“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel

“Quem não é capaz de sonhar com a história diante dos documentos não é historiador.” F. Braudel
Villa Borghese, Roma, Itália.

A Defenestração de Praga

domingo, 7 de julho de 2019

A Defenestração de Praga de 1618, uma ilustração de Matthäus Merian (1593-1650).

O imperador romano-germânico Rodolfo II (1575-1612), por muito devoto que pudesse ser, revelou-se um governante fraco e incapaz. Em 1609, o receio de uma rebelião na Boêmia levou-o a conceder aos protestantes a Carta de Majestade, que garantia aos luteranos o direito de praticarem livremente o seu culto. 

Por vários anos antes de se tornar imperador, Rodolfo foi, na verdade, um homem solitário e desamparado no palácio Hradschin, em Praga, com mais apego ao seu leão domesticado "Ottokart", do que a qualquer ser humano. A maior parte dos seus territórios já era governada pelo irmão mais novo, Matias, que se tornou imperador em 1612. 

Matias não estava muito além, quanto a capacidade, acima de Rodolfo. Era dominado pelo antipático cardeal Khlesl, que logo manifestou a tendência germânica da sua política, tentando fazer de Viena, em vez de Praga, o centro do governo imperial. Tornou-se mais difícil assim administrar a Carta da Majestade, e mais especialmente ainda porque ela nunca protegera os direitos dos dois outros importantes grupos protestantes, os calvinistas e os irmãos boêmios. 

O arquiduque Fernando, herdeiro do imperador, que foi eleito rei da Boêmia em 1617 com a aprovação de seu primo, jurou respeitar a Carta de Majestade. Com o fortalecimento dos Habsburgos, o sentimento anti-Habusburgo na Boêmia, sempre antigermânica e eslava na índole, na raça e na literatura, atingiu uma elevada temperatura. 

Em março 1618 um decreto imperial proibiu as reuniões protestantes. Em 22 de maio, um nobre calvinista, Henrique Matias de Thurn, mais dois companheiros, Ruppa e Felz, entraram à força no palácio Hradschin, onde se encontraram com os regentes imperiais, Jaroslav e Martinitz e Guilherme Slavata. Após violenta altercação, os rebeldes agarraram nos dois homens e atiraram-nos pela janela, juntamente com o secretário, Fabricius. 

Os homens foram jogados de uma altura de 15 metros, estatelando-se no pátio. Um espectador gritou-lhe: "A vossa Maria que vos salve, se é capaz", e depois, quando Martinitz se arrastou para fora dali, exclamou: "Deus meu, e salvou mesmo!" 

As consequências deste incidentes dramático, mas em si próprio insignificante, foram tremendas: tornou inevitável uma revolta da Boêmia e provável uma guerra europeia (a Guerra dos Trinta Anos).      
  
Bibliografia consultada: GREEN, V. H. H. Renascimento e Reforma - a Europa entre 1450 e 1660. Tradução de Cardigos dos Reis. Lisboa: Dom Quixote, 1991, p. 333-334.

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