“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

#15Fatos América Latina Independente

sexta-feira, 11 de maio de 2018

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1. Em 1820, os dois vice-reinados mais importantes do Império Espanhol - a Nova Espanha (futuro México) e o Peru - ainda não haviam alcançado a independência. No entanto, cinco anos mais tarde, com a derrota definitiva das forças realistas no Alto Peru (atual Bolívia), todo o continente rompera com suas metrópoles. Em 1822, o Brasil também rompeu com sua metrópole, Portugal. Apenas as ilhas de Cuba e Porto Rico permaneciam sob o domínio da Espanha. 

2. Durante os combates pela independência, a América do Sul esteve exposta a uma luta incerta, em que a vitória de um dos lados não era evidente e em que a sorte mudou de rota muitas vezes. As sociedade dividiram-se entre a adesão à causa da independência e a lealdade à Coroa espanhola. Medo, insegurança e esperança misturaram-se, e quando a guerra começou os sonhos de diversos segmentos da sociedade foram alimentados.

3. A conquista da independência das colônias espanholas marcou o rompimento dos laços políticos com a metrópole e também indicou que complexas tarefas mostravam-se urgentes: construir os novos Estados, montar uma estrutura administrativa, delimitar fronteiras, organizar instituições para garantir a ordem e o controle sociais e, além de tudo isso, reanimar as combalidas economias. 

4. A América espanhola optou pelo regime político republicano. No entanto, lá também existiam defensores da Monarquia, como foi o caso de José de San Martín (1778-1850). Para eles, esse regime seria o único capaz de garantir a ordem política e manter a coesão social.

5. Os desprovidos de recursos - quer econômicos, quer culturais - contavam que a independência fosse acompanhada de reformas sociais, como acesso à terra, melhores condições de vida e maior participação política. Quando as esperanças se frustraram, eles se rebelaram contra os que assumiram o poder nos novos Estados constituídos. 

6. As primeiras décadas após a independência foram marcadas por grande instabilidade política. Tal instabilidade resultou do confronto entre adversários que tinham propostas conflitantes para o futuro dos novos países: organização centralizada ou federalista de governo; manutenção dos privilégios das corporações e dos foros especiais relativos ao Exército e à Igreja; finalmente, debates sobre a participação política popular - os significados e o alcance da democracia. 

7. Um dos que se posicionaram contra à ampla participação popular foi Simón Bolívar (1783-1830). Isso pode ser conferido em sua famosa "Carta da Jamaica", escrita em 1815. Em 1819, no decisivo Congresso de Angostura, na Venezuela, Bolívar propôs que o Senado, ao invés de ser eleito, deveria ser hereditário, para evitar as "investidas" do povo. Mais tarde, em 1825, propôs a presidência vitalícia ao Congresso Constituinte da Bolívia. 

8. Bernardo de Monteagudo (1789-1825) foi outra figura de destaque do período da independência. Ardoroso adepto da democracia na juventude, acompanhou San Martín, de quem foi secretário, e com o passar dos anos moderou cada vez mais suas posições. Chegou mesmo a tornar-se monarquista. Como ministro do Exterior do Peru, após a independência, fez inimigos políticos poderosos. Acabou assassinado numa rua de Lima, em 1825. 

9. Na Argentina, após a independência, a divisão política entre os unitários e os federalistas foi tamanha que provocou guerras civis intermitentes. Líderes políticos locais ou provinciais (os "caudilhos"), à frente de grupos armados, impediram a organização de um Estado nacional centralizado até 1862, quando Bartolomeu Mitre assumiu a presidência do país. 

10. No México, formaram-se dois grupos políticos: os liberais e os conservadores. Diferentemente do que aconteceu no Brasil no século XIX, estes dois partidos chegaram à guerra civil, uma vez que seus projetos para a construção do Estado eram profundamente antagônicos. 

11. De maneira geral, os conservadores tinham preferência pelo regime monárquico, estavam estreitamente ligados à Igreja Católica e eram defensores dos foros privilegiados da Igreja e do Exército e das demais corporações coloniais. Como em nenhum outro país da América Latina, a luta pelos bens da Igreja dividiu tão fortemente a sociedade e deflagrou uma guerra civil de proporções tão sérias. 

12. Os liberais defendiam a República, queriam um Estado separado da Igreja e exigiam a extinção dos foros especiais eclesiásticos e a nacionalização de seus bens, assim como a desestruturação das formas de organização sociais próprias da colônia, incluindo as das comunidades indígenas. 

13. Ao contrário da Argentina, no México não existiam divisões tão fortes entre as regiões que compunham o país. Ainda assim, a consolidação do Estado mexicano só aconteceu na segunda metade do século XIX, e a longa luta entre conservadores e liberais terminou com a vitória destes últimos e a subordinação da Igreja ao Estado laico.

14. José Maria Luis Mora (1794-1850) inscreveu-se nos debates políticos do México pós-independência como um dos mais notáveis defensores dos princípios liberais, identificando-se fortemente com o liberalismo constitucional francês, especialmente com o de Benjamin Constant. Apesar disso, via o caos político, a desordem social e as lutas intestinas como uma consequência da "igualdade". Um liberal ainda mais radical, Lorenzo de Zavala, afirmou, em 1833, que no México não havia e não haveria democracia, pois o "despreparo" da população era enorme. 

15. Entre 1850 e 1860, Benito Juárez (1806-1872) foi o protagonista da chamada Reforma Liberal. Ele procurou dissolver as formas tradicionais de posse corporativa de terras e de bens imóveis, instaurando uma profunda inflexão na estrutura da Igreja Católica e dos pueblos indígenas. 

Bibliografia consultada: PELLEGRINO, Gabriela & PRADO, Maria Ligia. História da América Latina. São Paulo: Contexto, 2016, p. 29-30 e 43-57.

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