“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

A Imortalidade da Alma no Egito Antigo

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Ilustração do processo da mumificação no Egito Antigo: preparativos para a passagem para o Além.

A crença na vida eterna foi uma notável invenção do antigo Egito. Mas, para que o defunto atingisse o paraíso, onde poderia fruir a imortalidade, era preciso que ressuscitasse. A crença na ressurreição foi outra "precípua criação do espírito egípcio" (Araújo, 2015: p. 119) - para que o novo ser, munido do seu Ka e do seu ba, transformando num ser luminoso (akh), vivesse para sempre, com estes três componentes vitais do corpo humano, como um deus, um netjer

Segundo os textos funerários, o defunto queria viajar no céu na sua bela barca solar, equiparado a um deus, para poder alcançar o paraíso - e não só. Ele pretendia sair de lá para navegar pelo cosmos e ao paraíso regressar em eterna viagem. Viajar, sem limites, pela eternidade a bordo da barca solar - eis o derradeiro anseio dos egípcios que almejavam a outra vida. Nos velhos Textos das Pirâmides, o mundo do Além (Duat) era referido como se estivesse no céu. O rei falecido é chamado a subir ao céu por uma escada, uma ténue nuvem de poeira ou num redemoinho de vento, podendo ainda alcançar o Além sob a forma de uma ave. 

Ao longo do tempo, acumularam-se no Egito as mais diversas crenças de vida eterna e concepções acerca do outro mundo que não eram idênticas em todos os locais. Nenhuma das ideias sobre a vida eterna eliminou as outras, antes se misturaram. Assim, afinal, o morto estava ao mesmo tempo no céu, na barca do deus, debaixo de terra a laborar os Campos de Taru (o paraíso de Osíris), na sua tumba a desfrutar das suas provisões; por vezes até podia retornar à Terra para rever os locais onde vivera, e poderia aproveitar para prejudicar alguém de quem não gostasse. Estabeleceu-se, então, um compromisso: de dia o morto ficava no seu túmulo, sendo possível viajar para o mundo dos vivos (na sua forma de Ka ou de ba); de noite acompanhava a viagem da barca solar como um akh, parando, por momentos, nos campos de Osíris; voltava o dia e o defunto regressava ao seu túmulo, para aí reencontrar "a sombra e a frescura".  

Bibliografia consultada: ARAÚJO, Luís Manuel de. O Egito Faraônico - uma civilização com três mil anos. Revisão de Raul Henriques. Lisboa: Arranha-céus, 2015, p. 119-121.

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