domingo, 28 de junho de 2015
A transição da Idade do Bronze à Idade do Ferro no Mediterrâneo Oriental é um dos aspetos mais apaixonantes dos albores da nossa civilização. O tipo de relações que se estabeleceram entre os povoadores destas áreas geográficas, as razões do colapso dos grandes centros de poder e a transição a uma nova era são questões que o mundo acadêmico se esforça para responder. Na semana passada conversamos com Jesse Millek, que estudou esse processo no Levante. Nesta ocasião procuramos a Louise Hitchcock, professora associada da Universidade de Melbourne, que possui uma larga experiência nestes assuntos.
Cerêmica cretense. Museu Arqueológico de Atenas. Foto: Mario Agudo Villanueva
Pergunta - Você acaba de publicar um artigo na Biblical Archaeology Society no qual defende a influência dos povos do Egeu, especialmente na Idade do Bronze, nos povos bíblicos. Estamos falando de uma influência unidirecional ou bidirecional?
Louise - A influência foi absolutamente bidirecional. (...) Nós sabemos que os minoicos foram importando iconografia, materiais brutos, novas tecnologias como a tecnologia de casco profundo e mastro para os seus navios, reduzindo assim o espaço marítimo e levando-lhes mais longe da esfera do Oriente Próximo. (...) Símbolos iconográficos como a torneira e os gênios, foram importados do Egito e da Mesopotâmia, respectivamente. As convenções de gênero do uso do vermelho para homens e do branco para as mulheres foram trazidas do Egito e tem se argumentado que o côvado egípcio foi utilizado na arquitetura minoica. (...)
Pergunta - Quais eram as principais influências que podemos destacar nessas relações?
Louise - Podemos colocá-las na categoria de intercâmbio comercial/presentes de materiais em estado bruto, produtos manufaturados e execução de arte.
Pergunta - Você está de acordo sobre a controvertida teoria da Talassocracia Cretense?
Louise - Penso que há uns anos, os acadêmicos especializados no Egeu eram relutantes em falar da questão da talassocracia. Isso porque viam nela uma ideia que Tucídides promoveu para legitimar a talassocracia ateniense no século V a.C. Curiosamente, na última Conferência Internacional sobre o Egeu, celebrada em Viena, Malcolm Wiener sugeriu que deveríamos retomar essa ideia e eu estou de acordo. Penso que, no momento em que se celebrou a conferência, sabíamos muito mais sobre as rotas marinhas e de comércio que antes. Além disso, sabemos que quando se produziu o colapso micênico, as redes comerciais também caíram, e as costas de Creta restaram desoladas, provocando um movimento da população para as partes mais altas e seguras. Se observarmos a era dos palácios e das vilas minoicas, podemos notar que muitos deles ocupavam posições estratégicas ao lado de vales de rios e próximos da linha costeira. Eles poderiam ter constituído uma presença que criara uma sensação de segurança por um tempo. Então, penso que necessitamos revisitar essa ideia, considerando a relação dos palácios e vilas minoicas com a paisagem.
Leia a entrevista completa AQUI.
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