“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Sátira Antissemita Medieval

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Os judeus resgatavam, durante o shabat, um animal que tivesse caído num buraco (ver Mt 12:11). Mas, e se um ser humano estivesse na mesma situação?

Pode-se dizer que o antissemitismo cresceu na medida do desenvolvimento da arte e da literatura e em função de sua difusão entre as massas populares. Não há quase gênero, trovas, sátiras, legendas ou baladas, de onde os judeus estejam ausentes ou não sejam descritos em cores ridículas ou odiosas, amiúde por meio do toque escatológico de que o século XIV era tão ávido. Esses temas se entrecruzaram e caminharam de país para país.

Uma sátira francesa do século XIV, escrita em língua vulgar, põe em cena um judeu de Paris, muito renomado entre seus correligionários, que um dia cai nas latrinas públicas. Os outros judeus se reúnem para acudi-lo. "Poupai-vos", grita o desafortunado, "de me tirar daqui, pois é o dia do shabat, e esperai até amanhã, para não violar nossa lei." Eles lhe dão razão e se afastam. 

Cristãos que estavam presentes se apressam a anunciar o fato ao rei Luís. O soberano então dá ordens a seus homens a fim de impedir que os judeus tirem o correligionário da fossa no dia do Senhor. "Ele observou o shabat; observará também nosso domingo."

Assim feito, e quando retornaram na segunda-feira para tirar o infeliz de sua deplorável posição, estava morto.     

Adaptado de POLIAKOV, Léon. De Cristo aos Judeus de Corte. Tradução de Jair Korn e J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva: 1979, p. 106.

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