“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

Waterloo e o fim de um sonho

quinta-feira, 18 de junho de 2015

A Batalha de Waterloo (1852), de Clément-Auguste Andrieux (1829-1800).

Em 1799, a Revolução Francesa chegava ao fim com o golpe do 18 Brumário. O governo do Diretório era substituído pelo Consulado. Entre 1799 e 1802, Napoleão Bonaparte governou a república francesa como primeiro-cônsul. Em 1802, tornou-se primeiro-cônsul vitalício e, finalmente, tornou-se imperador em 1804. A partir de então, até 1815, quando foi definitivamente derrotado em Waterloo, Napoleão governou a França e boa parte da Europa. 

O sonho desse general nascido na ilha de Córsega era unir as nações europeias numa confederação. A coesão de nações tão díspares se daria a partir de "uma unidade de códigos, princípios, sentimentos e interesses". Napoleão formaria repúblicas independentes na Inglaterra e Irlanda e libertaria a Espanha da superstição. O reino da Polônia seria restabelecido como um Estado-tampão entre os russos (a quem chamava de "bárbaros do norte") e o resto do continente. Finalmente, o império poliglota da Áustria seria separado, a Hungria seria liberta e os turcos seriam expulsos da Europa.

Para tal empreendimento (no qual Napoleão quase foi bem-sucedido), seria fundamental o exército revolucionário, formado a partir do recrutamento militar universal e exércitos de massa. Para controlar essa grande quantidade de homens, os generais revolucionários criaram o sistema de divisões (de artilharia, cavalaria e infantaria).

A estratégia era o forte do general Napoleão, e ele espalhava suas divisões extensamente, ocultando dos inimigos o seu real objetivo. Em combate, dirigia uma "cunha" entre as forças inimigas, concentrando-se em uma parte, destruindo-a antes de atacar a segunda parte. Assim, perseguindo a tática de sempre estar na ofensiva, ele levou a sua Grande Armée, formada por 75 mil franceses, a derrotarem 80 mil russos e 25 mil austríacos na Batalha de Austerlitz (02 de dezembro de 1805).

Se Austerlitz provou a genialidade e a supremacia de Napoleão no combate em terra, a batalha naval de Trafalgar, travada a 20 de outubro de 1805, mostrou que os ingleses eram imbatíveis no mar. Assim, em 1806 Napoleão emitiu o Bloqueio Continental, cujo objetivo era arruinar economicamente a Inglaterra. O país que o descumprisse, comercializando com os britânicos, seriam invadidos pelo Grande Exército.

Napoleão orgulhava-se de ser o campeão das pessoas comuns contra opressores aristocráticos, mas na Espanha e na Rússia as pessoas comuns não apoiavam as suas ações. Entre 1808 e 1812, os espanhóis travaram feroz luta contra o ocupante francês. Os franceses - que em junho de 1808 haviam substituído o rei espanhol por José Bonaparte - foram humilhados no dia 21 de julho do mesmo ano, na Capitulação de Bailén. O mito da invencibilidade do Grande Exército estava desfeito.

Portugal foi a primeira nação a desrespeitar o Bloqueio Continental. Em retaliação, em 1808 as tropas francesas cruzaram a Espanha e invadiram o país, forçando a família real portuguesa a se transferir, com apoio britânico, para o Brasil.

Entre 1810 e 1811, o Império Francês alcançou a sua máxima extensão territorial. Contudo, o ano de 1812 marcaria o começo do fim, com a invasão do Grande Exército à Rússia do czar Alexandre I, outra nação que descumpria o Bloqueio Continental.

Napoleão conduziu uma imensa força de 600 mil homens pela "terra queimada" russa. Abatidos pela guerrilha, pelo inverno rigoroso, pela fome e por doenças, 100 mil sobreviventes retornaram a Paris.

A Sexta Coalizão antinapoleônica (Inglaterra, Prússia, Rússia e Áutria) não deixou passar a oportunidade e derrotou 160 mil franceses na Batalha de Leipzig (16-18 de outubro de 1813). A seguir, os coligados iniciaram uma campanha que começou em dezembro, e terminou em março de 1814, com a Capitulação de Paris. Em 6 de abril, Napoleão abdicou, sendo enviado à ilha de Elba.

Contudo, Napoleão ainda não estava vencido. Retornou à França, onde iniciou o Governo dos Cem Dias. Quando isso ocorreu, o Congresso de Viena estava em curso, e os inimigos da revolução planejavam uma ampla campanha pela Europa, a fim de eliminar definitivamente a ameaça napoleônica. No entanto, Napoleão estava de volta ao seu posto, e deu o primeiro passo. Em junho de 1815, ele conduziu 72 mil homens à Batalha de Waterloo.

Sua intenção era derrotar os ingleses (comandados por Wellington) e os prussianos (comandados por Blucher), antes que eles pudessem se unir. Depois, Napoleão abateria os russos e os austríacos. 

Infelizmente para Napoleão, sua estratégia não funcionou em Waterloo. Os Aliados conseguiram se unir e colocar um ponto final ao Primeiro Império da França. O seu imperador abdicou e foi enviado ao exílio em Santa Helena, onde morreu, em 1821. 

Era o fim de uma Era. Hoje, uma Europa quase tão unida quanto sonhava Napoleão, lembra a batalha travada duzentos anos atrás:

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