, pois o produto disponível depende de uma forma de alocar suas partes que é, em certo sentido, moralmente indiferente. O mérito moral simplesmente não pode ser determinado de forma objetiva e, seja como for, a adaptação do todo maior aos fatos ainda a descobrir exige que aceitemos que o sucesso não se baseia na motivação, e sim nos resultados. 

Se o interesse comum é de fato nosso interesse, não devemos ceder a esse aspecto instintivo demasiado humano, mas, ao contrário, permitir que o processo do mercado determine as recompensas. Ninguém é capaz de avaliar, exceto por intermédio do mercado, a dimensão de uma contribuição individual ao produto global. 

Uma ética anticapitalista continua evoluindo com base em erros cometidos por pessoas que condenam as instituições geradoras de riqueza, às quais devem a própria existência. Fingindo-se amantes da liberdade, elas condenam a propriedade privada, o acordo, a concorrência, a propaganda, o lucro e até o próprio dinheiro. Imaginando que sua razão pode lhes mostrar como organizar os esforços humanos para melhor servir aos seus desejos inatos, elas mesmas representam uma grave ameaça à civilização.   

Adaptado de: HAYEK, Friedrich A. von. Os erros fatais do socialismo. Tradução de Eduardo Levy. Barueri: Faro Editorial, 2017, p. 160-162.

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