domingo, 22 de novembro de 2020
Uma mulher turca, sem o véu e com roupas ocidentais, logo após as reformas de Kemal Atatürk. Ao fundo, a Hagia Sophia.
"Para muitos reformistas, o rompimento com o modelo tradicional tinha que ser total. Geralmente começava com um ataque ao modo como as pessoas se vestiam e se barbeavam. Pedro, o Grande, obrigou os boyars, ou aristocratas rurais, a raspar a barba e os sacerdotes a proferir sermões sobre as virtudes da razão. Mas isso era pouco quando comparado a Kemal Atatürk, que jurou em 1917 que, se algum dia chegasse ao poder, mudaria de um só golpe a vida social na Turquia. E, em 1923, deu início a seu projeto. A indumentária oriental, geralmente portadora de um significado religioso, foi abolida. As mulheres não mais podiam usar véu e, como os líderes japoneses da Era Meiji, ele incentivou bailes sofisticados e outras formas de entretenimento à moda ocidental. Como os japoneses, acreditava que o estilo ocidental era essencial para se tornar uma nação moderna.
Se roupas e penteados são sinais superficiais de mudança, a demolição dos 'muros monásticos', para usar outra metáfora de Weber, era considerada por muitos, inclusive Karl Marx, como um ingrediente essencial para a modernização. Novamente, Atatürk oferece-nos um bom exemplo. Alegando que 'a ciência é o mais confortável guia da vida', ele implementou um sistema de educação secular e fechou todas as instituições que tinham por base a lei canônica muçulmana. No governo de Atatürk, o secularismo tornou-se uma outra forma de fé dogmática."
BURUMA, Ian & MARGALIT, Avishai. Ocidentalismo - O Ocidente aos olhos de seus inimigos. Tradução de Sérgio Lopes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2006, p. 112-113.
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