terça-feira, 24 de novembro de 2020
No dia 26 de abril de 1986, ocorreu a explosão de um reator de Chernobil, na então Ucrânia soviética. Essa fotografia aérea mostra os danos na usina.
Murray Feshbach e Alfred Friendly observam em seu importante livro Ecocide in the USSR que a poluição foi parcialmente responsável pelo aumento da mortalidade infantil na União Soviética até níveis só encontrados em países do Terceiro Mundo e em algumas cidades americanas. Os autores concluíram que "embora os vínculos entre a agressão ambiental e a doença permaneçam inevitavelmente mais presumidas que provadas, existe pouca dúvida a respeito do volume da poluição. Poucas áreas industrializadas da União Soviética estão livres de risco ambiental, e algum tipo grave de condição ecológica prevalece em 16 por cento do território do país, onde vive um quinto da população."
O que Feshbach e Friendly documentam em termos de poluição ambiental foi um legado da atitude bolchevique com relação à natureza. Neste, e em muitos outros aspectos, os bolcheviques seguiram fielmente a Marx. Na melhor das hipóteses, eles viam a natureza como um recurso a ser explorado para os objetivos do homem, e, na pior, como um inimigo a ser conquistado. A atitude ocidental semelhante à de Prometeus diante do mundo natural serviu de base às políticas soviéticas durante a vida do regime. Foi também uma das causas de seu colapso.
A lenta reação da liderança soviética ao desastre de Chernobil foi o gatilho para os primeiros movimentos políticos populares na União Soviética. Esses movimentos ambientalistas mobilizaram amplas coalizões em torno da oposição a grandes projetos de construção de barragens na Sibéria. Junto com os movimentos nacionalistas no "exterior próximo" da União Soviética, foram estes movimentos ecológicos de massa, muito mais que as divergências intelectuais, que se constituíram no catalisador interno para o colapso soviético.
Adaptado de GRAY, John. Falso Amanhecer - os equívocos do capitalismo global. Tradução de Max Altman. Rio de Janeiro / São Paulo: Record, 1999, p. 194-195.
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