“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

«A Revolução Industrial», de P. Deane

domingo, 27 de dezembro de 2015

Um ponto importante que se coloca, quando tratamos da Revolução Industrial, é desvendar as suas origens. O livro acima, publicado pela carioca Zahar em 1969, aborda essa e outras questões. No cap. VIII ("A cronologia da inovação"), Phyllis Deane aponta que debates acalorados envolvem esse tema, e as origens de algumas das inovações do período da industrialização podem ser vislumbradas em séculos anteriores. Embora a transformação decisiva da passagem da manufatura para a maquinofatura na Inglaterra tenha ocorrido entre 1750 e 1850, as descontinuidades da história são mais dramáticas do que suas continuidades (p. 139). Cumpre-nos analisar o conjunto de inovações das últimas três décadas do século XVIII (p. 140).

O crescimento econômico moderno depende, mais do que qualquer outro fator, dum processo de mudança técnica. A Inglaterra foi beneficiada porque inovação estava "em grande moda" em meados do século XVIII (p. 143). A primeira década da história inglesa na qual mais de 200 patentes foram concedidas foi a de 1760 (p. 153). 

Um fator importante nas mudanças do mercado interno britânico foram os Cercamentos dos campos. Embora eles já ocorressem há séculos, foi quando o cercamento coercitivo atingiu o seu ápice (entre 1793 e 1815) que os métodos da maioria dos lavradores começaram a ser afetados. Assim, houve uma expansão da economia monetária e, no início do século XIX, o produtor de subsistência foi eliminado (com raras exceções) (p. 144 e p. 151). Além de provocar mudanças no mercado interno, a aceleração no ritmo do crescimento econômico também impactou o mercado externo, na medida em que os preços e os custos declinavam na agricultura e indústria inglesas, impulsionando as exportações (p. 151).

"Na indústria manufatureira, a transformação técnica foi mais evidente e mais completa nas indústrias têxteis, especialmente na algodoeira, e nas indústrias metalúrgicas, especialmente na siderúrgica" (p. 146). Nas outras indústrias manufatureiras, a única mudança técnica relevante do final do século XVIII foi a utilização da força a vapor em lugar da força hidráulica ou da força animal (p. 147). É notável o quão lentas foram as transformações da Revolução Industrial - segundo Deane, no início do século XIX a maioria dos "industriais" ainda era formada por artesãos (p. 148).

Duas circunstâncias forneceram um estímulo da oportunidade econômica, sendo particularmente encorajadoras para a inovação: 1ª) as colheitas extremamente boas do período 1715-1755; 2ª) a posição confortável na qual a Grã-Bretanha esteve entre 1783 e 1815 para explorar os mercados em rápida expansão na Europa ocidental e nos Estados Unidos (p. 152). 

Não devemos imaginar que todas as invenções da Revolução Industrial fizeram um sucesso imediato. A lançadeira de tear de John Kay, por exemplo, difundiu-se lentamente, assim como o tear mecânico de Cartwright. Por outro lado, a spinning jenny, a fiandeira mecânica criada por James Hargreave em 1764, multiplicou a produção do fiandeiro individual em cerca de 16 vezes, difundindo numa rapidez espetacular. Bem-sucedida também foi a fiandeira hidráulica patenteada por Richard Arkwright em 1769 (p. 155). 

"O feito mais importante da revolução industrial foi que ela converteu a economia britânica duma economia baseada na madeira e na água para uma alicerçada no carvão e no ferro" (idem). A força do vapor e o processo de pudlagem de Cort (que produziu um ferro maleável e mais barato) foram invenções decisivas que viabilizaram a Revolução Industrial, assegurando um processo uma industrialização e mudança técnica contínuas, gerando, portanto, crescimento econômico prolongado. O engenho a vapor de Watt (construído pela primeira vez em 1775), ofereceu um amplo campo de aplicações imediatamente viáveis (ibidem).

"(...) Aplicado às ferrovias e aos navios, o ferro foi um material de construção de resistência extremamente elevada e com o auxílio da máquina a vapor revolucionou a indústria do transporte." Essas duas invenções introduziram mudanças tecnológicas radicais nas indústrias que produziram bens de capital (p. 157).

Antes da década de 1820, somente a indústria algodoeira e a indústria siderúrgica experimentaram uma mudança técnica extremamente bem-sucedida e rapidamente difundida (p. 158). Como se vê, os avanços técnicos na chamada "Primeira Revolução Industrial" foram lentos. 

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