segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020
Uma pergunta acerca do Talmude, c. 1860-1871, pintura sobre painel de Carl Schleicher (1825-1903).
Raros são os autores que tentaram tornar acessível o raciocínio talmúdico ao público cultivado europeu. Remetemos àqueles que a questão interessa ao antigo, mas até hoje inigualado, estudo do filólogo Arsène Darmesteter ("Le Talmud", in Reliques scientifiques, Paris, 1950). Ad usum populi, o seguinte apólogo pode servir para ilustrar a ideia de que o raciocínio talmúdico é, em última análise, um exercício de bom senso:
Um goi insistia junto a um talmudista para que este lhe explicasse o que é o Talmud. O sábio acabou por consentir e coloca ao curioso a seguinte questão:
"Dois homens descem por uma chaminé. Quando saem dela, um tem o rosto coberto de fuligem; o outro está imaculado. Qual dos dois irá se lavar?
- Aquele que está sujo, responde o goi.
- Não, pois aquele que está sujo vê o rosto limpo do outro, e acredita que o seu também o está...
- Compreendi!, exclama o goi. Começo a compreender o que é o Talmud...
- Não, não compreende absolutamente nada, interrompe o rabino. Pois como queres que dois homens que desceram pela mesma chaminé, um esteja limpo e o outro sujo?"
POLIAKOV, Léon. De Cristo aos Judeus de Corte. Tradução de Jair Korn e J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva: 1979, p. 215.
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